CUPERTINO (EUA) E SÃO PAULO - A Apple anunciou nesta segunda-feira, 10, sua nova inteligência artificial (IA), batizada de Apple Intelligence, em uma tentativa de mostrar para usuários, investidores e rivais que a empresa não está para trás na corrida pelo domínio da tecnologia. Além disso, a companhia revelou uma parceria com a OpenAI para integrar o ChatGPT, da OpenAI, à assistente Siri, que também ganhou um banho de loja.
A gigante apresentou também o iOS 18, nova geração de seu sistema operacional para celulares, e novidades para o Vision Pro, AirPods, tvOS, Apple Watch, Mac e iPad. Os anúncios aconteceram na Worldwide Developers Conference (WWDC 2024), evento para desenvolvedores da empresa. Veja abaixo todos os anúncios.
Veja tudo o que a Apple apresentou
Parceria com ChatGPT
A principal novidade desta tarde, anunciada ao final da apresentação de duas horas, é a parceria entre a dona do iPhone e a startup comandada por Sam Altman. A Apple e a OpenAI estão se juntando para tornar mais inteligentes as respostas dadas pela Siri. Para cada comando do usuário, a assistente vai perguntar ao usuário se pode “consultar” o ChatGPT, chatbot que revolucionou o mercado de IA em novembro de 2022.
Assim, a IA da OpenAI será integrada aos aparelhos compatíveis com a plataforma Apple Intelligence, um conjunto de recursos e funcionalidades de inteligência artificial que vão chegar aos dispositivos mais novos da Apple – veja a lista aqui.
Na parceria, a Apple vai utilizar o modelo de IA mais recente da startup, o GPT-4o, lançado em maio. Mas a companhia afirmou que vai disponibilizar esse tipo de parceria com outras IAs do mercado, o que abre portas para o Claude, da Anthropic, e o Gemini, do Google.
A tecnologia da OpenAI vai ser integrada em alguns aplicativos do ecossistema da Apple além da Siri, como o Notas, para gerar textos a partir de comandos, por exemplo. A ferramenta também vai aceitar comandos em fotos, para analisar imagens ou responder perguntas sobre as fotos. Não ficou claro se o ChatGPT vai poder responder com geração de imagens por IA.
Inicialmente, a nova parceria vai estar disponível em inglês no final do ano para iOS 18, iPadOS 18 e macOS Sequoia. Uma versão beta vai ser disponibilizada perto de setembro, provavelmente após o lançamento do próximo iPhone. Outros idiomas e plataformas estarão disponíveis apenas no ano que vem, disse a empresa.
Apple Intelligence
Antes do anúncio da parceria com a OpenAI, o CEO da Apple, Tim Cook, mostrou a Apple Intelligence, nova plataforma de IA da companhia - a empresa preferiu se referir ao termo “inteligência pessoal” e só usou “inteligência artificial” com mais de uma hora do início do evento. Foi a primeira vez também que a Apple revelou publicamente qual vai ser a estratégia de IA da companhia.
No último ano, a IA tornou-se o grande foco das companhias de tecnologia, com pioneiros como OpenAI (criadora do ChatGPT) e Google (dono do Gemini) lançando dezenas de novidades em aplicativos, serviços e produtos diversos. A Apple permaneceu quieta e levantava dúvidas sobre a capacidade de entrar nessa maratona. Justamente por isso, a WWDC 2024 tornou-se mais aguardada do que o lançamento dos novos iPhones, planejado para setembro.
“Tem que ser poderoso, intuitivo, integrado, pessoal e privado”, defendeu o executivo Craig Federighi, responsável pela estratégia de software da Apple, sobre a estratégia de IA da empresa. Os recursos de inteligência vão ser exclusivos de dispositivos com os chips A17 Pro, M1, M2, M3 e M4. Isso significa que os recursos de IA generativa da Apple vão estar disponíveis apenas para o iPhone 15 Pro, iPad Pro, MacBooks e iMacs mais novos.
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O sistema vai poder criar imagens diretamente no chat de conversas da empresa, o iMessage, sempre em estilos de ilustração. Os comandos poderão ser escritos diretamente na conversa com o contato. No exemplo apresentado pela Apple, o usuário enviou uma mensagem de aniversário personalizada para um contato, pedindo para que a IA criasse uma imagem festiva a partir da sua foto de perfil.
A plataforma Apple Intelligence vai permitir reescrever e corrigir textos, como checar a gramática em e-mails e mensagens. Também vai ser possível pedir que a IA reescreva com o tom da mensagem para algo mais formal ou informal, por exemplo. É algo que o Google já disponibiliza no Workspace por uma assinatura do serviço Google One.
