Publicidade

Paletas mexicanas, cupcakes: o que acontece com as franquias que ‘estouram’ e depois saem de moda?

Passado o boom de vendas, empresas se reestruturam e mudam modelo de negócio para crescer; empreendedores precisam tomar cuidado

PUBLICIDADE

Foto do author João Scheller
Por João Scheller
Atualização:

Paletas mexicanas, cupcakes e frozen iogurte. Todos esses produtos tiveram um boom de vendas no passado, impulsionados pela abertura de unidades via franquias, mas viram seus produtos saírem de moda alguns anos depois, quando não eram mais uma novidade no mercado. Isso é um risco para empreendedores novatos (veja aqui os cuidados que especialistas recomendam para evitar armadilhas).

PUBLICIDADE

A principal rede de paletas mexicanas, Los Paleteros, por exemplo, fechou todas as suas 100 unidades franqueadas nos últimos anos, desde que as vendas começaram a cair entre 2015 e 2016. Já a Yogoberry, responsável por trazer o sorvete de iogurte para o País, por exemplo, saiu de 140 unidades no auge de vendas para as 28 que funcionam atualmente.

Desde então, essas empresas viram-se obrigadas a se reinventar, reformulando seu modelo de negócio para um novo cenário, com mais concorrentes e uma clientela acostumada com os produtos.

Paletas mexicanas começaram a ser vendidas em meados de 2012 e tiveram o auge entre 2014 e 2015 Foto: Sérgio Castro/Estadão - 23/01/2015

Com boom de concorrentes, mercado fica saturado

O aumento de empresas concorrentes é um dos fatores de saturação das paletas mexicanas, diz Gilberto Verona, co-fundador e CEO da paranaense Los Paleteros.

As paletas surgiram como picolés grandes, de cerca de 120g, recheados com diferentes sabores.

“Ocorreu uma prostituição do mercado”, afirma. “A gente abriu uma unidade conceito em Moema (zona sul de São Paulo) e depois de cerca de três meses abriram outras nove paleterias em volta.”

Segundo ele, os produtos concorrentes tinham qualidade menor e por isso eram mais baratos.

Publicidade

Ele avalia que, apesar dos problemas a partir de 2015, quando as unidades da empresa começaram a enfrentar queda forte de faturamento, a companhia conseguiu crescer muito por meio das franquias. “Esse mercado funcionou para nós por quase sete anos.”

Euforia afetou Yogoberry

Um movimento parecido foi observado pela Yogoberry. A marca chegou ao País em meados de 2008 por meio das irmãs sul-coreanas Un Ae Hong e Jong Ae Hong.

Com a primeira loja aberta no Rio de Janeiro, não demorou para que a marca se expandisse através de franquias, chegando a 140 unidades em funcionamento no País, acompanhada de outras diversas marcas.

Empresas tiveram que se reestruturar para continuar vendendo seus produtos. Na foto, fábrica da Los Los, que vende paletas mexicanas sem contar com o esquema de franquias Foto: Felipe Rau/Estadão

Passado o interesse inicial pelo produto, muitas unidades sofreram com a queda de público e tiveram que fechar as portas. “Houve um boom de aberturas de loja, num momento de euforia tanto dos franqueados, quanto da franqueadora”, avalia o empresário Leonardo Diniz, que comprou a marca em 2019.

Cotas de cupcake sem trabalhar na franquia

Um exemplo do boom de certas franquias no mercado foi o movimento da rede The Original Cupcake, que, em meio à crescente de vendas, chegou a oferecer cotas de suas unidades próprias para aqueles que buscavam um investimento menor de dinheiro e tempo.

Isso porque os cotistas ficavam responsáveis somente pelos aportes em troca de um percentual do faturamento das unidades, que eram completamente administradas pela franqueadora.

À época, o movimento foi criticado pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), já que os cotistas não constavam nos contratos sociais das unidades.

Publicidade

A reportagem do Estadão tentou, sem sucesso, contato com a empresa. O site da companhia está fora do ar, e as redes sociais não são atualizadas desde 2018.

