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Dicas e curiosidades sobre animais

Gato quieto é sinal de alerta

Felinos tendem a reduzir sua movimentação em função da dor, que pode ser provocada pela doença articular degenerativa (DAD)

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Foto do author Luiza  Cervenka
Gatos são campeões na arte de esconder dor - Rick Cameron/Creative Commons  

Sabe aquela máxima de que gato é preguiçoso, dorme muito, não gosta de fazer exercício? Tudo besteira! Sim, gatos amam dormir, mas excesso de preguiça ou de sono pode e é um sinal de alerta!

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Gatos são animais caçadores. Mesmo dentro de um apartamento, com ração super premium e sachê de qualidade, eles ainda precisam de atividades que simulem a caça. Seja tentar pegar um passarinho em vão, um mosquitinho ou o seu calcanhar. Além disso, gatos se sentem confortáveis e seguros em locais elevados. Eles amam ter controle do ambiente e uma prateleira ou até geladeira são ótimas opções (o ideal é gatificar o ambiente, mas esse tema é para outro post).

E foi exatamente a mudança desses dois comportamentos naturais que chamou muito minha atenção com meus gatos.

Costumo deixar três potes de ração na gatificação. Cada um em um "andar". Alguns mais baixos e outros mais altos. Eis que ao passar de alguns dias, somente os potes bem baixos que estavam acabando. O mais alto, que normalmente era usado por todos, parecia intacto. Além disso, o gato mais brincalhão, o Doritos, já não parecia se interessar por tanto tempo nas brincadeiras com varinhas. Ixi! Alguma coisa tem!

Sim, meus gatos estavam com dor.

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Diante da dor, segundo o médico-veterinário especializado em dor, Rodrigo Mencalha, cães e gatos têm comportamentos distintos. "Os cachorros se movimentam, ainda que de forma precária. Já os felinos adotam a lei do menor esforço, como se pensassem 'se está doendo, para que vou me mexer?'. Assim, eles encurtam seu movimento, evitam subir em estruturas mais altas e, de maneira geral, ficam mais quietos" explica.

Uma das doenças mais comuns em gato, que gera bastante dor, é a doença articular degenerativa (DAD), também é denominada osteoartrite e popularmente conhecida como artrose. "Embora esteja mais presente em animais idosos, estimativas dão conta de que 90% dos animais com mais de 12 anos possuem o problema e que felinos jovens também podem sofrer da enfermidade" pontua Mencalha. Vide meu Doritos, que nem é tão velho assim e está cheiro de artrose.

A artrose é o desgaste das cartilagens nas articulações, que tem como principal sintoma a dor crônica, provocando grande sofrimento. Nos felinos, as áreas mais atingidas são ombros, joelhos, cotovelos, quadris, a parte posterior das costas e os cotovelos, que equivalem aos calcanhares em humanos.

Segundo Mencalha, a DAD é a doença crônica mais prevalente entre os gatos, mas nem todos os tutores conseguem perceber seus sinais, o que atrasa o início do tratamento, e quando o tutor percebe a enfermidade, ela está avançada.

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Nos meus gatos é mais fácil perceber pela mudança de comportamento. E no caso de uma cliente, a Cacau, no auge dos seus três anos, a gata sobe desce, pula, brica sapateia e ri da dor? Mesmo novinha, a bichinha tem artrose severa no quadril, mas não está nem aí! O único sinal é que ela tem pouca paciência com outros gatos e a qualquer sinal de aproximação, ela já desde a pata. Inclusive foi por isso que eu fui chamada. Como tratar? Fazendo fisioterapia e com medicação para dor. Obviamente que eu passei todo um treino, modificação comportamental e manejo ambiental. Mas sem tratar a dor, não teríamos melhora no comportamento.

Cacau é super animada, mesmo com muita dor - Foto: Luiza Cervenka

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Por isso, é fundamental que o tutor seja muito observador sobre as características de seu pet, comportamento, hábitos e doenças mais comuns. Só assim poderemos identificar sinais precoces dessa e de outras enfermidades, e poupar os pets de sofrimento desnecessário. "Essa é uma das razões que motivam a minha militância na área de educação em dor" confessa Mencalha e continua "o diagnóstico no gato é uma soma das manifestações clínicas, dos achados no animal e da observação do tutor. Sem o tutor, não conseguimos chegar ao diagnóstico antecipado".

O que devo prestar atenção no meu gato para saber se ele está com dor?

