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Quando pôs os pés em Portugal, Ludmilla Blaschikoff, de 26 anos, tropeçou na língua. Mas não demorou para que a jovem, de Manaus, se acostumasse ao chiado do sotaque lusitano. Quatro anos após cruzar o Atlântico, a estudante, uma das primeiras brasileiras a entrar em um curso superior no país com a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), comemora o fim da graduação em Biologia e já engatou um mestrado.
Ludmilla viu os corredores da Universidade de Coimbra, onde fez a licenciatura, se encherem de conterrâneos. “No início, os portugueses tinham mais curiosidade de conversar comigo porque não era comum ter brasileiros na universidade. No último ano, já não via muito esse interesse.”
A percepção da jovem pode ser traduzida em estatísticas. Em três anos, o número de brasileiros em cursos de graduação em Portugal cresceu 31%, segundo dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, órgão do governo português. No ano letivo de 2016/2017, último dado disponível, foram 4.901 ingressantes brasileiros em instituições de ensino superior portuguesas para licenciaturas (como são chamadas os bacharelados) ou mestrados integrados (cursos de 5 anos, como os de Engenharia e Arquitetura).
O número só não é maior do que o registrado no ano letivo de 2012/2013, quando o Brasil, que ainda não estava em crise, exportou centenas de estudantes ao país pelo Ciência sem Fronteiras, do governo federal. Em 2013, Portugal foi excluído do programa, o que fez com que o número despencasse. Hoje, brasileiros são maioria entre estrangeiros em Portugal - mais até que os vizinhos espanhóis.
A facilidade de ingresso - com a nota do Enem - ajuda a explicar o fenômeno. Em 2014, um decreto português passou a regulamentar a entrada de estudantes estrangeiros para cursos completos de graduação no país. E, depois disso, o Brasil faz parcerias com universidades de Portugal para que o desempenho no exame seja usado como critério de seleção.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), hoje 31 instituições portuguesas consideram a nota do Enem em pelo menos parte do processo de seleção e outras sete pleiteiam o acordo. Desde 2014, mais de 1,8 mil usaram o teste para se tornarem alunos de graduação no país europeu.
A tradicional Universidade de Coimbra, a portuguesa com mais brasileiros, celebra. Joaquim Ramos de Carvalho, vice-reitor para relações internacionais, diz que a presença de estrangeiros enriquece a vivência universitária. “É estratégico ter uma população estudantil internacional residente. (Quem estudou na) universidade nos últimos quatro anos teve oportunidade de encontrar estudantes de 126 países diferentes, 9% deles brasileiros.”
Para Luis Ferreira, vice-reitor da Universidade de Lisboa para relações internacionais, o convênio com o Enem “promoveu maior exposição do ensino superior português no Brasil.”
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Oportunidade. Aluno do 3.º ano do Colégio Etapa, na zona sul de São Paulo, Lucca Pagnan, de 17 anos, quer estudar Engenharia no exterior e coloca Portugal no topo da lista de preferências. “Lá, consigo usar uma prova de fácil acesso, que é o Enem, para ter qualidade de vida e de ensino.” Antes mesmo de fazer o exame, ele estuda os sites das instituições e participa de feiras organizadas pelo colégio. “Quero entrar na Universidade do Porto”, conta.
O idioma, a menor duração dos cursos - alguns levam só três anos - e a porta de entrada para o mercado de trabalho na Europa também motivam brasileiros a migrar. E, apesar de haver cobrança de anuidades mesmo nas universidades públicas em Portugal, o curso pode sair mais em conta do que uma faculdade particular brasileira.
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Um ano de um curso de Engenharia no Brasil, por exemplo, custa, em média, R$ 13,3 mil, segundo o Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior. Em faculdades de ponta de São Paulo, o valor sobe para R$ 30 mil. Já na Universidade do Porto (U.Porto), onde Lucca quer estudar, a anuidade é de 3 mil euros (R$ 12,7 mil).
A U.Porto dá 50% de desconto para brasileiros, mas há instituições que cobram até o triplo para quem não é da União Europeia. O brasileiro com cidadania de um país do bloco tem direito ao valor mais baixo.