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Troca de comando no Google

Cofundador Larry Page (à esq.) se prepara para assumir o cargo de CEO no lugar de Eric Schmidt (à dir.) nesta segunda-feira

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Por Agências
Atualização:

Larry Page tem a visão, a paixão e a inteligência que o Google precisa para o seu próximo líder. Mesmo assim, a medida que ele se tornará o CEO da empresa nesta segunda-feira, 4, o cofundador do Google precisa provar que sua indiferença, sua rebeldia e sua afinidade para buscar novas ideias não vão afastar os investidores e o foco da empresa. Page está assumindo o Google em meio a ameaças cada vez maiores de rivais que cresceram com muita rapidez e de agências reguladoras também cada vez mais vigilantes.

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Os investidores acostumados à consistência do Google de ultrapassar as metas financeiras se preocupam que a nova liderança traga mais ênfase em projetos de longo prazo que levam anos para dar retorno. E muitas pessoas ainda não têm certeza se Page tem habilidade suficiente para gerenciar a empresa mais poderosa da internet.

Page já aprendeu que a esperteza sozinha não faz dele um grande líder.

Dúvidas. Embora o cofundador tenha impressionado os primeiros investidores do Google com seu talento, eles ainda insistiram que ele deixasse o cargo de CEO — o primeiro do Google — em 2001. Page entregou o cargo a Eric Schmidt, executivo veterano que começou a trabalhar no Vale do Silício no início dos anos 1980 enquanto Page ainda estava na escola primária.

Os admiradores de Page dizem que aos 38 anos ele está mais maduro e menos propenso a se atrasar a todas as reuniões ou a se distrair quando as conversas não estimulam seu intelecto — habitos que ele tinha quando era CEO.

“Ainda há coisas que fazem parte de ser um CEO que não servem para a personalidade de Larry”, disse Craig Silverstein, o primeiro funcionário que Page e o outro cofundador do Google, Sergey Brin, contrataram depois da fundação da empresa em 1998. “Você tem que vestir vários chapéus diferentes quando você é CEO. Alguns deles são muito interessantes para Larry e outros, provavelmente, são menos.”

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Fiel ao seu estilo reservado, Page não fez muitas aparições públicas desde que o Google fez seu anúncio surpreendente em janeiro sobre a substituição de Eric Schmidt. O Google disse que Page não estava disponível para entrevistas.

Page, porém, tem deixado poucas dúvidas sobre sua prioridade máxima: diminuir a burocracia e a complacência que têm acompanhado a rápida transformação da empresa no atual império do século 21. A estimativa é de que o Google termine o ano com mais de 30 mil funcionários e uma receita anual de US$ 35 bilhões.

Na mente de Page, a empresa de 13 anos precisa voltar a pensar e a agir como uma corajosa startup. Estrelas da internet em ascendência, como o Facebook, o Twitter e o GroupOn, têm menos de 8 anos e estão criando produtos que podem desafiar o Google e tornar sua dominância das buscas na internet menos lucrativa.

Page tem feito comparações com os dois gênios high-tech que são ainda mais realizados: o cofundador da Microsoft, Bill Gates, e o cofundador da Apple, Steve Jobs. Como os dois pioneiros da tecnologia pessoal, Page inventou e cultivou um produto que mudou o mundo.

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Mas ele ainda está atrás deles. Como CEOs, Gates e Jobs estiveram à frente das melhores criações que suas empresas trouxeram, para o prazer dos acionistas a medida que seus investimentos aumentavam.

Page não se encaixa no molde de CEO, mesmo para os padrões da cultura “sem direção” do Vale do Silício. Ele largou sua faculdade em Standford para começar o Google e não tem uma formação em administração.

Ciência e tecnologia, porém, parecem estar no seu DNA mesmo apesar de ele ter crescido no Estado norte-americano de Michigan, onde as empresa automobilísticas dominam. Seu pai, Carl, já falecido, foi um cientista da computação pioneiro em inteligência artificial, e sua mãe ensinava programação de computador. Page começou a trabalhar em computadores quando tinha apenas 6 anos, em 1979, quando computadores eram uma raridade nas casas das pessoas. Os impulsos geeks continuaram na maioridade, levando-o a construir uma impressora à tinta com peças de Lego.

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Do contra, mas cuidadoso.Page gosta de desafiar o status quo e encoraja os seus funcionários a serem assim também. Aqueles que o conhecem suspeitam que ele adotou essa mentalidade anti-establishment quando criança nas escolas de ensino Montessori que ele frequentou, que desencorajam currículos pré-formatados e estimulam atividades independentes.

Page queria controlar seu próprio destino — e legado — desde que leu a biografia do inventor Nikola Tesla antes de entrar para o ensino médio.

