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Osmar Santos, o pai da matéria, fará primeira exposição de suas pinturas no Instituto Gustavo Rosa

Obras do locutor, que teve de parar de narrar futebol após acidente de carro em 1994, estarão à venda entre os dias 21 e 30 de setembro; ele é sempre lembrado nas narrações esportivas de seu irmão, Oscar Ulisses

Por João Coelho
Atualização:

O Instituto Gustavo Rosa (IGR) vai realizar uma exposição das obras de Osmar Santos, ex-locutor esportivo e dono de bordões inesquecíveis no futebol. A mostra ocorrerá entre os dias 21 e 30 de setembro e contará somente com pinturas do “pai matéria”, apelido pelo qual também ficou conhecido no meio esportivo. Osmar começou a se dedicar às telas após o acidente de carro sofrido em 1994. A batida o deixou com sequelas na fala e nos movimentos do corpo que o impediram de continuar a carreira como narrador. Desde então, ele requer atenção dos familiares.

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“Ele se encontrou na pintura”, conta Oscar Ulisses, irmão de Osmar e narrador como ele com passagens pela Rádio Globo, Rádio Bandeirantes e, atualmente, na CBN. “O que começou como uma terapia, para ele ter um canal de comunicação com o mundo, se transformou em uma forma de ele tocar a vida”, complementa. Em suas narrações esportivas, Oscar sempre se lembra do irmão, a quem chama de ‘eterno chefe’.

A abertura da exposição vai ter a presença de Osmar Santos, de 74 anos, e acontecerá de segunda a sexta, sempre das 10h às 18h, e aos sábados, das 10h às 14h. Na data de estreia da mostra, dia 21, haverá um coquetel para convidados e imprensa das 18h às 22h. Osmar estará recebendo seus convidados, amigos que o acompanharam na carreira e os familiares. Mesmo após o acidente, Osmar Santos nunca tirou do rosto seu sorriso inocente e de apaixonado pela vida. Ele se locomove em uma cadeira de rodas adaptada.

Osmar Santos com suas pinturas Foto: Roberto Rosa

O Instituto Gustavo Rosa está localizado na Rua Veneza, no bairro do Jardim Paulista, na cidade de São Paulo. Na mostra, serão expostas e colocadas à venda 12 pinturas do locutor, cada uma será comercializada por cerca de R$ 3.500,00. “Nós somos uma instituição cultural que tem como finalidade não apenas preservar o acervo que o Gustavo Rosa deixou, mas também iluminar a vida cultural da cidade. O Osmar merece todo nosso respeito e o nosso apoio”, pontua Roberto Rosa, irmão de Gustavo e presidente do IGR.

Gustavo Machado Rosa foi pintor, desenhista, gravador e artista plástico. Autodidata, nasceu em 20 de dezembro de 1946, na cidade de São Paulo. Ele começou a pintar ainda na infância. Suas obras são “são brasileiras e universais” e contam a realidade irônica e poética dos objetos pintados. Elas não necessitam de legendas. Significam a postura do artista diante da vida. Muito a ver com o trabalho de Osmar Santos.

Para o eterno locutor, a pintura reflete uma busca por superação. “Em cada quadro dele tem ali inserido um reflexo da sua luta pela sobrevivência e por deixar a vida menos pesada do que aquilo em que ela estava se tornando depois do acidente. Tem ali muito de superação, de alegria de viver, de buscar caminhos”, diz Oscar Ulisses.

Em função das sequelas causadas pelo acidente de carro, Osmar perdeu os movimentos do lado direito do corpo e, por isso, pinta apenas com a mão esquerda. Suas pinturas são realizadas com uma técnica que mescla o uso de tinta acrílica com tinta óleo, aprendida com o professor Rubens Matuck. Ele acompanha e dá aulas a Osmar há mais de 15 anos e conta que o ex-locutor é “um dos principais alunos de sua vida”.

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Osmar trabalhou como narrador nas rádios Jovem Pan, Record e Globo. Ao longo de sua carreira, também colaborou com as TVs Record, Manchete e Globo. Quando foi para a Rádio Record, em 1988, a emissora fez uma propaganda no Estadão que deixava nítido o apelo de Osmar Santos entre os ouvintes, chamando o locutor de “o campeão de audiência” e “o preferido e mais ouvido entre todas as torcidas”.

Publicidade do programa de Osmar Santos na Rádio Record, no Estadão de 02/08/1988. Foto: Acervo/Estadão

Ele se notabilizou como uma das vozes mais marcantes do futebol brasileiro, com bordões que ficaram marcados na história. Entre eles estão “Parou por quê, por que parou, garotinho?”; “Eee queee goooollll”, com as vogais alongadas para narrar quando a bola estufava as redes; e o clássico “Ripa na chulipa e pimba na Gorduchinha”. Seus companheiros da época eram pesos pesados na narração, como Fiori Gigliotti e José Silvério, para citar apenas dois.

Houve, inclusive, uma tentativa de dar como nome oficial à bola da Copa do Mundo de 2014, disputada no Brasil, o apelido carinhoso pelo qual Osmar chamava a redonda: Gorduchinha. A campanha teve o apoio de personalidades importantes no País — como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-apresentador Jô Soares —, mas a adidas não acatou o apelo popular. Em 2014, coube à Penalty criar a bola com o nome em homenagem ao locutor. Ela foi utilizada na Série B do Brasileiro daquela temporada e em alguns campeonatos estaduais, como o Mineiro e o Gaúcho.

Um dos momentos mais marcantes da carreira do narrador, porém, não tem relação com o esporte. Ele participou e apresentou comícios durante o movimento das “Diretas Já” em 1984, que pedia a volta do voto direto para a presidência da República após vinte anos de ditadura militar, e ficou conhecido como “locutor das Diretas”. “O Osmar ficou marcado como uma espécie de símbolo disso. Ele estava em todos os comícios e fazia a apresentação de um jeito muito bem feito. Esse foi um momento especial da carreira dele”, lembra o irmão.

De mãos dadas e braços erguidos (da esq. p/ dir.) Luiz Inácio Lula da Silva, Ulisses Guimarães, Orestes Quércia, Leonel Brizola, Franco Montoro, Tancredo Neves, o radialista Osmar Santos e Fernando Henrique Cardoso, observam a multidão no último comício Pró-Diretas, realizado Vale do Anhangabaú.  Foto: Geraldo Guimarães / Estadão

Osmar também colecionou narrações de partidas marcantes durante o período em que atuou nos microfones. Ele foi a voz da semifinal do Campeonato Brasileiro de 1976, entre Fluminense e Corinthians, jogo que ficou conhecido como ‘Invasão Corintiana’ ao Rio. Deu mais alegrias ao torcedor alvinegro no ano seguinte, quando narrou o título paulista do Corinthians de 1977, que pôs fim a um jejum de mais de 22 anos sem títulos para o clube.

Narrou ainda a conquista do Campeonato Paulista pelo Palmeiras em 1993, primeira do time após 16 anos sem troféus, e o título mundial do São Paulo em 1992, em cima do Barcelona. Foram seis Copas do Mundo com a voz de Osmar no rádio e na TV. Ele narrou os torneios de 1974, 1978, 1982, 1986, 1990 e 1994. A última Copa de Osmar Santos foi quando a seleção brasileira faturou o seu quarto título mundial, o tetra dos EUA, em 1994.

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