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Opinião | Mortes, ataques e impunidade: as lições que não aprendemos sobre violência no futebol

Elenco do Fortaleza foi alvo de membros de organizada do Sport há pouco mais de um ano e voltou a temer por sua integridade em jogo com o Colo-Colo na Libertadores

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Foto do author Marcel Rizzo

Em pouco mais de um ano, o elenco do Fortaleza temeu duas vezes pela integridade física. Um ataque ao ônibus da delegação com pedras e até uma bomba caseira por membros de organizada do Sport, após um jogo no Recife, feriu seis atletas em fevereiro de 2024.

Na quinta-feira, pela Copa Libertadores, o confronto contra o Colo-Colo, em Santiago, não terminou após invasão ao gramado de torcedores chilenos. A imagem dos atletas do Fortaleza correndo para o vestiário, por medo de apanhar, circulou ontem mundo afora.

Torcedores do Colo-Colo destruíram parte da barreira que separa arquibancadas do campo e invadiram o gramado. Foto: Javier Torres/AFP

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Marcelo Paz, CEO do clube brasileiro, espera uma punição exemplar ao Colo-Colo e que o Fortaleza ganhe os pontos da partida. O problema é que, historicamente, medidas rigorosas nesses casos não são regra, mas exceção. No ataque em Pernambuco, a pena imposta pelo tribunal desportivo foi de quatro jogos do Sport sem a presença dos organizados.

Em 2012, um garoto torcedor do San José, da Bolívia, morreu dentro do estádio em Oruro atingido por um sinalizador arremessado pela torcida do Corinthians. A primeira decisão imposta pela comissão disciplinar da Confederação Sul-Americana de Futebol foi a de proibir torcedores em todos os compromissos do time brasileiro naquela Libertadores.

Poucas semanas depois, a pena “diminuiu” e a limitação ficou restrita a partidas como visitante. Doze corintianos ficaram meses presos na Bolívia, até que um integrante de uma organizada, menor de idade, assumiu a autoria do disparo.

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A punição ao “CPF”, com responsabilização criminal e cível para as pessoas que tenham problemas relacionados ao futebol, não pode diminuir a importância de ações desportivas às agremiações com as quais os criminosos estejam identificados.

Na Europa, os hooligans ingleses causaram a morte de dezenas de torcedores italianos em um Liverpool x Juventus, em meados dos anos 1980, pela final da Champions League. Todos os clubes ingleses ficaram cinco anos sem disputar torneios continentais. Os hooligans não deixaram de existir, mas a violência na Inglaterra, ou mesmo em jogos como visitantes, diminuiu.

Este é só um dos exemplos de que a sanção desportiva pode educar na marra. Como a lei é frouxa em diversos países, atos violentos e criminosos ligados ao futebol muitas vezes não resultam em prisão, incentivando a reincidência. A solução deve ser punir o que essa pessoa goste muito, o seu time.

A pena ao Colo-Colo deve ser anunciada na semana que vem, provavelmente portões fechados e multa. Os pontos podem ficar para o Fortaleza.

Opinião por Marcel Rizzo

Formado em jornalismo pela PUC-Campinas foi repórter e editor no Diário Lance, repórter no GE.com, Jornal da Tarde, IG e Itatiaia, colunista na Folha de S. Paulo (Painel FC) e no UOL. Cobriu in loco três Copas, quatro Copas América, Olimpíada, Pan-Americano, Copa das Confederações, Mundial de Clubes e finais de diversos campeonatos.

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