PUBLICIDADE

Por onde começar a empreender? Três empresárias compartilham os seus segredos

Convidadas do evento ‘Empreendedoras no Corre’ contaram os conselhos que gostariam de ter recebido no início da carreira

Foto do author Jayanne Rodrigues
Por Jayanne Rodrigues

O Brasil alcançou a marca inédita de 10,3 milhões de mulheres à frente de um empreendimento, ou 34,4% do total, segundo dados do Sebrae de 2022. Apesar dos números animadores, há ainda vários obstáculos pelo caminho - e a falta de investimento é só o primeiro deles. Às vezes, é preciso um empurrãozinho para começar, uma rede de apoio ou até mesmo um conselho. Irina Cordeiro, Flávia Durante e Watatakalu Yawalapiti entendem bem do assunto. O trio esteve presente no evento Empreendedoras no Corre, organizado pelo Estadão com patrocínio do Grupo Boticário e Dorflex.

Durante o encontro, realizado no Instituto Tomie Ohtake, uma pergunta da plateia deu o tom do que seria a conversa: “O que é mais difícil: persistência ou concorrência?” Todas responderam a primeira opção. E o que há em comum entre as histórias das três? Fácil, dizem: elas usaram as dificuldades como motor para os negócios. Veja o evento na íntegra no vídeo abaixo:

Rede de segurança financeira

PUBLICIDADE

Desde cedo, a empresária e ex-MasterChef Irina Cordeiro precisou aprender a se virar. O motivo que a levou a empreender pela primeira vez foi mais a necessidade do que a vocação em si. Ela enxergou o empreendedorismo como um meio para conquistar a independência financeira.

Cria do Rio Grande do Norte, precisou recalcular a rota inúmeras vezes. As ideias borbulhavam, mas ainda faltava o dinheiro. Em 2020, após fracassos e vitórias, teve um estalo. Primeiro, percebeu que a pandemia havia modificado o comportamento do brasileiro. “As pessoas queriam comida de vó”, diz.

Depois, notou que algumas regiões de São Paulo tinham pouco a oferecer quando procurava cuscuz, prato tradicional do Nordeste, nos cardápios. A semente tinha sido plantada.

Da esquerda para a direita: Gloria Vanique, mediadora do evento, Watatakalu Yawalapiti, Irina Cordeiro e Flávia Durante Foto: Marcelo Chello/Estadão

Depois de um ano de pesquisas, lançou o Cuscuz da Irina, restaurante localizado na Vila Madalena, zona oeste da capital paulista, em funcionamento há pouco mais de um ano e meio. O empreendimento se pagou em menos de cinco meses, segundo ela.

A experiência profissional proporcionou para Irina uma maturidade que a fez entender que as mulheres empreendedoras precisam construir e manter uma rede de segurança financeira, mesmo que seja pequena e tenha falhas.

Publicidade

Nasci empreendendo. Era a minha forma de realizar pequenos sonhos

Irina Cordeiro, empresária e ex-MasterChef

“Muitas vezes, precisamos pensar primeiro em um negócio que seja sustentável, que traga ascensão financeira. A partir daí, vou conseguir mudar as coisas ao meu redor do jeito que imagino e sonho”, aconselha.

A empresária lembra que, por muito tempo, achou que não seria capaz de tocar um negócio sozinha. Precisou abusar da coragem para arriscar. “Nós (mulheres) temos de provar muito mais o que sabemos fazer”, afirma.

Irina Cordeiro pesquisou o mercado durante um ano antes de abrir o próprio restaurante  Foto: Marcelo Chello/Estadão

Hoje, o Cuscuz da Irina emprega diretamente 12 pessoas. Para mudar não apenas a própria realidade, como também dos funcionários, a empreendedora aposta em capacitação e remuneração justa e digna. A meta a longo prazo prevê franquias pelo Brasil e uma ideia mais ambiciosa. “Queremos mostrar que o cuscuz é um grande case de sucesso. A missão da empresa é estar no mundo inteiro, que nem o McDonald’s.”

Uma mente curiosa: reinventando o mundo da moda

Assim como Irina, a empreendedora Flávia Durante nunca teve medo de recomeçar. Já atuou no jornalismo, como influencer nas redes sociais e nas pistas de dança como DJ. Ela é a mente por trás do Pop Plus, feira de moda plus size criada há mais de 11 anos a partir de uma necessidade pessoal.

“Sempre botei a mão na massa. Como não tinha roupa plus size, comecei a criar o embrião do Pop Plus. Queria me vestir para sair à noite e aquilo já me era negado: decote, roupa estampada, era tudo feito para um corpo magro. Achava um absurdo ser excluída da moda do jeito que eu era”, conta Flávia.

Flávia Durante teve de repensar o modelo de negócio e mudar a estratégia no meio do caminho Foto: Marcelo Chello/Estadão

Ela começou revendendo biquínis para as amigas e no trabalho. A demanda veio, e a partir daí Flávia decidiu preencher uma lacuna no mercado da moda. Mas nem tudo foi um mar de rosas. Das 11 edições do Bazar Pop Plus, ela conseguiu patrocínio somente cinco vezes. Não bastassem o empecilho financeiro e o sufoco ao longo da pandemia, encarou um novo desafio: a mudança do jeito de o brasileiro consumir. “As pessoas perderam o medo de comprar online e isso afetou o Pop Plus”, diz.

Estamos fazendo apologia à felicidade, a se vestir bem e a se exercitar. Esse é o diferencial de tudo o que construímos

Flávia Durante, fundadora do Bazar Pop Plus

Chegava a hora de repensar o modelo de negócio. Flávia mudou a estratégia, se adaptou e desmembrou a feira em eventos menores. “Aprendi depois de apanhar muito”, afirma. Apesar do ziguezague na jornada, ela defende que não é necessário ter uma fortuna para ser uma empreendedora de sucesso. “Comecei com cara de pau. Depois de perder dinheiro fui aprendendo que dá para fazer muita coisa com parceria.”

Publicidade

Flávia, no entanto, tem uma meta oposta à de Irina Cordeiro. Em vez da expansão do negócio, torce para que um dia não seja necessário ter mercados nichados. “Sonho em um dia não precisar mais existir o Pop Plus.”

Economia sustentável para manter a floresta em pé

Watatakalu Yawalapiti também nunca imaginou que um dia seria empresária. As coisas foram acontecendo. “Como vim parar nisso? As portas sempre foram fechadas na nossa cara (pessoas indígenas). Mas nossa criatividade vem desde sempre. Carregamos a arte junto com a gente”, diz.

Além de empreendedora, ela é cofundadora da ANMIGA (Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade) e coordenadora-geral do projeto ATIX-mulher no Xingu.

Watatakalu Yawalapiti venceu estereótipos e é inspiração para outras mulheres na aldeia Foto: Marcelo Chello/Estadão

Para Watatakalu não existe empreendedorismo sem sustentabilidade. A Amazônia em pé vem antes do dinheiro. “O maior valor é ter um rio limpo para tomar banho, nosso supermercado é a floresta”, afirma. E foi exatamente com o objetivo de disseminar uma economia mais consciente que ela virou a chave de vez para empreender.

A mãe de Watatakalu, exímia vendedora de cerâmica, a inspirou a profissionalizar os produtos. São artes em miçangas, grafismos em tecidos, acessórios e peças de roupas originais. O pioneirismo no território Xingu serviu de inspirações para outras mulheres na aldeia.

“Também tirou o estereótipo de que o povo indígena não trabalha. Aqui nós trabalhamos para produzir nosso próprio alimento e para gerar renda.”

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.