Enquanto em Washington representantes de 47 países debatem formas de conter a proliferação nuclear, Brasil e Irã decidiram fechar, dentro de um mês, um acordo para driblar a pressão das sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas contra Teerã que deve aumentar com a provável adoção de sanções.O entendimento foi alvo de negociações ontem em Teerã, durante o primeiro dia da visita do ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, acompanhado por 80 empresários brasileiros. O ministro deve se reunir hoje com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, para falar também de investimentos nacionais no país.A ideia dos dois governos é estabelecer, até o início de maio, um acordo para permitir linhas de crédito entre os dois países que possam financiar exportações brasileiras ao mercado iraniano. Em grande parte dos casos, exportações são financiadas por bancos privados.Os bancos que oferecem linhas de crédito temem que um maior envolvimento no comércio com o Irã possa ser prejudicial a seus interesses nos EUA. O acordo deve ser fechado nas próximas semanas e assinado durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Irã, em maio.A avaliação do governo é a de que, com uma linha de crédito direta entre os dois países criada pelos bancos centrais, o comércio bilateral possa ganhar novas dimensões.Atualmente, as exportações brasileiras ao Irã chegam a US$ 1,2 bilhão. Mas os iranianos dizem que este número pode ser 40% maior, já que eles consideram que quase metade do comércio entre os dois países ocorre por meio de uma triangulação no porto de Dubai. Do Brasil, portanto, a mercadoria sairia como exportação para os Emirados Árabes. Lá, ela seria enviada a Teerã, reduzindo a visibilidade das empresas que negociam com o Irã. O tema da linha de crédito foi alvo do debate de ontem da comissão criada entre os dois governos para repassar os temas bilaterais. O tema foi tratado pelo secretário executivo do MDIC, Ivan Ramalho, que também faz parte da delegação.Aproximação. Um nova reunião está marcada no Irã ainda nas próximas semanas, antes da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país, marcada para meados de maio.O governo brasileiro alertou as empresas que acompanhariam Miguel Jorge que poderiam sofrer problemas nos EUA, caso fechem negócios em Teerã. Mas a maioria era do setor de alimentos e avaliaram que os riscos seriam pequenos. Prevendo problemas, o Brasil se apressou em dar um tom de que a viagem é puramente comercial.Em um nota, indicou que entre os "itens da pauta das reuniões estão a exportação de bovinos vivos e de maçãs e cooperação em metrologia". O governo também insistiu que o Brasil "não está entre os principais parceiros comercias do Irã, que tem entre seus maiores fornecedores a China, a Alemanha, os Emirados Árabes e a Coreia do Sul". Oficialmente, assessores de Miguel Jorge indicaram que ele optou por não falar de política com seu homólogo no Irã e concentraria suas intervenções na questão do comércio. Mas o governo de Ahmandinejad está também aproveitando a visita para mostrar que não está isolado. Mandou uma mensagem de condolências aos parentes das vítimas dos desabamentos no Rio e a agência oficial de notícias publicou matérias sobre a relação de amizade entre os dois países.Para entenderVendas vão de carne a chassiO Brasil exporta milho em grão, óleo de soja, carne, frango, açúcar, chassi com motor para veículos leves e minério de ferro para o Irã. A lista supera 100 itens, o que inclui ainda autopeças, produtos petroquímicos e celulose. As exportações da carne in natura ao Irã em janeiro somaram 15,6 mil toneladas e superaram em 106% o mesmo mês de 2009.
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