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Direto de Paris, um olhar para a moda sem fronteiras

#COMEASYOUARE

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Por Igi Ayedun
Atualização:

 

Dia da consciência negra e sim, vamos falar de moda?

Bethann Hardison@divulgação

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Em 2005 na revista CAPRICHO, tive a missão de falar para milhares de adolescentes sobre a importância da representação e identificação estética - sobretudo étnica - nos meios de comunicação. Oito anos mais tarde, em colaboração para a revista ELLE tive o imenso prazer de entrevistar Bethann Hardison - ativista e pilar do movimento

Diversity Coalition

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que ao lado de Naomi Campbell e Iman contesta a atual escassez da presença de

"Models of Colors

" na indústria da moda.

Riley Montana em editorial da revista W @ Richard Burbridge/divulgação

Para entender, é muito importante frisar que o racismo midiático na moda, seja você fashionista ou não, está ligado à fatores essenciais e comportamentais de representação, identificação e associação que influenciam diariamente a vida de todos nós. Basicamente o termo representação significa a ideia que temos do mundo, dentro da esfera filosófica (e psicológica) ele também se transforma na verdade que conhecemos e como nós vivemos de acordo com os nossos referenciais - criados a partir do representativo - construímos assim, conceitos sobre o certo e o errado, grande e pequeno, verdadeiro e falso, bonito e feio... E nossa! Acabo de conseguir citar Kant, Hegel, Jaspers, Schopenhauer e Platão em um parágrafo.

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Jourdan Dunn na capa da revista inglesa I-D @ divulgação

Felizmente, venho de uma familia de militantes do movimento negro, meu pai foi um dos diretores da Fundação Palmares, brigou muito pela lei desse feriado aí e passou a vida lutando por políticas públicas de inclusão no Brasil e na África. Minha mãe é igualmente genial, mas para não perder o fio da meada Moda e Beleza, vou te contar que cresci no meio da minha própria coleção de Barbies Negras enviadas direto da terra do Tio Sam, nos anos 90 sem e-commerce.

Joan Smalls na campanhade inverno 2014 da Missoni @ divulgação

Hoje, agradeço profundamente. Meus pais eram muito conscientes sobre o fato de que a imagem do negro no Brasil através da mídia não correspondia aos valores educacionais que eles prospectavam para a minha criação, eles sabiam que além da importância de eu entender Mandela, Malcolm X e Martin Luther King existia também um ponto vital diretamente ligado à minha auto-estima e amadurecimento psicológico que deveria ser igualmente estimulado. Traduzindo, desde pequena eu deveria ter a certeza de que sou bela, inteligente e me reconhecer como tal.

Julia Sarr Jamois, editora de moda sênior da revista I-D @ Tommy Ton/Style.com

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Mas essa tal beleza não deveria ser proveniente da imagem sexista da Globeleza ou das "musas" do fotógrafo Jean Paul Goude que lida com a anatomia afro-descendente quase como

freak show

. Aproveitando que moda e feminismo se casaram no último desfile da Chanel, por quê não pensar em como a figura da mulher negra é representada através dos séculos? E como isso preenche o imaginário das pessoas no cotidiano? Pois é... A verdade é que essa tal beleza deve nascer do reconhecimento e orgulho do cabelo crespo, nariz largo e tom de pele. Mas sem ter objetos suficientes de identificação e associação fica dificil, né?

Rihanna na capa da revista ELLE Norte- Americana exibindo seus cabelos naturais @ 

divulgação

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A moda possui papel crucial nessa dinâmica, é praticamente um serviço social. Não estou falando apenas de uma movimentação negra e nem afim de inverter conceitos de segregação, mas sim da conscientização da sociedade como um todo para todas as cores. Sabe a hora de conceitos prontos como"Cabelo ruim", "Negro bonito de traços finos" e o "Você nem é tão escura assim" caírem por terra? Isso mesmo, já vai tarde. O ponto é: A geração #comeasyouare do

plus size

e da beleza sem photoshop que vem ganhando mais espaço na moda internacional deve também ser incorporada na questão racial, isso seria uma completa revolução da estética.

