Midas é um personagem da mitologia grega que é mais conhecido por transformar em ouro tudo o que tocava. Não tão conhecido por ter sido punido com orelhas de burro por Apolo. Com o tempo, a expressão “toque de Midas” tornou-se sinônimo de alguém que prospera nos negócios, que faz dinheiro. No que concerne aos apoios eleitorais em outros países, Donald Trump está se saindo uma espécie de “Midas inverso”.
Na Alemanha, a extrema-direita do partido Alternativa para a Alemanha estava anotando 24% das intenções de voto um ano antes da eleição. O partido ainda ficou em segundo lugar, com 20% dos votos, mas teve um resultado aquém do esperado. Como explicamos aqui em nosso espaço, o principal motivo para esse desempenho foi a enorme campanha de mobilização do eleitorado, com o maior comparecimento desde a reunificação.
A eleição de Trump, suas primeiras medidas e, principalmente, a aparição de Elon Musk em um comício da AFD, foram alguns dos principais argumentos nessa campanha de mobilização. A AFD ainda teve um bom desempenho e prepara terreno para o próximo pleito, mas o apoio de Trump, Bannon e Musk saiu pela culatra, especialmente pelas imagens dos dois últimos fazendo “saudações” para lá de suspeitas.
No Canadá, escrevemos no começo do ano que Justin Trudeau não seria eleito nem para síndico de prédio quando renunciou. Principalmente, que seu partido, o Liberal, corria o risco de até perder o segundo lugar nas eleições para o Novo Partido Democrático. O eleitor canadense não contava com o efeito Trump, entretanto. Suas ameaças e discursos grosseiros em relação aos vizinhos transformaram as pesquisas.

Primeiro, Trudeau liderou diversas respostas e respondeu Trump, afirmando que tarifas serão respondidas com tarifas. Segundo, a direita canadense, que buscou evocar o “Trumpismo” em alguns momentos, foi prejudicada pela associação. Quando Trudeau anunciou sua renúncia, o Instituto Ipsos estimava que os liberais tinham cerca de 20% da intenção de voto, enquanto os conservadores tinham cerca de 46%, com uma surra desenhada no horizonte.
Atualmente, o mesmo instituto, com a mesma metodologia, coloca os dois em empate técnico, com 38% para os liberais e 36% para os conservadores. Também aumentou o voto útil nos liberais, de pessoas que antes respondiam que votariam no Novo Partido Democrático. Mesmo figuras da direita canadense, entretanto, hoje querem fugir de qualquer associação a Donald Trump.
Doug Ford, premiê da província de Ontário, análogo ao governador estadual no Brasil, era muitas vezes comparado a Trump, e gostava da associação. Atualmente, é um dos maiores defensores de medidas rígidas contra a política comercial dos EUA. O fato é que as eleições canadenses deram um giro de 180 graus, um efeito Trump inimaginável no começo do ano. Ainda assim, não será Trudeau o candidato liberal.
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Com ou sem Trump, a imagem de Trudeau já está muito desgastada. Os liberais elegeram Mark Carney como novo líder do partido. Logo, o primeiro-ministro interino e o candidato do partido na próxima eleição. Carney presidiu o Banco do Canadá, o banco central do país, entre 2008 e 2013, no contexto da crise. Depois, foi convidado a presidir o Banco da Inglaterra, o banco central do Reino Unido, o único não-britânico a fazê-lo.
A campanha contra os liberais vai girar em torno do preço da energia e do imposto contra emissão de gás carbônico, política que teve em Carney um fiel defensor. Até o pleito, teremos alguns meses, mas é inegável que o cenário eleitoral foi revolucionado em apenas em algumas semanas. Tudo isso é culpa de alguém que nem canadense é, mas tem gostado de falar que vai anexar o Canadá.