Após nove anos de espera, The Last Guardian finalmente chega ao PlayStation

Aguardado game da Sony traz aventura entre garoto e seu animal de estimação, jogo é considerado sequência dos clássicos Ico e Shadow of the Colossus

PUBLICIDADE

Por Bruno Capelas
Atualização:
Assim como seus antecessores, The Last Guardian é um game envolto em mistério Foto:

Fazer um jogo não é algo rápido: o ciclo médio de desenvolvimento de um game para consoles costuma durar entre 18 e 24 meses. No entanto, há alguns trabalhos que costumam demorar algum tempo até vir à tona – quando a produção se torna um suplício, o game vai parar no chamado “inferno do desenvolvimento”. Nesta terça-feira, 6, um dos títulos mais aguardados da última década deixará o inferno e encontrará o “paraíso” dos videogames: The Last Guardian, novo projeto dos mesmos criadores de Ico e Shadow of the Colossus, chega (apenas) ao PlayStation 4 após nove anos de espera. 

PUBLICIDADE

Inicialmente pensado para o PlayStation 3, The Last Guardian passou por um tumultuado processo e inúmeros adiamentos desde que seu desenvolvimento foi revelado, ainda em 2007. Houve quem não acreditasse que o jogo sairia mais – até que ele ressurgiu na apresentação da Sony na E3 de 2015. 

Para a equipe responsável pelo game, no entanto, a demora – e a pressão dos exigentes fãs – não atrapalhou o desenvolvimento de The Last Guardian. “A chave para o sucesso do Team Ico em seus primeiros jogos foi mostrar sua visão ao mundo, sem pensar na opinião pública. Nesse sentido, acredito que o time está pronto como nunca para entregar The Last Guardian ao público”, diz Takeshi Furukawa, músico responsável pela trilha do game, em entrevista ao Estado. 

Assim como seus antecessores, The Last Guardian é um game envolto em mistério – e que apela bastante para visuais exuberantes e uma narrativa sensível e bastante subjetiva. “As direções de Fumito Ueda [diretor do jogo] eram sempre conceituais, como ‘quero que a música seja como a luz que brilha entre as nuvens’, me dando muita liberdade”, diz Furukawa, exemplificando a carga emocional do game. 

Mais uma vez, como em Ico (de 2001) e Shadow of the Colossus (de 2005), a jogabilidade é baseada em uma dupla de personagens. Dessa vez, acompanhamos um garoto e seu animal de estimação – um grifo com asas de pássaro e cara de cachorro –, chamado Trico. A missão, ao longo do game, é resolver quebras-cabeças e cenários com a inteligência do garoto e o instinto animal da criatura. 

Na entrevista a seguir, Furukawa fala mais sobre seu trabalho compondo a música de The Last Guardian e sobre as diferenças entre criar trilhas sonoras para filmes ou para jogos. Além disso, ele dá pistas para quem quiser saber mais sobre o lançamento, que será vendido no Brasil com o preço sugerido de R$ 200. “O jogo é a quintessência do estilo de Ueda, seja na arte, na narrativa assombrosa ou no aspecto emocional de seus jogos”, diz Furukawa. 

The Last Guardian foi anunciado em 2007, e a expectativa dos jogadores cresceu muito nos últimos anos. Como é trabalhar nesse projeto? O jogo vai entregar o que os jogadores esperam?  Foi um privilégio trabalhar em The Last Guardian. Considerando a atenção estimada do público com o jogo, passei por momentos de ansiedade e dúvida que daria certo. Fui verdadeiro com meus instintos e escrevi minha música de forma sensível sem me preocupar com o que os outros pensavam. Da mesma forma, acredito que a chave para o sucesso do Team Ico foi mostrar sua visão ao mundo, sem pensar na opinião pública. Nesse sentido, acredito que o time está pronto como nunca para entregar The Last Guardian ao público. 