A Apple Intelligence também vai editar fotografias e vídeos, removendo objetos do fundo de imagens. Também vai ser possível pesquisar por conteúdos no app Fotos com comandos mais descritivos. O Image Wand, integrado no aplicativo Notas, vai poder transformar rascunhos de desenhos em imagens mais detalhadas e ilustrações com referências.
A Apple frisou que todos os recursos de IA da empresa vão respeitar as melhores normas de privacidade, com processamento no próprio dispositivo. “Usa seus dados pessoais sem saber quais são seus dados pessoais”, diz a empresa.
Siri ganha banho de loja
Na esteira do Apple Intelligence, a assistente pessoal Siri ganhou seu principal pacote de atualizações desde o lançamento da IA, em 2011. A tecnologia está mais natural e integrada ao sistema, graças às novas habilidades de conversa da inteligência artificial da Apple, turbinada por modelos amplos de linguagem (LLMs, na sigla em inglês).
Agora, a assistente consegue entender o contexto das falas do usuário, sem exigir que a pessoa repita informações. Outra novidade é ativar a Siri por texto, digitando comandos – similar a IAs como ChatGPT e Gemini.
A assistente também entende o que está escrito na tela do aparelho, com maior integração ao dispositivo. A Siri vai conseguir editar fotos a partir de comandos por voz do usuário, enviar o arquivo pra outros aplicativos.
A Siri também vai conseguir entender o contexto de informações pessoais do usuário, como mensagens, e-mails e fotografias. Com isso, vai ser possível dar comandos sem fornecer contexto para a assistente, que vai conseguir “lembrar” o usuário de informações como recibos ou números de documentos em fotografias.
A Apple afirma que os recursos vão estar disponíveis junto com a plataforma Apple Intelligence, compatível com os dispositivos da marca.
Geração de imagens com IA
A Apple criou o genmoji, que utiliza tecnologia de inteligencia artificial generativa para combinar emojis na plataforma sob o comando do usuário.
Na mesma área, foi mostrado o Image Playground para que usuários possam “brincar” com as novas funcionalidades de inteligência artificial generativa. Desenvolvedores também vão poder utilizar a tecnologia para criar apps.
iOS 18
Os anúncios começaram com mudanças no design do sistema operacional do iPhone. Será possível reorganizar os aplicativos da tela de início de acordo com uma nova grade para dispor os apps. Uma das novidades para a Apple é permitir que as cores de aplicativos e de barras de ferramentas possam ser modificadas.
A customização chega também à central de controle, acessada por um deslize de dedo no topo da tela direita do iPhone. Com o novo sistema, a central vai permitir apresentar galerias de aplicativos específicos, como música e exercícios. Esse formato já era explorado no sistema anterior do watchOS, o sistema operacional do relógio inteligente da marca.
A tela de desbloqueio vai permitir que aplicativos tenham acesso rápido - os botões de câmera e lanterna poderão ser substituídos por outros comandos e aplicativos, de acordo com a necessidade do usuário. Por exemplo, o botão de ação do iPhone 15 Pro vai poder ser utilizado para outras funções.
Também vai ser possível esconder um aplicativo da tela do celular, a partir de um recurso que vai “trancar” o app em uma outra aba do celular - o recurso de pasta secreta já existia no Android.
Os aplicativos de Mensagens e e-mail ganharam novidades. Agora, vai ser possível agendar mensagens, reagir a mensagens com emojis próprios e efeitos nas letras. Outro recurso é o envio de mensagens por satélite – disponível apenas usuários de países selecionados (Brasil não está incluso).
Já o app de e-mails nativo do sistema vai conseguir organizar mensagens a partir do conteúdo, como promoções pagamentos. Além disso, vai ser possível reunir e-mails de uma marca em uma nova aba, como companhias aéreas ou restaurantes.
O aplicativo de mapas agora possui novos gráficos topográficos mais detalhados para ajudar em percursos de trilhas, incluindo rotas pré estabelecidas em parques nacionais dos EUA.
O aplicativo de carteira da Apple vai permitir que pessoas aproximem o iPhone para fazer pagamentos, sem necessidade de trocar números.
O app de Fotos ganhou o “maior redesign” da história do app, lançado em 2007 com o iPhone. Com o novo formato, vai ser possível reorganizar as imagens selecionadas no canto inferior da tela. Já a grade de fotografias e vídeos vai ficar no topo.
Novidades para o AirPod
Os AirPods vão conseguir detectar o movimento de cabeça do usuário para dar comandos. Por exemplo, se a pessoa balançar a cabeça negativamente, o aparelho vai conseguir recusar um comando dado pela Siri, sem necessidade de usar a voz.
