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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|E começa a era da voz

Conversar com a casa, porque ela está lentamente ganhando inteligência, é um momento novo de nossa vida digital

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Assistente aprendeu a falar não só o português, mas também o inglês com sotaque brasileiro Foto: Taba Benedicto/Estadão

Começou no Brasil a guerra das assistentes digitais. Com o lançamento oficial, pela Amazon, de três das suas caixas de som inteligentes, vai se dar aqui uma batalha que, nos EUA, teve início há três anos. Ainda faltam entrar no mercado local, ao menos oficialmente, também a série de caixas do Google e a da Apple. E, assim, está dada a partida para a era da interface de voz. Em termos, claro. Muitos dos que usam iPhones já têm o hábito de recorrer à Siri pedindo instruções quando não dá para teclar. Português brasileiro já é a segunda língua mais popular da Google Assistente. No mundo. Ou seja, estas plataformas de inteligência artificial que reconhecem voz e executam comandos a partir daí já estão entre nós, e são populares, faz algum tempo.

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A diferença é que quando saem do smartphone e vão para o centro da sala de estar, a relação com a tecnologia muda. No celular é aquele momento rápido de praticidade — mãos ao volante, é preciso dar um endereço ao GPS. Na sala, a postura é outra. É um criar o hábito de conversar com a casa, de dar instruções. Qual minha agenda hoje? Toque Caetano Veloso. Ou mesmo um “vai chover à tarde?”, dito quase sem pensar, antes de bater a porta, para decidir se é bom levar o guarda-chuvas.

Conversar com a casa, porque ela está lentamente ganhando inteligência, é um momento novo de nossa vida digital. Por isso mesmo, criar a personalidade desta voz que nos responde não tem nada de simples e varia de cultura em cultura.

Foi o que a equipe da Amazon descobriu ao reinventar sua assistente, que se chama Alexa, para nosso português. No Japão, por exemplo, ou mesmo na França, Alexa é muito formal. No Brasil, não. É brasileira — e, como sói, faz graça. Pergunte por que time ela torce, e ela dribla discreta. É pela Seleção. Nos EUA, torce pelos Seattle Seahawks — lá, o hábito é que todo mundo torce pelo time de sua cidade. A Amazon é de Seattle. Aqui, imagine dizer que é corintiana ou rubro-negra para um dono palmeirense ou fluminense?

Não só. O Brasil tem uma particularidade que é, igualmente, só nossa. É como falamos inglês. Na maioria dos países, diz-se as palavras estrangeiras seguindo a lógica de cada língua. Os espanhóis não falam “uai-fai”, dizem “ui-fi” quando se referem às redes WiFi. Só que pronunciamos o inglês com um sotaque todo próprio, que mesmo americanos ou britânicos não entendem de bate-pronto. E inglês é fundamental no diálogo com caixas de som inteligentes, pois é a língua que usamos para os termos relacionados a tecnologia, assim como a de bandas e músicas que ouvimos muito. Para o Brasil, portanto, a Amazon teve de criar não uma, mas duas línguas. O Português Brasileiro e, ora, o Brazilian English.

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Este conjunto de iniciativas fazem com que uma assistente digital pareça já familiar e, por isso, diminui a barreira da intimidade. Se no início parece esquisito fazer pedidos no meio da sala, esta proximidade cultural que dá para sentir pela voz vai diminuindo a vergonha.

É um mercado no qual a Apple ainda entrou tímida, oferece apenas uma caixa — HomePod. Qualidade de som excelente, porém a Siri lá dentro só fala inglês. Por enquanto, ao menos. Nos EUA, a Amazon partiu primeiro e o Google demorou quase um ano para acompanhar. Hoje, Alexa e Google Assistente disputam cada palmo do mercado.

É difícil fazer um juízo de qual é melhor — vai do gosto do freguês. Algumas das caixas Google são trazidas, já, por importadores independentes. Google Home e Home Mini falam português. Mas, por enquanto, não estão oficialmente no Brasil. Foi a Amazon que deu o primeiro passo. 

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