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‘Ninguém faz novos amigos nas redes sociais hoje’, diz criador do Orkut

Homem por trás da ‘primeira rede social’ dos brasileiros, engenheiro turco Orkut Buyukkokten lança nova plataforma com foco em interesses e interação: Hello

Por Bruno Capelas
Atualização:
Retorno. Hello deve chegar ao Brasil em julho, diz Orkut Foto: Divulgação

Ele nasceu na Turquia, cresceu na Alemanha e, ao se mudar para os Estados Unidos para trabalhar, criou uma rede social dentro de uma das maiores empresas de tecnologia usando seu próprio nome: Orkut. Dois anos depois do fim daquela que foi a “primeira rede social dos brasileiros”, que chegou a ter 40 milhões de usuários no País, o engenheiro Orkut Buyukkokten está de volta com uma nova plataforma: Hello.

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Concebida desde março de 2014, quando o engenheiro deixou o Google, o Hello foi lançado no início de junho nos EUA, em forma de aplicativo para os sistemas móveis iOS e Android – a rede social deve chegar ao Brasil ainda este mês. “Mal posso esperar para lançar o Hello por aí”, diz Orkut, em entrevista ao Estado realizada por telefone direto de seu escritório em São Francisco, na Califórnia. O Google é um dos principais investidores do novo projeto de seu ex-funcionário.

À primeira vista, no entanto, o Hello difere bastante do Orkut: no lugar das comunidades, textos e dos GIFs coloridos e antiquados, o foco está nos interesses dos usuários e nas fotos. “Hoje, você entra em uma rede social e recebe atualizações com aniversários dos seus amigos, mas não tem interações significativas. Queremos trazer de volta a diversão”, diz o engenheiro. 

Nova rede social de Orkut Buyukkokten terá foco em interação pessoal e interesses. Foto:

Na entrevista a seguir, Orkut Buyukkokten explica o funcionamento de sua nova plataforma e comenta mais sobre sua saída do Google. “Eu queria criar uma rede social, enquanto eles tinham o Google Plus, que juntava o social com os produtos da empresa. Eles sugeriram que eu fizesse isso fora da empresa, mas me deram muito suporte”, conta o engenheiro. Além disso, ele também faz comentários sobre as principais redes sociais dos dias de hoje – o Facebook, o Twitter e o Instagram. “Ninguém faz novos amigos nas redes sociais hoje: no Facebook, por exemplo, só se consegue receber informações de pessoas que já conhece”

O que é o Hello?É uma rede social movida pela paixão. Hoje, temos muitas redes sociais, mas todas fazem você conversar com pessoas que já conhece. No Hello, você vai se conectar com as pessoas através de seus interesses, como música, cinema ou café.

Haverá comunidades, como no Orkut?Não. No Orkut, as pessoas criavam muitas comunidades para o mesmo fim e o debate não acontecia. No Hello, cada grande interesse será uma persona: se você é apaixonado por filmes, será conhecido na rede como um cinéfilo e receberá atualizações e postagens sobre esse assunto. Se eu sou um fã do Capitão América não terei uma comunidade sobre ele, mas terei a persona de fã de quadrinhos ou de cinema.

Quais são suas personas? Sou um apaixonado por café, fã de videogames, gay e praticante de ioga. Mas isso pode mudar: se eu tiver tempo para ler, posso ativar a persona de fã de literatura. É uma das nossas vantagens: queremos ser uma rede social que acompanha os seus interesses pela vida toda. Hoje, você entra e sai de redes sociais conforme a sua vida muda: se está solteiro, entra no Tinder; se conhece alguém, larga o Tinder. No Hello, a rede social será sempre relevante para você.

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O Orkut era uma rede com muito texto. O Hello é muito visual. Por quê?Queremos que as redes sociais voltem a ser divertidas. Hoje, você recebe atualizações como a de que hoje é o aniversário de um amigo seu ou ainda uma publicação que mostra não o que uma pessoa gosta, mas sim como ela quer ser percebida pelo mundo. Não é algo muito significativo.

O que acha de redes sociais como Facebook e Twitter?São ótimas redes, mas mantém as pessoas no seu mundo. Ninguém faz novos amigos nas redes sociais hoje: o Twitter é uma grande rede de transmissão de informações. O Facebook também. O problema é que nele, você só recebe informações de conhecidos, mas não conhece pessoas novas.

Quando o Hello sai no Brasil?Vamos lançar este mês, completamente em português. Adoro a cultura do Brasil: os brasileiros são amigáveis e abertos a novidades. A troca de experiências em comunidade é um dos pilares do Hello e isso tem muito a ver com os valores dos brasileiros.

O Brasil era apaixonado pelo Orkut. Por quê? No Brasil, tinha muito a ver com a questão cultural. Agora, uma surpresa pra nós foi como o Orkut foi um sucesso na Índia. Não tivemos nenhum esforço de marketing na Índia, e era o maior país do Orkut no mundo oriental. É um mistério para nós. 

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Por que você saiu do Google? Chegou a trabalhar na equipe do Google Plus?O Google Plus tinha uma estratégia bem diferente de uma rede social: ele queria integrar o aspecto social com outros produtos do Google. É algo diferente do que acredito. Depois que o Orkut perdeu espaço, eu queria criar uma nova rede social. O Google sugeriu que eu fizesse isso fora da empresa, mas me deu muito suporte: eles são um dos investidores principais do Hello e cederam o domínio “hello.com”, que antigamente pertencia a um serviço de fotos do Google. Além disso, um grupo de engenheiros que trabalhava comigo no Google está hoje no Hello. 

Você voltaria a trabalhar no Google?  Eu amo o Google. Trabalhei lá por muito tempo e adoro a equipe: sou um grande amigo de Sergey Brin. Não sei se eu trabalharia lá de novo. Nunca pensei nisso, na verdade.

Quando o Orkut foi desativado, muita gente notou que o site ainda estava no modo beta (específico para testes)...  Na verdade, nós conseguimos um dia sair do modo de testes. Mas demoramos muito tempo para sair dele. Os requisitos que o Google pedia para que a gente saísse do modo beta eram muito exigentes: era preciso que sua base de dados estivesse em múltiplos data centers e que seu sistema fosse sempre muito rápido e estável. Foi difícil, mesmo quando a gente já tinha milhões de usuários. 

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Você nasceu na Turquia, cresceu na Alemanha e se tornou o criador de uma rede social nos Estados Unidos. Como sua história influenciou seu trabalho?  Cresci na Europa: na cultura europeia, seja na Turquia ou na Alemanha, as pessoas são mais abertas a conhecer novas pessoas. Elas não são reservadas como são nos Estados Unidos. Foi difícil conhecer pessoas novas quando eu cheguei aqui: foi assim que me interessei por redes sociais e pessoas, no início dos anos 2000. 

Uma de suas personas no Hello é a de fã de videogames. Que tipo de videogames você joga? Eu acabei de jogar Uncharted 4: A Thief’s End. Sou um grande fã de games de aventura e também de jogos de tiro em primeira pessoa. Infelizmente, nunca tenho tempo o suficiente para conseguir jogar games RPG, que demandam muito. Meu jogo favorito de todos os tempos é Kingdom Hearts. Mal posso esperar para que Kingdom Hearts III seja lançado. 

Que recado você gostaria de dar aos brasileiros? Mal posso esperar em lançar o Hello no Brasil. Queremos muito ter uma grande estreia por aí. Visitei o Brasil uma vez, por três semanas, em 2007: fui a São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Búzios. Foi uma grande viagem. Espero conseguir ir de novo. 

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