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As demissões nas empresas de tecnologia voltaram, mas os motivos agora são outros; entenda

A resposta é simples: corrida pelo domínio da inteligência artificial

Foto do author Guilherme Guerra
Por Guilherme Guerra
Atualização:

As demissões em massa nas grandes empresas de tecnologia voltaram. Pegando de surpresa todo o mercado, que pensava que esses cortes eram uma questão superada e deixada em 2022 e 2023, ao menos sete companhias grandes e influentes dispensaram um total de mais de duas mil pessoas nas duas últimas semanas.

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Nomes como Microsoft, Alphabet (empresa-mãe do Google), Amazon, TikTok, Discord e Duolingo também realizaram cortes de centenas de funcionários, bem como o enxugamento de diversos departamentos, como publicidade e vendas. Recentemente, o estúdio Riot Games (conhecido pelo jogo League of Legends) e a startup “unicórnio” Brex entraram na lista de demissionárias. Leia mais detalhes ao final desta matéria.

Essas demissões acontecem em meio à euforia da inteligência artificial (IA), cuja disseminação e rápida aplicabilidade aos negócios alavancou essas companhias nos últimos meses, após a chegada do ChatGPT, da americana OpenAI. Para citar somente os grandes nomes do mercado público de ações, Microsoft, Google, Amazon e Meta entraram na onda do boom da IA a tempo de ver suas ações subirem, respectivamente, 57%, 58%, 81% e 23% em 2023.

As demissões na área de tecnologia deste ano, portanto, acontecem em um momento em que essas empresas estão melhor capitalizadas e bem-vistas por investidores do que há um ano — motivo pelo qual os cortes vêm assustando o mercado. Mas, ao contrário dos últimos anos, há um novo elemento que chacoalha o mercado e força uma busca ainda maior por inovação e redução de custos considerados desnecessários: a própria inteligência artificial.

Por que estão ocorrendo demissões na tecnologia em 2024?

Entre 2022 e 2024, o cenário mudou para as companhias de tecnologia, das pequenas às grandes.

Há dois anos, a alta global dos juros e a volta à normalidade após a pandemia de covid-19 (cuja necessidade por serviços digitais impulsionou o negócio dessas empresas) foram os principais motivos para a desaceleração dessas companhias. Na tentativa de manter as margens de lucro e se preparar para um cenário de incertezas, as empresas de tecnologia seguraram o dinheiro e demitiram milhares de pessoas. Não à toa, a palavra que dominou o vocabulário dos CEOs foi “eficiência”.

Agora, essas companhias se deparam com outra realidade: estão prestes a entrar numa guerra pelo domínio da inteligência artificial. Em casos extremos, quem perder essa batalha pode perder relevância no mercado.

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Microsoft realizou corte de quase 2 mil pessoas em janeiro de 2024 Foto: Michael Euler/AP - 12/4/2016

“Isso mudou o foco do setor para a inovação”, diz o analista Thomas Monteiro, editor da plataforma de investimentos Investing.com. Segundo ele, em 2024, o objetivo das empresas de tecnologia é eliminar ineficiências, desinvestir em áreas menos rentáveis e aplicar o capital excedente em serviços inovadores no campo da IA — o que significa contratar pessoas mais experientes e dispensar as mais juniores.

Investidores fazem pressão para que as empresas mostrem resultados e cortem custos

Matheus Popst, sócio da Arbor Capital

“Isso, quase paradoxalmente, tornou a competição por talentos mais acirrada do que nunca. As empresas de tecnologia estão substituindo muitos cargos de nível inferior e médio por alguns de nível superior. E essa é a maior diferença entre os dois momentos”, diz, em referência a 2022 e 2024.

Matheus Popst, sócio da gestora carioca Arbor Capital, aponta que as demissões de 2024 não são em setores relacionados à inteligência artificial, e sim a áreas menos estratégicas nessa corrida da IA. “Por mais que o Google esteja sendo beneficiado pela IA generativa, o negócio de hardware continua deficitário. E os investidores fazem pressão para que as empresas mostrem resultados e cortem custos”, explica.

O pior passou, mas demissões devem continuar

Outra diferença é que as demissões do período anterior também foram maiores.

Juntas, Microsoft, Google, Amazon e Meta dispensaram mais de 61 mil pessoas entre outubro de 2022 e março de 2023. Além delas, empresas menores de tecnologia e startups entraram na onda, realizando cortes de centenas de funcionários de uma vez em um período conhecido como “inverno das startups”.

Os indicadores mostram que os cortes nos empregos em tecnologia estão longe de terminar

Thomas Monteiro, analista da Investing

Para os próximos meses, o ciclo de corte dos juros está próximo de ser retomado no mundo, segundo as expectativas do mercado. Isso significa que as empresas vão ter custo menor de capital para crescer, colocando-as num período de bonança melhor do que a escassez anterior.

Para muita gente, o pior já passou no mercado de tecnologia. Assim, a expectativa é que, neste ano, os cortes sejam menores e mais pontuais — mas continuarão acontecendo.

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“Os indicadores mostram que os cortes nos empregos em tecnologia estão longe de terminar”, explica Monteiro. “O principal ônus sobre as margens dessas empresas, neste momento, está na necessidade de crescer mais rapidamente do que a concorrência. E isso exige margens e, acima de tudo, mão de obra qualificada.”

Alphabet, companhia dona do Google, foi uma das primeiras a anunciar cortes de funcionários em 2024 Foto: Paresh Dave/Reuters - 8/5/2019

Quem fez demissões em 2024?

Somente neste início de 2024, nomes como Alphabet (empresa-mãe do Google), Amazon, TikTok, Discord e Duolingo anunciaram cortes de centenas de funcionários, bem como o enxugamento de diversos departamentos, como publicidade e vendas.

A última empresa a anunciar demissões foi a Microsoft, na última quinta-feira, 25. Ao todo, vão ser 1,9 mil pessoas cortadas da divisão de games da empresa, dona do Xbox e do estúdio Activion Blizzard, cuja compra foi concluída no ano passado por US$ 69 bilhões — o maior negócio na história da tecnologia.

O Google demitiu centenas de pessoas (cujo número não foi revelado) que trabalhavam no YouTube, no celular Pixel, nos relógios Fitbit e na caixa de som inteligente Nest. As demissões impactaram também o escritório no Brasil, que encolheu a área de publicidade. E mais demissões devem ocorrer na empresa, avisou o presidente executivo Sundar Pichai.

Já a Amazon fez cortes em áreas como a plataforma de games Twitch (aproximadamente 500 pessoas demitidas), no serviço de streaming Prime Video e no estúdio de Hollywood MGM (adquirido em US$ 8,5 bilhões em 2015) — a quantidade total de pessoas afetadas não foi revelada. A plataforma Discord demitiu 17% dos funcionários, algo como 170 pessoas, maior corte da história da companhia, fundada em 2015; e as empresas chinesas TikTok (da ByteDance) e Riot Games (da Tencent) entraram na lista de demissionárias: 60 pessoas no aplicativo de vídeos curtos e 530 pessoas, respectivamente, no estúdio conhecido pelo jogo League of Legends.

Startups menores também fizeram demissões. Entre elas, o aplicativo de ensino de idiomas Duolingo cortou redatores e tradutores e os substituiu por ferramentas de inteligência artificial (IA). Já o “unicórnio” Brex, fundada por dois brasileiros bilionários nos Estados Unidos em 2017 e avaliada em US$ 12 bilhões em setembro do ano passado, anunciou a demissão de 282 pessoas (20% da startup).

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