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EUA e Catar negam ao Irã acesso a US$ 6 bilhões de acordo sobre libertação de prisioneiros

Decisão parece uma reviravolta do governo Biden, que tinha insistido que o dinheiro não era relevante para o ataque do grupo terrorista Hamas a Israel

Por Michael Crowley e Alan Rappeport

THE NEW YORK TIMES - Os Estados Unidos e o Catar concordaram em negar acesso ao Irã a US$ 6 bilhões (o equivalente a R$ 30 bilhões) em fundos transferidos para o país como parte de um acordo entre Washington e Teerã que levou à libertação, no mês passado, de cinco americanos presos em solo iraniano.

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Wally Adeyemo, vice-secretário do Tesouro, disse aos democratas da Câmara nesta quinta-feira, 12, que o Irã deixaria de ter acesso aos fundos, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto. O dinheiro estava sob estreita supervisão e o seu uso estava condicionado apenas para fins humanitários.

A medida surge em meio a duras críticas, principalmente por parte dos republicanos, de que o governo de Joe Biden deu ao Irã acesso a uma vasta soma, o que teria liberado outros fundos para Teerã prestar apoio ao grupo terrorista Hamas antes de seu ataque a Israel no sábado, 7.

As autoridades norte-americanas disseram não ter informações da inteligência de que o Irã tivesse ajudado diretamente no ataque terrorista e que alguns altos funcionários iranianos foram pegos de surpresa. Mas Teerã tem sido um dos principais apoiadores dos terroristas do Hamas há décadas e os opositores à libertação dos fundos disseram que o caráter fungível do dinheiro fazia as restrições terem pouco significado.

Não está claro se o governo Biden planeja cortar os fundos permanentemente ou se é uma medida provisória enquanto reúne mais informações sobre os potenciais laços do Irã com o Hamas. Também não está claro se a ação reflete qualquer nova análise do governo sobre o papel do Irã no ataque terrorista.

Seja como for, é certo que a decisão irá enfurecer os líderes iranianos, depois de uma cuidadosa troca de prisioneiros que levou muitos meses a ser construída e mais semanas para ser concluída.

Em declarações a jornalistas em Tel-Aviv, na quinta-feira, 12, o secretário de Estado Antony Blinken não confirmou que o Irã não terá acesso à conta. Mas observou que “nenhum dos fundos que foram agora para o Catar foi realmente gasto ou acessado de alguma forma pelo Irã”.

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Nos termos do acordo de prisioneiros do mês passado, o dinheiro foi transferido de bancos da Coreia do Sul, onde ficou acumulado, à medida que Seul comprava petróleo iraniano sob um acordo com o governo Trump, que restringiu a maior parte das exportações de energia do Irã. Mas o Irã queixou-se de que esses bancos, receosos de serem sancionados pelos EUA, tornaram impossível o acesso ao dinheiro.

Local alvo de ataque aéreo israelita em Khan Younis, no sul de Gaza, na quinta-feira, 12 Foto: Yousef Masoud/The New York Times

Em troca da libertação de americanos detidos por Teerã há oito anos, o dinheiro foi transferido para bancos do Catar, para que o Irã pudesse ter acesso à verba.

A decisão de cortar os fundos parece ser uma reviravolta da administração Biden, que tinha insistido até recentemente que o dinheiro não era relevante para o ataque do grupo terrorista Hamas a Israel.

Quando questionado no domingo sobre as críticas dos republicanos de que dar ao Irã acesso ao dinheiro poderia ter permitido aumentar o apoio ao grupo terrorista Hamas, Blinken rejeitou a acusação.

“Quando qualquer dinheiro é gasto nessa conta, só pode ser usado para suprimentos médicos, alimentos, medicamentos”, disse Blinken no programa Meet the Press da emissora NBC. “E aqueles que dizem o contrário estão desinformados ou desinformando, e estão errados, de qualquer forma”, disse.

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