Tesla não foi recompensado e amplamente reconhecido por suas descobertas nas áreas de raio X, de comunicações sem fio e de eletricidade. Page não queria que isso ocorresse com ele como um empreendedor.

Por essa razão, Page abraçou a chance de ser o CEO do Google quando a empresa começou em uma garagem alugada não muito longe da atual sede em Mountain View, Califórnia. Foi também por isso que Page e Brin criaram uma classe de ações separadas com um grande poder de voto para que eles e Schmidt permanecessem no comando depois que a empresa abriu capital em 2004. A participação de Page no Google fez dele uma das pessoas mais ricas do mundo com uma fortuna estimada em US$ 20 bilhões.

Embora os contornos da sua personalidade e seu histórico são conhecidas, Page continua a ser uma figura enigmática em Wall Street.

Para alguns, ele continua a ser conhecido por seu idealismo intransigente, refletido no apego ao lema da empresa “Don’t Be Evil” (“não faça o mal”) e seu compromisso em nunca atender aos desejos dos investidores por lucros trimestrais ascendentes à custa de investimentos de longo prazo.

Page já causou preocupações ao levar o Google a investir em energia renovável e em carros robóticos. Aqueles que o conhecem dizem que ele já discutiu projetos ainda mais amplos a portas fechadas.

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“Às vezes as ideias dele são tão diferentes que você acaba até gostando, tipo, ‘uau! por essa ninguém esperava’”, disse Ethan Anderson, um antigo gerente de produtos do Google que hoje comanda a Redbeacon, uma startup que controla um buscador para encontrar serviços no bairro.

A incerteza se Page será tão interessado quanto Schmidt em apaziguar os investidores em Wall Street tem contribuído para uma queda de 5% no preço das ações do Google, enquanto o índice Nasdaq, de ações de empresas de tecnologia, subiu 3% desde o anúncio da troca do CEO em 20 de janeiro.

O analista da BGC Financial, Colin Gillis, não acredita ser uma coincidência o Google ter revelado que contrataria mais de 6.200 funcionários neste ano — um aumento de 25% e o maior da sua história — a menos de uma semana antes do anúncio do retorno de Page como CEO.

“Não fique surpreso se os gastos do Google subirem, mesmo se isso significar uma queda nos ganhos para cada ação”, disse Gillis.

 

Os apoiadores de Page acreditam que o atual valor de mercado do Google, por volta de US$ 190 bilhões, vai subir ainda mais sob sua liderança. Seria uma repetição do que ocorreu depois da volta de Steve Jobs ao comando da Apple em 1997 após uma década afastado da empresa fundada por ele. Desde então, a Apple lançou os icônicos aparelhos iPod, iPhone e ipad e gerou mais de US$ 300 bilhões em retorno para os acionistas.

Mas a volta de fundadores de empresa nem sempre foi triunfante. Por exemplo a segunda tentativa do cofundador do Yahoo, Jerry Yang, de comandar a empresa entre junho de 2007 e janeiro de 2009. As ações do Yahoo caíram 56% durante esse período, mais do que a queda de 41% do índice Nasdaq. Ao contrário das outras empresas que negociam ações na bolsa Nasdaq, as ações do Yahoo não estão nem perto de atingir os níveis de junho de 2007.

Esperando uma transição suave para o novo CEO, o Google vai manter Eric Schmidt, 55 anos, no papel proeminente de presidente executivo do conselho da empresa, fazendo a ligação com legisladores e reguladores ao redor do mundo. Esse é um importante trabalho a medida em que o Google enfrenta um crescente investigação minuciosa sobre a tentativa de usar seu domínio nas buscas para entrar em novos mercados. Sergey Brin, 37 anos, pretende focar em projetos de longo prazo, deixando o comando das operações diárias para Page.

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“Estou bem convencido que essa mudança vai resultar em decisões tomadas mais rapidamente, melhor sucesso para os negócios e no fim um maior valor para os acionistas”, disse Schmidt à agência Associated Press depois de o Google anunciar a mudança em janeiro.

No passado, os três tomaram decisões chave em conjunto, embora Schmidt fosse o responsável como CEO. Schmidt guiou o Google por um ininterrupto caminho de prosperidade que superou o desempenho de outras empresas de tecnologia pioneiras, incluindo a Apple e a Microsoft, quando estavam no estágio semelhante do Google.

Page está melhor preparado para ser CEO depois de uma década de aprendizado com Schmidt, disse Douglas Merill, que trabalhou com ambos executivos, e deixou o Google em 2008 quando era vice-presidente de engenharia.

“Larry cresceu com o tempo”, disse Merrill. “Ele aprendeu como fazer os projetos funcionarem. Ele aprendeu como fazer as coisas acontecerem com o tempo e de forma previsível. Larry é como uma máquina que aprende.”

/ MICHEL LIEDTKE, COM RACHEL METZ (ASSOCIATED PRESS)

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