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Faixa de Gaza: entenda o que é e por que ela importa para Israel

Região que já foi ocupada pela Grã-Bretanha e pelo Egito tem 2 milhões de habitantes e é um dos locais mais densamente povoados e empobrecidos do mundo

Por Timothy Bella
Atualização:

Israel está em guerra com o grupo terrorista Hamas, e centenas de civis foram mortos nos últimos dias, desde que o ataque surpresa no sábado, 7, sinalizou uma grande escalada do conflito entre os dois lados e envolveu a região no caos.

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Enquanto imagens e vídeos da devastação chegam de Israel, muitas pessoas também estão observando a violência que se desenrola na Faixa de Gaza, um dos territórios mais densamente povoados e empobrecidos do mundo.

Israel ordenou um cerco à Faixa de Gaza na segunda-feira, 9, com o Ministro da Defesa Yoav Gallant dizendo que não haveria “eletricidade, comida ou combustível” para os mais de 2 milhões de palestinos que vivem lá. Na madrugada desta sexta-feira, 13, pelo horário de Brasília, Israel deu 24 horas para os palestinos se deslocarem para o sul, sinalizando a eminência de uma operação para entrar na região.

Veja a seguir o que você deve saber sobre a Faixa de Gaza e sua história até a atual guerra entre Israel e Hamas.

O que é a Faixa de Gaza?

A Faixa de Gaza é uma pequena área que faz fronteira com Israel e Egito no Mar Mediterrâneo. É um dos dois territórios palestinos. O outro é a Cisjordânia, ocupada por Israel, que inclui Jerusalém Oriental e faz fronteira com a Jordânia e o Mar Morto.

Gaza fazia parte do Império Otomano antes de ser ocupada pela Grã-Bretanha de 1918 a 1948 e pelo Egito, de 1948 a 1967. Quase 20 anos depois que Israel declarou sua condição de Estado em 1948, o país capturou a Faixa de Gaza do Egito e a Cisjordânia da Jordânia, na guerra de 1967. Os palestinos reivindicam esses territórios e os veem como parte de um futuro Estado.

Israel controlou Gaza por 38 anos, construindo 21 assentamentos judaicos nesse período. A tensão e a violência persistiram por anos, incluindo a primeira intifada, um período de quase quatro anos de protestos e tumultos nos territórios palestinos e em Israel devido à ocupação israelense na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

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O derramamento de sangue levou o primeiro-ministro Yitzhak Rabin a dizer, em 1992: “Eu gostaria que Gaza afundasse no mar, mas isso não vai acontecer, e é preciso encontrar uma solução”.

Soldados israelenses caminham próximo à Faixa de Gaza Foto: Sergey Ponomarev/The New York Times

Em 1993, os acordos conhecidos como Acordos de Oslo entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina visavam a cumprir o “direito do povo palestino à autodeterminação”.

Em 1994, os palestinos assumiram o controle como autoridade governamental de Gaza. Parte do impulso maior para a paz envolveu Israel seguindo um plano de retirada unilateral proposto pelo primeiro-ministro Ariel Sharon, em 2003, que desmantelaria os assentamentos israelenses na Faixa de Gaza.

Em 2005, Israel desistiu do controle da Faixa de Gaza sob pressão nacional e internacional, retirando 9.000 colonos e forças militares israelenses da região.

Quem governa Gaza? Quando o Hamas assumiu o controle?

O Hamas, então um dos dois principais partidos políticos nos territórios palestinos, entrou em conflito com os líderes palestinos quando os acordos de Oslo estavam sendo negociados nos anos 1990. O grupo terrorista chegou ao poder em Gaza após vencer uma eleição em 2006. Desde então, nenhuma eleição foi realizada.

Embora Israel tenha desistido do controle da Faixa de Gaza, ele mantém um bloqueio terrestre, aéreo e marítimo da região desde 2007. O resultado tem sido prejudicial para os palestinos, com as Nações Unidas afirmando, em 2009, que o bloqueio de Israel e do Egito estava “devastando os meios de subsistência” e causando um “desdesenvolvimento” gradual em Gaza.

Israel argumentou que o bloqueio serviu para manter o controle da fronteira de Gaza, evitar que o grupo terrorista Hamas se fortalecesse, e proteger os israelenses dos ataques de foguetes palestinos.

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O bloqueio foi criticado por grupos de direitos humanos e pelas Nações Unidas, que consideram que Gaza continua sob ocupação militar israelense. As Nações Unidas estimam que o bloqueio custou à economia do território palestino cerca de US$ 17 bilhões em aproximadamente uma década.

