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THE ECONOMIST: As idas e vindas dos Estados Unidos

Presidente americano fustiga os aliados, mas pelo menos ele endossou um duro comunicado

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Por Redação

O latido de Donald Trump pode ser pior do que a mordida, mas seu ladrar é muito desagradável. Os aliados dos Estados Unidos na Otan ficaram com esse sentimento depois da cúpula em que o presidente americano mostrou uma grosseria chocante, mas no final não levantou objeções a um forte compromisso de defesa comum contra a Rússia e outros adversários.

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“Os EUA não foram tratados de maneira justa, mas agora somos. Acredito na Otan", disse Trump Foto: Christian Bruna/EFE

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Diplomatas emitiram cuidadosas advertências sobre a probabilidade de sólidos intercâmbios no encontro em Bruxelas, de 11 a 12 de julho, mas ninguém estava preparado para o discurso que Trump proferiu na sua chegada, contra aliados "negligentes" dos EUA, e a Alemanha em particular, liberando sua fúria à frente de Jens Stoltenberg, o secretário-geral da Otan.

O presidente acusou os alemães de serem “controlados pela Rússia”. Ele reclamou que bilhões de dólares por ano estavam fluindo de Berlim para Moscou sob um novo acordo de gasoduto, enquanto a Alemanha tinha a coragem de esperar ajuda americana para afastar a ameaça russa. Angela Merkel, chanceler da Alemanha, deu uma resposta digna, dizendo que ela havia experimentado a dominação soviética quando criança na Alemanha Oriental e estava feliz por seu país unido estar agora livre para tomar suas próprias decisões.

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Stoltenberg, um norueguês cujo trabalho é agir como uma espécie de para-raios para tempestades que assolam o interior da Otan, fez um grande esforço para enfatizar o positivo. Ele ressaltou após a reunião de cúpula principal que todos os aliados estavam no caminho certo para atingir a meta de gastar pelo menos 2% do PIB em defesa. Enquanto ele falava, soube-se que Trump exigiu que seus aliados adotassem uma meta de 4% (à qual nem os próprios EUA atendem). Antes, enquanto os 29 líderes da Otan estavam supostamente incomunicáveis, um tweet veio do presidente alegando que ele estava protegendo os agricultores americanos dos efeitos desastrosos das políticas comerciais europeias.

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Atordoados como estavam pelas palhaçadas de Trump, os aliados dos Estados Unidos saíram com uma sensação de alívio de que ele havia se unido a eles aprovando uma declaração comum que confirmou o princípio fundamental da Otan: “Qualquer ataque contra um aliado será considerado um ataque contra nós. Trump havia sugerido anteriormente que os membros da Otan poderiam como penalidade perder essa proteção, a menos que aumentassem seus gastos com defesa.

A declaração repreendeu inequivocamente a Rússia por uma longa lista de delitos antigos e novos. Estes incluíram a “anexação ilegal e ilegítima da Crimeia e desestabilização contínua do leste da Ucrânia” e o uso de um agente nervoso de tipo militar em uma tentativa de assassinato na Inglaterra.

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A Rússia também foi censurada por envolver-se em atividades provocativas, como violações do espaço aéreo e grandes exercícios realizados sem aviso prévio, juntamente com "retórica nuclear irresponsável e agressiva" e construções militares na Crimeia e no enclave de Kaliningrado. Os aliados insistiram, no entanto, que permaneciam abertos a um diálogo relevante com Moscou.

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Tudo isso era, pelo menos na esperança de alguns otimistas, uma garantia implícita aos parceiros europeus da Otan de que Trump não estava disposto a fazer um acordo que passasse sobre suas autoridades, com seu colega russo, Vladimir Putin. Mas como ele foi primeiro para a Grã-Bretanha antes de se encontrar com Putin em Helsinque em 16 de julho, tudo pode acabar sendo desfeito com um único tweet presidencial irado, talvez desencadeado por protestos britânicos. E a reunião em Helsinque poderia resultar literalmente em qualquer coisa.

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Os membros da Otan também reafirmaram seu compromisso com uma série de custosas iniciativas novas, das quais James Mattis, o secretário de defesa americano, é o principal arquiteto. Estes incluem o estabelecimento de novos comandos da Otan nos Estados Unidos (para proteger as rotas marítimas do Atlântico) e na Alemanha, juntamente com novos esforços para reforçar os estados bálticos, a Polônia e a Romênia, contra qualquer mau comportamento da Rússia.

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Stoltenberg resumiu o novo estado de espírito na Otan dizendo: “Por um quarto de século, muitos dos nossos países têm reduzido bilhões de seus orçamentos de defesa. Agora, eles estão adicionando bilhões. “Ainda assim, considerando que a Otan é um clube de democracias, os eleitores também terão que ser persuadidos de que esse é o uso correto para seu dinheiro”. E as explosões de Trump provavelmente não serão de grande ajuda para conquistar corações, mentes ou carteiras dos europeus. / Tradução de Claudia Bozzo