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Opinião|Dá para reinventar os games?

Hoje, há três formas básicas de jogar: consoles, PCs e celulares. Stadia, o novo serviço do Google, funciona nos três aparelhos – é como se tudo pudesse se juntar

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O presidente executivo do Google, Sundar Pichai, apresenta o Stadia na GDC Foto: Justin Sullivan/AFP

Quando Sundar Pichai subiu ao palco da Conferência Anual de Desenvolvedores de Games, na terça, quem era do ramo estava atento. Afinal, a proposta apresentada pela gigante de buscas pode mudar radicalmente, e de muitas formas distintas, a maneira como vídeo games funcionam. Não é mera distração: 2018 fechou com a indústria valendo, no mercado, US$ 135 bilhões, de acordo com a GamesIndustry.biz. Um crescimento de 11% sobre o ano anterior. A indústria do cinema fechou o mesmo ano em US$ 136 bilhões pelas contas da consultoria IBIS World — e isto porque serviços de streaming puxados pela Netflix ajudaram.

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A maneira simples de explicar Stadia, o serviço o Google pretende lançar ainda este ano, é que é a Netflix dos games.

Hoje, há três formas básicas de jogar. Um console como Xbox da Microsoft ou PS4 da Sony; um game casual no celular; ou, então, versões feitas para computador. Os três estilos atendem a tribos muito diferentes e, embora por vezes os jogos existam em versões para duas ou até três das plataformas, esta não é uma regra geral. No modelo de games via streaming do Google, isto muda. É possível jogar uma partida no celular, aí passar para a smart TV, daí para o computador. Funciona em Windows e MacOS, em iOS e Android, onde houver um browser Chrome, Stadia funcionará. E como o controle nas mãos do jogador parece os de console, é como se tudo pudesse se juntar.

O repórter do site especializado Gamespot, que jogou um pouco do clássico Doom no estande do Google durante a conferência, não gostou. Em Doom, o jogador incorpora um soldado aliado que, arma à mão, sai por aí matando demônios e zumbis. É, por natureza, um game rápido, os inimigos aparecem de repente e a rapidez nos reflexos para mirar e atirar é o que determina vitória. Só que, entre o mouse ser movido e a mira na tela se mexer, o resenhista percebeu uma pequena demora. Microsegundos que sejam, é fatal. Games de ação só funcionam se entre o clique e o tiro a demora for zero.

Mas a internet opera seguindo as leis da física. Uma coisa é quando o mouse está ligado direto à CPU. Outra distinta é quando o computador ou celular está ligado ao WiFi, que bate num cabo, que faz trafegar impulsos elétricos de servidor em servidor, muitas vezes atravessando países inteiros. Stadia vai ser lançado nos EUA, no Canadá, em alguns países da Europa e só. Para fazer streaming de games, o Google precisou desenhar novos chips para novos computadores e os parques de servidores, ainda assim, precisam estar o mais próximo possível de quem joga.

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Tecnicamente, a equipe garante que resolveu o problema do delay. Isto vai definir se dá certo ou não. De qualquer forma, o Google não está sozinho. A Microsoft também pretende lançar um serviço de streaming de games. A Amazon, idem.

O Google tem uma carta na manga. Gamers sérios assistem a gamers profissionais jogando no YouTube. Aprendem truques assim. Em 2018, foram assistidas 50 bilhões de horas de videogame na plataforma que pertence, claro, ao Google. Stadia é integrado ao YouTube. Quem assiste ao filmete de um jogo poderá seguir um link e cair naquela fase para viver o que o gamer profissional viveu. E o controle que o Google lançou, uma mistura perfeita entre os modelos dos consoles Xbox e PS4, tem um botão que permite transmitir de imediato qualquer partida, ao vivo, para o público.

Assim, o Google consegue juntar as três plataformas de games — consoles, computadores, celulares — com a experiência crescentemente popular de assistir a games. Faz todo sentido. Se funcionar.

Mas não custa lembrar: a Amazon é tão boa de nuvem quanto o Google. E comprou o Twitch, a plataforma favorita de vídeo dos gamers. Vai ter briga.

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