  • dificuldade ou hesitac?a?o para subir ou descer escadas, móveis ou gatificação; caminhar com lentida?o;
  • diminuic?a?o na atividade de pulos, na?o conseguir pular ta?o alto quanto antes ou precisar de um outro móvel para subir (uma cadeira para subir na mesa, por exemplo);
  • corpo mais ri?gido;
  • animal menos ativo e brincalha?o;
  • comportamento mais fechado, evitando contato ou maior depende?ncia;
  • reduc?a?o ou excesso de autolimpeza em uma a?rea dolorida, o que pode ter como consequência aparecimento de caspa ou nós;
  • agressividade quando manipulado ou com outro animal;
  • eliminac?a?o inapropriada (na?o usa a caixa de areia para urina e/ou fezes).

O que fazer para que o gato não venha a ter dor?

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Segundo Mencalha, a literatura veterinária não apresenta de forma clara o que pode ser feito para evitar ou retardar o surgimento da osteoartrite, porém é sabido que certos hábitos podem antecipar ou agravar a doença.

"Embora não haja estudos que comprovem a relação entre sobrepeso e dor nas articulações dos gatos, é recomendável evitar o ganho de peso" pontua Mencalha. Mas se pensarmos que o excesso de peso sobrecarrega as articulações e ainda gera processos inflamatórios no corpo, podemos logo criar uma relação entre a obesidade e dor articular. Ainda mais em gatos mais velhos.

Enquanto os gatos selvagens correm, caçam, se escondem, os nossos reizinhos domesticados têm tudo a mão, mas pouco do seu comportamento natural é atendido. Há um conflito entre espécies aí, quando eu quero minha casa linda e bem decorada, mas o gato precisa de locais verticalizados, arranhadores, fontes, espaços para relaxar, banheiros apropriados, espaço respeitado (mesmo quando estivermos carentes) e rotina muito bem estabelecida. Em culpa, ou como uma forma de barganhar atenção, damos petiscos, e lotamos o portinho de comida. Como que esse felino, antes selvagem, vai conseguir manter seu corpo esbelto?

Tudo isso pode trazer complicações, em geral, para a saúde do animal.

A melhor forma de prevenir a obesidade felina, canina, humana, é exercício + alimentação de qualidade da quantidade certa. Não tem segredo. Por isso, estimule seu pet a brincar. Pese a alimentação e deixe em um local elevado para estimular o movimento. E se qualquer comportamento mudar, já sabe, né?!

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Tratamento e controle da dor em gatos

A dor crônica não tem cura (calma!), mas tem controle.  O animal não precisa sentir dor todos os dias, mas ele terá crises ao longo da vida.

Segundo Mencalha, a dor crônica pode se manifestar de três formas diferentes:

  • dor todos os dias;
  • dor todos os dias, intercaladas com crises de dores mais intensas;
  • dor recorrente, quando o animal não tem dor todos os dias, mas as crises ainda podem acontecer.

"O melhor cenário é o da dor recorrente, na qual o gato pode ficar dias, semanas e até meses sem dor, e a crise geralmente acontece por falta de medicação, por exagero nas suas atividades físicas ou ainda em decorrência de dias mais frios.

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A gestão da crise da dor é diferente da gestão da doença. O tratamento farmacológico serve para o alívio da dor. A dor crônica é tratada com medicamentos e técnicas não medicamentosas. Na terapia farmacológica são aplicados medicamentos de ação rápida para a fase inicial e, para a gestão das crises, por exemplo, os anti-inflamatórios. Há também os medicamentos de ação mais lenta, que são utilizados continuamente e visam controlar os sintomas da doença, como os nutracêuticos e suplementos alimentares, amantadina e gabapentinoides" explica Mencalha.

Agora, dizem que uma nova medicação está para chegar no Brasil e vai mudar a vida dos gatos! Não sei se de todos, mas os com artrose, com certeza. Estou contando os dias para testar em todos lá de casa.

O frunevetmab (Solensia®) é um anticorpo monoclonal anti-NGF, que atualmente é considerado a primeira escolha no tratamento da osteoartrite felina. Esse medicamento reduz a quantidade de NGF (do inglês Nerve Growth Factor - fator de crescimento neural), o que resulta em alívio da dor.

Mas Mencalha destaca que, por mais que seja possível aliviar a dor com medicamentos, o animal PRECISA de reabilitação física. "Os movimentos disfuncionais adquiridos, para se proteger da dor, cursam com intensas alterações na sua biomecânica corporal. Assim, a fisioterapia tem papel relevante para a qualidade de vida dos pets nessa condição" finaliza.

Se você acha que seu gato pode estar com dor, leve imediatamente a um médico veterinário especialista em felinos ou especialista em dor. Não deixe para depois. Não é porque eles não demonstram que eles não sentem. O bem-estar dos felinos também é nossa responsabilidade

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Ah, e assim que a medicação chegar ao Brasil e eu testar nos meus pequenos, eu venho aqui contar toda minha experiência.

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