China e EUA falam em estabilizar relações após meses de tensões sobre Taiwan

Chanceler chinês se encontrou com o embaixador americano em Pequim, em uma das reuniões de mais alto nível desde que o episódio do balão espião elevou as tensões entre os países

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Por Redação
Atualização:

PEQUIM - No primeiro sinal de desescalada nas tensões entre Estados Unidos e China em meses, o chanceler chinês, Qin Gang, se reuniu nesta segunda-feira, 8, em Pequim com o embaixador americano Nicholas Burns e disse que a prioridade do governo chinês no momento é estabilizar as relações entre os dois países para evitar que a situação ‘saia de controle’. Burns, por sua vez, escreveu em sua conta no Twitter que os dois diplomatas discutiram os desafios no relacionamento EUA-China, a necessidade de estabilizar os laços e expandir a comunicação de alto nível.

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O encontro foi a primeira reunião de alto escalão entre autoridades americanas e chinesas desde a descoberta de balões espiões chineses em território americano em fevereiro. Na ocasião, o Pentágono disse que a China usou o balão para espionagem, Pequim, no entanto, insistiu que o balão tinha fins meteorológicos e apenas saiu do curso.

As relações entre Pequim e Washington, no entanto, já vinham piorando desde a visita da então presidente da Câmara Nancy Pelosi a Taiwan no ano passado, que provocou uma forte reação diplomática e militar chinesa.

Outro ponto de atrito ocorreu depois que o secretário de Estado Anthon Blinken, alertou publicamente em fevereiro que a China poderia estar se preparando para dar armas e munições à Rússia ‌por sua guerra contra a Ucrânia, uma alegação que Pequim rejeitou.

Em meio a esses focos de tensão, Pequim tem adotado uma política externa mais agressiva em relação aos americanos, com exercícios militares nos arredores de Taiwan e no Mar do Sul da China. Além disso, Pequim também tem modernizado e ampliado seu arsenal nuclear e militar, no que muitos analistas já consideram uma disputa por hegemonia militar na Bacia do Pacífico.

‘Ações equivocadas’

Na reunião de segunda-feira, Qin disse que uma série de palavras e ações equivocadas tomadas pelo governo americano minaram o progresso feito pelo líder chinês Xi Jinping e pelo presidente Joe Biden quando se encontraram em Bali em novembro. “A agenda de diálogo e cooperação acordada pelos dois lados foi interrompida, e a relação entre os dois países mais uma vez foi congelada”, disse ele.

Qin disse esperar que o governo Biden reflita profundamente e coloque o relacionamento de volta nos trilhos. Para fazer isso, segundo o chefe da diplomacia chinesa, os americanos precisam respeitar a posição chinesa em questões como Taiwan. Ainda de acordo com o chanceler, os americanos estão apoiando e tolerando as forças separatistas em Taiwan.

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No mês passado, a China reagiu a uma visita da presidente Tsai Ing-wen, de Taiwan, aos Estados Unidos. Tsai se encontrou com Kevin McCarthy, presidente da Câmara dos Representantes, no que foi o encontro pessoal de mais alto nível para um líder de Taiwan nos Estados Unidos desde que Pequim estabeleceu relações com Washington em 1979.

Sinais americanos

Apesar disso, os americanos nas últimas semanas também têm dado sinais de reaproximação, ainda que discretos. Antes da reunião entre Qin e Burns, autoridades comerciais dos EUA e da China se reuniram em Pequim em abril.

O próprio Blinken disse recentemente que poderá reagendar uma visita a Pequim que Washington cancelou após o incidente do balão. Além disso, em um evento virtual na semana passada, Burns disse que os Estados Unidos e a China precisam de canais mais profundos de comunicação e Washington está “pronto para conversar”.

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O aceno chinês aos americanos ocorre num momento em que Xi tem trabalhado para fortalecer os laços com os aliados americanos e reafirmar sua imagem como estadista global. Ele trabalhou para restaurar os laços entre a Arábia Saudita e o Irã, hospedou o presidente Emmanuel Macron da França e ligou para o presidente Volodmir Zelenski da Ucrânia. A China também anunciou na segunda-feira que Qin visitaria a Alemanha, França e Noruega nesta semana.

“É um sinal positivo de que eles se encontraram”, disse Paul Haenle, ex-diretor para a China no Conselho de Segurança Nacional nos governos Bush e Obama. Segundo ele, a reunião com Burns beneficiará Qin quando ele viajar para a Europa, onde houve pedidos para que a China e os Estados Unidos esfriem as tensões./NYT e W.POST

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