Análise| Entenda em cinco pontos a vitória de Trump na primária de New Hampshire e o que vem pela frente

Trump liderou no Estado com 54% dos votos em relação a 45% da sua única grande oponente, Nikki Haley, que não parece querer abrir mão da disputa tão cedo

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O ex-presidente Donald Trump venceu as primárias republicanas em New Hampshire na terça-feira, 23, fazendo sua segunda declaração importante nos primeiros dois Estados da disputa para a indicação do Partido Republicano para as eleições presidenciais. A vitória parece fechar o caminho para sua única grande oponente, Nikki Haley.

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Trump liderou no Estado com 54% dos votos em relação a 45% da ex-embaixadora da ONU, quando 48% dos votos esperados já estavam contados. O ex-presidente também venceu no caucus de Iowa na semana passada, levando o Estado por 30 pontos.

Haley sinalizou que ainda não desistiria, declarando: “Esta corrida está longe de terminar”. Trump, subindo ao palco mais tarde, chamou Haley de “impostora” e pareceu bravo por ela não ter desistido, enquanto dizia: “Eu não fico muito zangado, eu me vingo”.

Abaixo estão algumas considerações — inclusive de uma primária democrata que o presidente Biden parece ter vencido facilmente.

1. Parece que já chegamos ao fim

Não é uma história nova, mas é verdadeira. Se havia um Estado que parecia ser vencível para alguém que não Trump, era New Hampshire para Haley. E embora ela apareça com uma performance melhor do que nas últimas pesquisas, ela ficou muito aquém de apresentar um argumento convincente de como essa corrida poderia ser competitiva.

As primeiras pesquisas de boca de urna mostraram que quase metade dos eleitores que integravam a primaria eleitoral republicana no Estado não eram republicanos registrados, e 6% deles se identificavam pessoalmente como democratas. O eleitorado também estava mais educado, libertário e pró-direito do aborto do que praticamente qualquer outra disputa significativa do Partido Republicano.

O apoio a Haley veio desproporcionalmente do espectro político moderado — cerca de 7a cada 10 eleitores dela não eram registrados como republicanos, e ela ganhou apenas 11% dos eleitores “muito conservadores” — e esse meio simplesmente não é tão robusto em outros lugares. Os independentes nem sequer podem votar nas primárias de muitos outros Estados.

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O ex-presidente republicano Donald Trump chega para falar na festa de eleições primárias em Nashua, New Hampshire, na terça-feira, 23. Foto: AP Photo/Pablo Martinez Monsivais

Se você estivesse montando um cenário idealista para Haley ter uma chance de pelo menos permanecer na dúvida, você diria que ela poderia apresentar um forte desempenho em seu Estado natal, a Carolina do Sul, no dia 24 de fevereiro. Mas neste momento, as pesquisas sugerem que o Estado está apenas um pouco mais perto de uma corrida nacional que favorece Trump por mais de 50 pontos.

Um mês também é um longo tempo para deixar uma campanha acontecendo sem muito impulso ou crença. Nós temos observado como o Partido Republicano considerou Trump o provável candidato e se uniu a ele, e isso certamente continuará nas próximas horas e dias. Isso também pressionará Haley para que se alinhe, se ela quiser ter um futuro no partido.

2. Eleitores da Haley eram indiferentes em relação a ela, e isso diz algo sobre Trump

Talvez a conclusão mais surpreendente das primeiras bocas de urna tenha sido como o sentimento de muitos eleitores sobre seus candidatos afetaram seus votos. Eleitores de Trump, sem surpresa, endossaram visões favoráveis dele, com 8 em cada 10 expressando motivação.

Mas para Haley, o número era bem abaixo: apenas um terço. Cerca de 3 em cada 10 expressaram algumas reservas sobre ela, e 4 em cada 10 disseram que o voto deles era mais por não gostar dos outros candidatos — ou, mais apropriadamente, do outro candidato.

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Esta é uma crítica bastante contundente a qualquer caminho para a vitória que Haley poderia ter tido. Se ela não consegue fazer com que os eleitores se entusiasmem por ela, ela definitivamente não vai vencer nos vários Estados menos favoráveis que estão por vir. O Partido Republicano não está perto o suficiente de ser anti-Trump o bastante para construir uma candidatura em torno disso.

Mas, quando se trata das eleições gerais, o resultado também diz algo notável sobre Trump — o fato de tantos eleitores que se sentiam “meh” com Haley comparecerem para registrar o que se traduziu em votos de protesto.

