Por David Pogue, do New York Times
“Um fracasso terrível” para o blog Orange County Web Design. “Céus, quanta indiferença ele inspira”, tripudiou o Gizmodo. Seja qual for o objeto destas opiniões, deve ser mesmo uma bomba. O que poderia ser? Ele mesmo, o iPad. Poupemos os críticos. Eles tinham razão, ao menos do ponto de vista racional. O iPad não satisfazia a nenhuma necessidade óbvia. Para quem já tinha um telefone com tela sensível ao toque e um laptop, não havia motivo para ter um iPad, que parecia ser apenas uma versão grandona do iPod Touch.
Mas, ao que parece, ele apela mais à emoção do que à razão. Depois de tê-lo nas mãos, o usuário é apanhado pelo fascínio de manipular objetos na tela por meio do toque. A Apple vendeu 15 milhões deles em nove meses.
Agora, desde o dia 11 deste mês, está à venda o iPad 2, pelo mesmo preço do modelo original (de US$ 500, com Wi-Fi e 16 Gb, a US$ 830, com Wi-Fi e 3G e 64 Gb). E para aqueles que viam no iPad 1 um lapso intelectual/emocional, esperem até por os olhos na nova versão.
Na prática, a Apple não fez muito: reduziu a espessura do iPad em um terço, diminuiu seu peso em 15% e dobrou a velocidade de processamento. Não há recursos novos além de duas câmeras e um giroscópio. Mas, meus amigos, vou contar: essas pequenas melhorias mudam tudo. Não se trata de um laptop ou de uma TV, cuja espessura não é notada durante o uso. Isso é um tablet. Quase invariavelmente, nós o seguramos. Fino e leve são características muito importantes para o conforto e a delícia da experiência. E o mesmo pode ser dito das bordas arredondadas, ausentes no primeiro iPad.
O iPad 2 tem 0,86 cm de espessura. Perto dele, o Motorola Xoom – o melhor concorrente da plataforma Android até agora – parece obeso. Mesmo assim, ele aguenta 10 horas de uso por carga da bateria. Alguns de seus novos recursos do iPad são maneiras de alcançar a concorrência. Há uma câmera na parte traseira (sem flash) capaz de gravar vídeos em alta definição. Aqueles que nunca usaram o tablet como uma câmera terão uma agradável surpresa: a tela inteira serve como visor. É como usar uma ampliação de 20 cm x 25 cm para compor a cena. Mas há um detalhe frustrante: as imagens still têm resolução baixa (0,7 MP).
Há também uma nova câmera frontal de baixa resolução, útil para chamadas de vídeo, como aquelas feitas no iPhone 4, Touch, iPad 2 e Mac equipados com o software FaceTime.
Capa. Normalmente, dedicar o espaço de uma resenha tecnológica à capa de proteção da tela pode ser um indício de que o colunista ficou sem assunto. Mas a nova capa da Apple é um símbolo perfeito do seu apreço pelos truques da alta tecnologia. A capa é afixada ao ser encaixada sobre a tela do iPad como quem faz uma cama. Com um satisfatório clique, ímãs ocultos prendem o objeto com firmeza ao iPad.
“Mas, pai, devemos manter os ímãs longe dos aparelhos eletrônicos!”, interveio meu filho de 6 anos, “Eu sei”, respondi. “Mas estamos falando da Apple.” E mostrei a ele como o iPad é ativado automaticamente quando abrimos a tampa. Ao fechá-la, o aparelho volta ao modo de espera.
O objetivo da capa (US$ 40 pela versão em poliuretano, ou US$ 70 pela versão em couro) não é proteger a tela, cujo vidro reforçado dispensa cuidados adicionais. Ela serve para acrescentar um toque de estilo, para ajudar na limpeza (a Apple diz que as microfibras dela afastam o pó) e para sustentar o iPad: inteligentes dobradiças nos painéis rígidos da capa sustentam o iPad em duas posições diferentes, para ver filmes ou para usar o teclado na tela com as mãos livres.
Há também um giroscópio no iPad, assim como no iPhone 4. Só reparamos nele ao jogar games que explorem o recurso, como Nova 2, jogo de tiro, em que você olha para trás no cenário 3D ao mover o iPad para o lados.
Concorrentes. Imagino que os próximos meses tragam uma avalanche de tablets para fazer frente ao iPad. E eles oferecerão alguns recursos sedutores. Num tablet com o Android, pode-se falar para inserir texto em qualquer caixa que aceite digitação. E há um excelente aplicativo de orientação geográfica que acompanha os movimentos curva a curva – uma tela de 25 cm transforma o GPS numa nova experiência. É como ser guiado a seu destino por um filme.
Além disso, os novos tablets com Android exibirão vídeos e animações em Flash, coisa que Apple e Adobe dizem que nunca será possível no iPad (nem no iPhone). Rodar Flash num tablet pode ser decepcionante e consumir muita bateria, mas costuma ser melhor do que nada.
Milhares de sites ainda dependem do Flash, e o iPad, o iPhone e o iPod Touch não conseguem exibi-los.
Mas sabem de uma coisa? O iPad continuará dominando o mercado, pois é melhor em todos os critérios mais importantes: espessura, peso, integração, beleza e aplicativos.
Ah, sim, os aplicativos: há 65 mil deles disponíveis para o iPad (além dos 290 mil para o iPhone que rodam numa resolução reduzida no iPad.) Mas o kit de ferramentas de programação do Google para os tablets acaba de ser lançado, e por isso há poucos aplicativos para telas maiores com o sistema Android.
O grande trunfo, ao que parece, está no preço. A Apple está no auge de sua forma – e no comando da indústria. A regra diz que paga-se mais para ter a elegância dos produtos da Apple.
Mas o que impressiona neste caso é que o iPad 2 é mais barato do que os concorrentes Android mais diretos, como o Xoom e o Samsung Galaxy Tab. Esta reviravolta deve estar relacionada a grande influência da Apple enquanto compradora – quando se faz uma encomenda de 5 milhões de unidades de um componente, em geral é possível convencer o vendedor a propor um preço mais atraente.
Mas o detalhe do preço pode ser sedutor. Significa que, pela primeira vez, o coração poderá ignorar as orientações práticas enviadas pelo cérebro.
/ TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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