Frozen iogurte chegou ao Brasil no final dos anos 2000 e deu espaço para o surgimento de diferentes marcas Foto: Felipe Rau/AE - 31/08/2010

Empresas mudam modelo de negócio e público

A Los Paleteros percebeu que continuar com as franquias não seria viável e optou por não renovar os contratos dos franqueados a partir de 2017. Ainda em crise, a empresa sofreu durante a pandemia e teve dificuldades para retomar as vendas depois do período.

“Teve de tudo: estoques vencendo, fábrica parada, e, quando as vendas voltaram, ainda eram muito modestas”, afirma Verona.

Ele diz que, desde então, a companhia aposta na manutenção das lojas próprias e na concessão de freezers para a venda das paletas em diferentes estabelecimentos, no mesmo modelo que as marcas de picolés.

A Yogoberry, reestruturada pela nova direção, passou a apostar em uma clientela de poder aquisitivo maior e mais preocupada com a alimentação.

Tendo mais critérios para abertura de novos pontos, a empresa voltou a expandir suas operações com franquias e hoje possui 28 lojas abertas e mais seis em fase de planejamento.

O faturamento em 2022 foi de R$ 21 milhões, e a expectativa é de chegar a R$ 35 milhões neste ano.

Publicidade

Falta de diversidade é um problema, dizem especialistas

A falta de diversidade de produtos, aliada ao crescimento muito rápido e pouco estruturado são alguns dos fatores apontados por especialistas para a dificuldade de expansão de determinadas marcas.

“O número de pessoas que vai entrar para consumir o seu produto a ponto de pagar as operações é algo que tem que ser analisado”, afirma Leandro Reale, consulto de negócios do Sebrae-SP.

Ele menciona que o fato de essas franquias ofertarem só um tipo de produto dificulta ainda mais a sustentabilidade do negócio, especialmente considerando que não são de consumo essencial.

O argumento é o mesmo de Enio Pinto, gerente de relacionamento com o cliente do Sebrae nacional.

Ele cita que muitos desses produtos funcionam melhor quando vendidos em outras localidades, como os freezers de sorvete em restaurantes e lojas de conveniência. “Tanto que foi o destino de algumas dessas marcas”, diz.

José Vicente Mazzarella fundou a Los Los em meio ao boom de vendas das paletas mexicanas Foto: Felipe Rau/Estadão

Paleta de 7Belo e Ovomaltine

A compreensão do perfil desses produtos fez com que algumas marcas concorrentes conseguissem crescer mesmo passado a moda.

É o caso da Los Los, marca de paletas mexicanas que já nasceu com o foco na distribuição dos produtos em freezers em comodato.

Publicidade

“No começo, a gente anunciava dizendo que o comerciante poderia ter uma ‘franquia’ de paletas no seu negócio, mas sem pagar nada por isso”, conta o empresário José Vicente Mazzarella, fundador da marca.

Depois de trazer os sorvetes Rochinha, conhecidos no litoral de São Paulo, para a capital, Mazzarella abriu a Los Los, em meio ao boom de vendas das paletas.

Ele teve um crescimento grande no início, o que permitiu investir na criação de uma fábrica própria. Mas, passado o boom de vendas, veio o prejuízo. Ele chegou a ter que vender a própria casa e o carro para pagar as dívidas da empresa.

Com um sorvete menor e apostando em parcerias com diferentes marcas, a Los Los voltou a crescer.

A paleta de 7Belo trouxe um boom de vendas e marketing para a marca, que hoje vende sorvetes feitos com outros produtos conhecidos, como doce de leite Aviação e Ovomaltine, além de sabores próprios.

Los Los pretende crescer cerca de 280% nos próximos dois anos Foto: Felipe Rau/Estadão

“Começamos então a ‘desmexificar’ a empresa”, conta Mazzarella. A Los Los passou a produzir sorvetes de massa para a venda em grandes redes, como Pão de Açúcar e Carrefour, além de posicionar os seus produtos mais como concorrentes dos picolés convencionais do que remanescentes das paletas que fizeram sucesso no passado.

Presente em oito Estados, a empresa pretende crescer cerca de 280% nos próximos dois anos.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.