Publicidade

Você ganhou um concurso para colocar sua música em The Last Guardian. Como foi isso? Tive a chance de mandar uma fita demo para Tommy Kikuchi, produtor que trabalhou em Shadow of the Colossus. Como um fã dos outros jogos, abracei a oportunidade com entusiasmo. Não sei bem sobre os detalhes, mas eles tiveram inúmeras buscas por candidatos até me encontrarem. Fui convidado para me juntar ao projeto há cinco anos. No entanto, com a mudança de plataforma do jogo, comecei a compor apenas em 2013. 

Como foi trabalhar com Fumito Ueda? Que tipo de orientação ele te forneceu?  Trabalhar com Ueda foi inspirador. Ele é um gênio perfeccionista, cujo gosto criativo não tem fronteiras. Ele e seu time me disseram que a música de The Last Guardian deveria ter o estilo de um filme, sem as restrições técnicas de trilhas convencionais de games. Além disso, eles queriam que a trilha fosse mais ocidental, sem os gostos idiossincráticos musicais que são populares no Japão. Era engraçado, porém, pois as direções de Ueda-san eram sempre conceituais, como “quero que a música seja como a luz que brilha entre as nuvens”, me dando muita liberdade. Minha esperança é que essa trilha entregue aos jogadores o mesmo sentimento de excitação que eu tive quando era criança curtindo meus filmes e jogos favoritos. 

Como é compor para videogames? É diferente de criar músicas para um filme ou para uma orquestra? Cada formato tem prós e contras. A música dos games é frequentemente concebida para funcionar de forma não linear, de maneira que são as ações do jogador que ditam como um mundo aparece. Normalmente, ela é escrita de forma mais livre, focando em sentimentos ou níveis de energia, ao invés de ser sincronizada com eventos específicos. Nos filmes, há uma ligação natural entre o visual e a música, e às vezes o compositor fica preso, contradizendo algo que poderia ser mais… “musical”. Em trabalhos para orquestra ou concertos é onde há mais liberdade para os compositores – mas é o que eu acho mais difícil de escrever. Parte da minha inspiração vem do visual para o qual componho. Acredito que limitações criativas me ajudam a ter melhores resultados. 

Dessa vez, acompanhamos um garoto e seu animal de estimação – um grifo com asas de pássaro e cara de cachorro –, chamado Trico. Foto:

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Você jogou Shadow of the Colossus e Ico? O que acha deles? E como The Last Guardian se parece com eles? Sim, claro! Admiro muito ICO e Shadow of the Colossus por sua histórias e músicas belas. Cada jogo tem uma trilha única e seminal, então criar as canções de The Last Guardian foi uma tarefa hercúlea. O jogo é a quintessência do estilo de Ueda, seja na arte, na narrativa assombrosa ou no aspecto emocional de seus jogos. 

Recentemente, o Spotify lançou um canal específico para música de jogos. O que você acha disso? Trilhas de jogos são diferentes de outros tipos de música?  É maravilhoso que as músicas de games são exibidas em diversas formas. Até mesmo rádios de música clássica e grandes orquestras estão executando tais peças, e acredito que a “game music” pode entrar no cânone dos grandes concertos. Da mesma forma que Brahms fez com sinfonias e Wagner com óperas, algumas das grandes mentes musicais dos nossos tempos trabalharam com música de jogos. Já estamos bem longe da fase dos “blips e blops” da música 8-bit, e não vejo as trilhas de jogos distantes das trilhas de filmes. Acredito que só há dois tipos de música: boas e ruins. Quais são seus discos e músicas favoritas?  Cresci ouvindo a coleção de música erudita do meu pai, com trabalhos de Rachmaninoff, Sibelius e Shostakovich entre os meus favoritos. No entanto, foi a trilha sonora de Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros que me inspirou a ser um compositor. A música épica de John Williams mudou minha vida, e é até hoje minha gravação favorita de todos os tempos. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.