Emanuela de Paula na capa da revista Vogue Brasil @ divulgação

Sei que o Brasil tem as suas top pupilas negras como Ana Bela, Emanuela de Paula, Lais Ribeiro, Carmelita, Samira, Anne Barreto e Gracie Carvalho. A Vogue Brasil, que há muito tempo cultua Naomi Campell também realizou edição especial em ode à beleza negra. A new face Mariana Calazans é o atual rosto da campanha de Alexandre Herchcovitch. Mas apesar de tudo, infelizmente ainda existem castings vazios de diversidade e publicações que levam décadas de existência para coroar uma afro-descendente com aquela boa e velha capa de revista.

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Yves Saint Laurent e uma de suas musas Rebecca Ayoko @ arquivo YSL

Ainda não assisti o filme Saint Laurent, de Bertrand Bonello. Mas no primeiro longa de Jalil Lespert nada se falou do amor de Yves Saint Laurent pela beleza de ébano e sobre o fato de ele ter sido um dos primeiros estilistas a incluir modelos negras em seus castings, seguido de Gianfranco Ferré antes de Raf Simons imaginar um dia comandar a Dior.

Donyale Luna, a primeira modelo afro-descendente capa da Vogue Inglesa @ divulgação

Já ouvi, enquanto trabalhava no Brasil, editora de moda me dizer que não tinha certeza de que uma modelo negra representaria tão bem os anos 60. Naquela hora, tive a certeza de que Diana Vreeland se revirou no túmulo! Uma vez que foi ela a principal responsável pelo sucesso de Donyale Luna - musa de Richard Avedon - e um pouco mais tarde, a grande disseminadora do movimento "Black is beautiful" no mundão fashion.

Mariana Calazans na campanha de Alexandre Herchcovitch @ divulgação

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Apesar da luta vigente de Bethann Hardison e seu manifesto que acusou dezenas de designers do eixo Nova York, Londres, Paris e Milão como racistas, por possuírem de 0 a 1 modelos negros em seus desfiles, eu ainda vejo diversos sinais de evolução ressuscitados pelo stylist Edward Enninful e Franca Sozzani em 2008 com a épica "Black Issue" da Vogue Itália dedicada inteiramente para ícones como Naomi Campbell e Lyia Kebede, e também revelando uma nova geração de black beauties. Entre elas Jourdan Dunn e Sessilee Lopez.

Campanha de inverno 2014 da Balmain @ divulgação

Joan Smalls se manteve durante muito tempo como top número 1 no almejado ranking do Models.com. Riccardo Tisci - diretor criativo da Givenchy - e Olivier Rousteing - da Balmain - atuam fielmente como justiceiros da causa através da arte do vestir, dedicando campanhas e desfiles à beleza multi étnica e atribuindo à ela sinônimos de luxo, sofisticação e estilo. Até mesmo a Prada resolveu encarar de frente o sinal dos tempos escolhendo a modelo Malaika Firth para estrelar sua campanha depois de um hiato de 9 anos - onde apenas Naomi tinha ocupado o posto. E ainda, não contente Miuccia revelou para a moda Lupita Nyong'o - uma das garotas Miu Miu.

 Riley Montana e Maria Borges na campanha de verao 2014 da Givenchy @ divulgação

O "Fenômeno Lupita" é, inclusive, um dos fatos que sustenta completamente tudo que você leu até aqui. Afinal a atriz hoje considerada a mais bela e a mais bem vestida levantou a bandeira da #issomerepresenta ao admitir em um discurso que durante sua infância rezava para que Deus pudesse clarear a sua pele até o dia em que viu a modelo Alek Wek e o quanto a beleza dela era ovacionada, " Nesse momento eu aprendi que beleza não é algo que compramos, ou comemos e sim, o que somos."

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Lupita Nyong'o na campanha da Lancôme @ divulgação 

Reabrindo além de tudo, uma outra faceta do debate sobre a frustrante prática (infelizmente ainda corrente) do embranquecimento da pele e escancarando as portas para que Solange Knowles fosse a noiva mais chique que já vimos nos últimos tempos e sem chapinha! #Comeasyouare, esse é o look.

Solange Knowles em seu casamento @ divulgação 

 

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