Israel trava entrega de alimentos no norte de Gaza enquanto intensifica ataques no sul, diz ONU

UNRWA denunciou nesta quinta-feira que a última vez que foi autorizada pelo exército israelense a entregar alimentos no norte do enclave, onde ainda estão 800 mil palestinos, foi em 23 de janeiro

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Por Redação

A Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) disse nesta quinta-feira, 8, que não consegue entregar alimentos no norte da Faixa de Gaza há duas semanas, enquanto os palestinos que permanecem na região estão “à beira da fome”. A declaração ocorre ao mesmo tempo que, no sul do enclave, Israel intensifica os bombardeios contra Rafah, em meio a negociações para uma trégua.

A última vez que a UNRWA foi autorizada pelo exército israelense a entregar alimentos no norte do enclave foi em 23 de janeiro, relatou o comissário-geral da organização, Philippe Lazzarini, na rede social X. “Desde o início do ano, metade dos pedidos da UNRWA para missões de ajuda ao norte foi rejeitada”, comentou.

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Essa área, que inclui a Cidade de Gaza, assim como localidades mais ao norte de Jabalia, Beit Hanoun e Beit Lahia — fortemente destruídas por combates e bombardeios israelenses — foi isolada do sul da Faixa de Gaza, para onde muitos do seus habitantes fugiram e agora permanecem em grande parte deslocados em Rafah, no sul, local onde mais de um milhão de civis palestinos estão amontoados e que Israel tem visado como alvo de uma operação.

No norte, acredita-se que ainda tenha 800 mil palestinos, incluindo cerca de 300 mil pessoas que dependem da ajuda da UNRWA para sobreviver, de acordo com Lazzarini, que acusa que “impedir o acesso impede que a ajuda humanitária salve vidas”. “Com a vontade política necessária, isso pode ser facilmente revertido”, acrescenta o comissário-geral da UNRWA.

No norte, acredita-se que ainda tenha 800 mil palestinos, incluindo cerca de 300 mil pessoas que dependem da ajuda da UNRWA para sobreviver. Na foto, palestinos coletam água em meio a destroços em Jabalia.  Foto: REUTERS/Mahmoud Essa

No final de janeiro, o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) já havia afirmado que Israel aumentou a taxa de recusas de missão e acesso humanitário ao norte da Faixa de Gaza. A entidade descreveu o fato como “um aumento dramático na taxa de recusas”, em “uma deterioração acentuada em relação aos meses anteriores”.

Entre negociações, bombardeios em Rafah seguem

Também nesta quinta-feira, o exército israelense intensificou os bombardeios contra a cidade de Rafah. O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, ordenou na quarta-feira, 7, que as forças de segurança preparem uma operação nesta cidade do extremo sul do território palestino, na fronteira com o Egito.

O anúncio aconteceu depois que Netanyahu rejeitou as exigências do grupo terrorista Hamas à proposta de cessar-fogo apresentada pelos mediadores do conflito.

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Ao final de uma viagem diplomática pelo Oriente Médio, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, insistiu que ainda vê “margem para um acordo” e pediu que Israel “proteja” os civis.

Palestino segura criança em meio aos destroços de um prédio residencial que foi destruído por um bombardeio de Israel em Rafah, no sul de Gaza. Foto: SAID KHATIB / AFP

Após a primeira fase da ofensiva concentrada no norte de Gaza, as tropas israelenses avançaram em direção ao centro e ao sul do território estreito, em particular na cidade de Khan Yunis, epicentro dos combates e dos bombardeios nas últimas semanas. Mas a atenção agora está voltada para Rafah, que foi alvo de pelo menos sete bombardeios israelenses esta madrugada.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, advertiu que uma ofensiva terrestre em Rafah “aumentaria exponencialmente o que já é um pesadelo humanitário”.

Netanyahu anunciou na quarta-feira, durante um discurso exibido na televisão, que ordenou aos militares que se preparem para operações na cidade e que a “vitória total” contra o Hamas é questão de meses./AFP e EFE.

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