New Hampshire é um estado incomum. É menos favorável a Trump do que outros estados-pêndulo, ou seja, aqueles que não têm declarado nenhum candidato como favorito da maioria. Ele perdeu em New Hampshire por mais de sete pontos em 2020, e uma pesquisa recente mostrou Biden conquistando 52% dos votos lá, apesar de uma aprovação de apenas 38%.

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Nikki Haley passa por seus apoiadores em sua festa no Grappone Conference Center em Concord, New Hampshire. Foto: Melina Mara/The Washington Post

Isso reflete, porém, o quão relutante mesmo uma pequena parcela dos republicanos está em votar em Trump, que tem muito trabalho duro para tentar consertar as coisas depois das primárias.

3. Outros números importantes

Algumas outras descobertas que chamaram a atenção nas primeiras pesquisas de boca de urna:

  • Menos eleitores de New Hampshire negaram os resultados das eleições de 2020 (51%) do que os eleitores de Iowa (66%). Isto reforça novamente o quão incomum é o eleitorado de New Hampshire; as pesquisas geralmente mostram que cerca de 6 em cada 10 republicanos rejeitam os resultados de 2020. Mas é preciso considerar também que mesmo entre este eleitorado republicano moderado nas primárias, a maioria é negacionista das eleições.
  • 67% dos eleitores se opuseram a lei federal de banir a maioria ou todas as formas de aborto, comparados a 27% que são favoráveis.
  • 44% dos votantes disseram que Trump não estaria apto para atuar como presidente se fosse condenado por um crime — mais do que os 31% de Iowa. Novamente, isso pode ter implicações maiores para as eleições gerais, mesmo se a vasta maioria desses eleitores acabar se unindo a Trump.

4. As razões de Haley para permanecer são difíceis de compreender

O argumento de Haley para continuar na corrida resumiu-se a ideia de que os republicanos não podem arrisca avançar com Trump por conta de seu fraco histórico eleitoral.

“Uma indicação de Trump é uma vitória para Biden e uma presidência para Kamala Harris”, disse a ex-embaixadora. “O primeiro partido a aposentar seu candidato de 80 anos será o partido que vencerá esta eleição.” (Na verdade, Trump tem 77 anos.) Ela também citou os “momentos sêniores” de Trump, um tema crescente para os oponentes do ex-presidente republicano.

Se quisermos refinar esta mensagem, parece que Haley pretende esperar até que os republicanos cheguem a uma conclusão sobre Trump que teimosamente se recusaram a abraçar. Mas é um argumento difícil de apresentar quando uma forte maioria dos republicanos acredita que Trump não perdeu realmente as eleições de 2020.

Ou talvez Haley apenas queira esperar para ver. Parte motivo pelo qual os adversários de Trump brigam entre si é, sem dúvida, porque esperavam que algum acontecimento futuro — em um dos processos judiciais de Trump, por exemplo—– fosse abalar a corrida.

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Mas isso cada vez parece mais distante do que nunca. Republicanos em geral, veem as questões jurídicas de Trump como uma razão para permanecer ao lado dele. E ainda nem está claro quando ele será julgado em qualquer um dos seus vários casos.

5. A aparente grande vitória de Biden apaga qualquer dúvida

As primárias do Partido Republicano não foram as únicas em que foi proferido um veredito aparentemente decisivo — não apenas para o Estado, mas provavelmente para o resto do calendário.

Os resultados iniciais sugerem que Biden venceria as primárias democratas de forma massiva, apesar de não ter feito campanha no Estado e de seu nome não aparecer nas urnas devido a uma disputa no calendário das primárias.

Tecnicamente falando, nós não sabemos ainda quantos votos Biden tem, porque a grande maioria das cédulas são escritas que não serão contabilizadas por um tempo. Apenas 12% foram alocados para ele até agora. No entanto, isso, somado ao restante dos votos por escrito, levou Dean Phillips a obter 74% contra 21%, sendo provável que uma grande parte desses 74% seja para Biden. A democrata Marianne Williamson ficou com outros 4,4%.

O resultado não é muito surpreendente, mas enviou um forte sinal de que há poucas dúvidas de que Biden ganhará novamente a nomeação democrata. Os futuros Estados em que Biden estiver realmente nas urnas deverão permitir uma melhor avaliação de quantos eleitores democratas estão contra ele.

Análise por Aaron Blake

Washington Post

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