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Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|Dorival queria Muricy ao seu lado na seleção, mas isso quebraria o São Paulo na temporada

O convite foi feito já sabendo da resposta: a própria CBF, segundo apuração neste sábado, não tiraria o segundo homem forte do comando do futebol do clube paulista

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Foto do author Robson Morelli
Atualização:

A CBF pretende fazer as vontades do técnico Dorival Júnior de modo a tentar pela quarta vez desde que Tite saiu dar um caminho melhor para o time cinco vezes campeão mundial. Mas nem todas. As cinco estrelas estão apagadas nesse momento, com o Brasil na sexta colocação das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026 e com a passagem de dois técnico e um que nem chegou a aceitar o convite, Carlo Ancelotti, mas foi muito desejado pela cúpula da entidade.

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Os outros dois treinadores foram Ramon Menezes e Fernando Diniz. Ambos não deram em nada. Daí a nova convocação, a de Dorival Júnior, que queria Muricy Ramalho junto com ele. Mas não terá.

As recusas foram em dose dupla. A primeira e mais importante é a do próprio Muricy, que não deixará o São Paulo na mão. A segunda recusa é da CBF. Quem convidou Muricy foi o próprio Dorival, como disse o gerente de futebol tricolor ao ge.com. Veja o que ele disse: “Agora, fui convidado de novo (já tinha sido em 2010). O Dorival me convidou de novo. Eu falei: ‘Dorival, você vai me desculpar, cara, mas já perdemos você. E eu vou sair também? Isso pro São Paulo vai ser um desastre. Eu estando aqui, vou manter o que você deixou pra gente. Vou te representar aqui’.

Muricy Ramalho foi convidado por Dorival Júnior para se juntar ao treinador na seleção brasileira Foto: Daniela Ramiro / Estadão

Ou seja, Muricy mantém seu trabalho de suporte ao novo treinador do São Paulo, Thiago Carpini, recém-contratado. A resposta todos já sabiam, ao menos quem conhece Muricy. Ele é muito comprometido com o que faz, pelo tempo que combinou e pelo dinheiro que aceitou. Não tem conversinha com ele. Muricy sempre foi assim. Eu continuo achando que é um desperdício para o futebol brasileiro não tê-lo à beira do gramado como antes. Mas a decisão de fazer outra coisa pertence a ele. Temos de aceitar.

Nos bastidores da CBF, o presidente Ednaldo Rodrigues falaria “não” a Muricy também, e pelo mesmo motivo alegado pelo profissional do São Paulo. Ednaldo não concorda em “arrebentar” o tricolor com a convocação primeiramente de Dorival e depois de Muricy. Ele tiraria do time de Julio Casares os dois principais profissionais do futebol. Isso levaria o São Paulo para a estaca zero após uma temporada ajeitada, com conquistas e a formação de um bom time. Uma coisa é Dorival fazer o convite sem discutir com a cúpula da seleção. Outra é a CBF atender ao pedido.

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A seleção está sem um dirigente e isso faz falta. Juninho Paulista foi o último a ocupar o cargo com Tite. Depois disso, o posto ficou vago, tamanha era a incerteza de tudo. Ainda está vago. Ednaldo não pensou nos detalhes. Olhou para a parte política da entidade e não se deu conta de que o time nacional estava ao deus dará. Agora paga por isso. O cargo de diretor de seleções tem de ser entregue a um profissional acima de qualquer suspeita, experiente, de boa conduta e que saiba o que está fazendo.

Também não é cargo para amigos de amigos nem para amigos de treinador. Dorival tem mais dois meses para montar sua comissão técnica visando a Copa do Mundo. Não penso que o Brasil ficará fora do Mundial. Mas é preciso trabalhar melhor do que vem fazendo. Em março, a seleção tem marcado dois amistosos na Europa, contra Inglaterra e Espanha.

Nem sei se o cargo de diretor pertence ao treinador. Para mim, é muito mais um cargo da presidência do que da comissão técnica. A não ser que Dorival queria Muricy ao seu lado dentro de campo, nos treinos e nas viagens. Aí penso que as funções seriam parecidas.

A CBF já havia recebido recusas antes. É chato, mas não há problemas nisso. Precisa trabalhar melhor e encontrar o cara certo. A entidade vive uma situação de bastidores bastante complicada, uma disputa de outros dirigentes regionais e de antigos presidentes. Disputa pelo poder. Guerra de liminares. Está tudo muito nebuloso. Depois dos amistosos de março, tem uma Copa América para disputar nos EUA, em junho, e a retomada das Eliminatórias em setembro.

Pior do que tudo isso é saber que não há uma seleção brasileira minimamente pronta. Ninguém consegue escalar um time. Há jogadores espalhados por aí que ninguém confia muito. São bons em seus respectivos times, mas não viram nada no Brasil. Dorival, portanto, terá muito trabalho. É mais do que compreensível ele queira Muricy ao seu lado. Mas, infelizmente, não terá.

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Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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