Outra novidade é o cancelamento ativo de voz do aparelho, exclusivo dos AirPods Pro. A funcionalidade é útil para ambientes barulhentos, onde é necessário “silenciar” o som ambiente na chamada para tornar a voz mais clara.
Vision Pro chega a mais países
Os primeiros anúncios foram em relação aos óculos Vision Pro. A Apple vai começar as vendas internacionais dos óculos de computação espacial no restante do mundo. A China vai receber o aparelho em 28 de junho, seguida de Austrália, Reino Unido, França, Alemanha. O Brasil não está incluso.
iPad finalmente ganha calculadora
Demorou 18 versões do sistema para o tablet da Apple ganhar uma calculadora. O anúncio foi recebido com muita euforia pela plateia. Lançado em 2010 por Steve Jobs, o iPad nunca t um app próprio da marca para fazer cálculos.
O app de Calculadora do iPad vai receber suporte para a caneta Apple Pencil, pela qual o usuário vai conseguir fazer notas em texto por extenso, como se fosse um caderno. O sistema do tablet vai identificar os números e conseguir realizar as operações matemáticas, que incluem cálculos geométricos a partir de desenhos.
O iPad também vai ter um recurso de identificar a letra cursiva de usuários, chamado de “Smart Script”. O sistema vai conseguir deixar os “garranchos” dos usuários mais bonitos, mas ainda mantendo o estilo de escrita de cada um. Além disso, o tablet vai conseguir fazer correções de texto, como se o conteúdo estivesse digitado.
macOS
A nova versão do macOS, sistema operacional dos computadores da marca se chama Sequoia. Os computadores vão receber continuidade com o Vision Pro – o termo refere-se à integração entre os dispositivos entre da marca.
Nos computadores da Apple, vai ser possível controlar o iPhone a partir do Mac. O recurso permite usar o teclado e mouse do MacBook para digitar no iPhone, sem precisar tirar o smartphone do bolso.
No exemplo da Apple, é possível usar o app Duolingo, de ensino de idiomas, diretamente do computador. O áudio vai sair do Mac. Enquanto estiver conectada ao computador, a tela do iPhone permanece bloqueada
Na continuidade entre Mac e iPhone, vai ser possível arrastar arquivos de um dispositivo para o outro, usando a mesma tela do Mac.
No macOS, o sistema vai conseguir reorganizar as janelas automaticamente. Além disso, a Apple vai permitir inserir fundos de imagem próprios em chamadas de vídeo. No MacOS Sequoia, as telas vão se alinhar automaticamente quando forem minimizadas, para que a tela seja dividida em várias partes durante o trabalho com muitas abas ou aplicativos abertos, por exemplo
A Apple criou um aplicativo novo, batizado “Senhas”. A ideia é ser um gerenciador de senhas aleatórias e longas, guardadas sob biometria. A empresa afirma que não tem acesso às senhas, armazenadas localmente nos dispositivos.
A Apple também afirmou que no novo MacOS, o Safari é o navegador mais rápido e mais potente compativel. A empresa afirmou que é possível economizar até 4 horas a mais de bateria durante reproduções de vídeo em comparação com o rival Chrome, do Google, na mesma atividade.
Apple Watch
No watchOS, sistema operacional do Apple Watch, vai ser possível selecionar um “dia de descanso” nos anéis de exercícios, sem prejudicar o ritmo de treinos do usuário.
A aba fitness, que mostra os dados do Apple Watch no iPhone, também vai poder ser personalizada para mostrar informações e métricas que mais se adaptam à rotina de uso do usuário.
Além disso, um novo aplicativo chega ao relógio para ajudar a monitorar sinais vitais do usuário. Chamado Vitals, o app é um tracker de atividades que avisa quando métricas de saúde, como ritmo de respiração, batimento cardíaco ou padrões de exercícios estiverem fora dos níveis considerados normais para o usuário. Quando uma dessas situações for detectada, o app vai enviar uma notificação para o usuário recomendando que ele possa checar seus sinais vitais.
O sistema do Watch vai conseguir escolher as melhores imagens do app Fotos para transformar em bloqueio de tela. A ideia é selecionar os melhores momentos e lembranças do usuário para colocá-los na tela do aparelho.
Apple TV
No serviço de streaming Apple TV, o usuário vai poder usar o recurso InSight para ver quais os atores e atrizes que aparecem na tela. Recurso semelhante já está disponível no Prime Video, da rival Amazon.
O serviço vai ganhar o formato de 21:9, geralmente utilizado em cinemas. Esse formato é mais comprido que o utilizado em séries de televisão, mais quadrangular.
*O jornalista Guilherme Guerra viajou a convite da Apple
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