Nos últimos anos, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha foi mais longe e afirmou que o bloqueio viola as Convenções de Genebra — uma alegação que as autoridades israelenses rejeitaram.

O que significa um cerco à Faixa de Gaza?

Gallant, ministro da defesa de Israel, disse ao Comando Sul, na segunda-feira, 9, que haveria um “cerco total” à Faixa de Gaza nos estágios iniciais da guerra — cortando toda a eletricidade, alimentos e combustível.

A Faixa de Gaza, densamente povoada, depende fortemente de Israel para obter água, eletricidade e alimentos, o que faz com que o bloqueio mais severo tenha um impacto de longo alcance. As principais importações de Gaza são alimentos, bens de consumo e materiais de construção de Israel e do Egito, seus dois principais parceiros comerciais. A maior parte das frutas e legumes frescos de Gaza vem das fazendas ao longo da fronteira com Israel.

Gaza também obtém a maior parte de sua eletricidade de Israel, embora a faixa tenha uma usina elétrica antiga. O enclave tem fontes de água subterrânea, mas muitos poços foram destruídos pela poluição e pela água salgada. Mais de 90% da água do único aquífero de Gaza não é mais potável.

Palestinos deixam a Cidade de Gaza após o alerta do exército israelense, nesta sexta, 13 Foto: Mahmud Hams/AFP

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse na segunda-feira, 9, que estava “profundamente angustiado” com o plano de Israel de “iniciar um cerco completo à Faixa de Gaza”.

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Os civis palestinos estão “encurralados e desamparados”, disse Guterres a repórteres em Nova York, pedindo a Israel que permita o acesso contínuo de funcionários de assistência e suprimentos humanitários.

Quantas pessoas vivem na Faixa de Gaza? Quem mora lá?

Mais de 2 milhões de pessoas vivem em Gaza, tornando-a “um dos territórios mais densamente povoados do mundo”, de acordo com Gisha, uma organização não governamental israelense.

Com cerca de 225 quilômetros quadrados, a Faixa de Gaza tem pouco mais de duas vezes o tamanho de Washington, D.C., mas tem o triplo da população. Gaza é menor do que a Cisjordânia, que tem mais de 3,54 mil quilômetros quadrados.

A população de Gaza é extremamente jovem. A Unicef estimou haver cerca de 1 milhão de crianças vivendo na Faixa de Gaza, o que significa que quase metade da população local é composta por crianças. Quase 40% da população tem menos de 15 anos, de acordo com a CIA.

A cena após um bombardeio israelense no acampamento de refugiados Rafah, em Gaza, em 9 de outubro de 2023. (Foto AP/Hatem Ali) Foto: Hatem Ali

Mais de 1,4 milhão dos residentes da Faixa de Gaza são refugiados palestinos, segundo a United Nations Relief and Works Agency (UNRWA).

O território tem uma das maiores taxas de desemprego do mundo, segundo estatísticas do Banco Mundial, e as Nações Unidas estimam que cerca de 80% da população depende de ajuda internacional para sobreviver e ter acesso a serviços básicos.

“Pelo menos na última década e meia, a situação socioeconômica em Gaza tem estado em constante declínio”, diz o site da UNRWA. “Agora, restam pouquíssimas opções para o povo de Gaza, que tem vivido sob punição coletiva como resultado do bloqueio que continua a ter um efeito devastador, pois o movimento das pessoas de e para a Faixa de Gaza, bem como o acesso aos mercados, continua severamente restrito.”

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O que torna a Faixa de Gaza vulnerável?

Como a cidade de Gaza é mais densamente povoada do que Tel Aviv e outras grandes cidades do mundo, como Londres e Xangai, os contra-ataques direcionados, como os que Israel lançou nos últimos dias, têm grande probabilidade de atingir civis. Conflitos anteriores mataram centenas de crianças.

Depois que mais de centenas de israelenses foram mortos nos ataques surpresa do Hamas no fim de semana, de acordo com a mídia israelense, um contra-ataque crescente das forças israelenses em Gaza também causou pesadas baixas civis, segundo o Ministério da Saúde local, incluindo pelo menos dezenas de crianças.

As condições de vida em Gaza são desanimadoras: 95% da população não tem acesso à água potável, de acordo com a UNRWA, e a escassez de eletricidade periodicamente interrompe a vida local.

Na segunda-feira, 9, Guterres disse que cerca de 137 mil pessoas deslocadas estavam abrigadas em escolas e instalações operadas pela UNRWA, a agência da ONU de assistência aos palestinos.

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