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Ações que podem tornar Carla Zambelli inelegível serão julgadas pela Justiça Eleitoral de São Paulo

Decisão do ministro Benedito Gonçalves devolve ao TRE-SP duas ações de investigação judicial eleitoral, mesmo tipo de processo que tornou Bolsonaro inelegível

Foto do author Isabella Alonso Panho
Por Isabella Alonso Panho

SÃO PAULO – O ministro corregedor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Benedito Gonçalves, determinou que duas ações de investigação judicial eleitoral contra a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) voltem para a Justiça Eleitoral de São Paulo. As decisões dadas nos dois processos são idênticas e têm como argumento a falta de competência da Corte de Brasília.

“Não se justifica a concentração, na Corregedoria-Geral Eleitoral, de todas as ações ajuizadas em quaisquer unidades da federação a respeito de fatos assemelhados, em prejuízo à tramitação célere das ações relativas ao pleito presidencial”, argumentou o ministro nesta segunda-feira, 10. Ele também disse que “a reunião de processos é medida que atende à racionalidade processual”.

Carla Zambelli é alvo de ações na Justiça Eleitoral Foto: NILSON BASTIAN/AGENCIA CAMARA

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As ações contra Zambelli são do mesmo tipo da que deixou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível. A ação de investigação judicial eleitoral, se for julgada procedente, tem como consequência a inelegibilidade. O gesto de Gonçalves pode aproximar Zambelli de uma eventual cassação.

As duas ações contra a deputada foram propostas no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) e a a defesa dela, na época capitaneada pela advogada Karina Kufa, pediu que fosse conhecida a conexão (termo jurídico para processos que têm as mesmas partes e pedidos) com outras duas ações de investigação judicial eleitoral que tramitam no TSE contra a própria deputada, Jair Bolsonaro, os filhos dele e apoiadores.

Ministro corregedor, Benedito Gonçalves, mandou as duas ações de volta para a Justiça Eleitoral de São Paulo Foto: WILTON JUNIOR

A estratégia de defesa foi tentar fazer com que as acusações contra a deputada fossem julgadas com as que pairam sobre Bolsonaro. Os dois processos do TSE têm muitos réus – uma das ações tem nove e a outra, 83 –, o que tende a protelar o curso da ação. Além disso, uma decisão que beneficie um dos réus pode ser aplicada para os demais, o que permitiria que Zambelli “pegasse carona” nos êxitos das outras defesas.

O corregedor eleitoral do TRE-SP, Silmar Fernandes, acolheu o argumento da defesa de Zamebelli e mandou as duas ações contra ela para o TSE. Nesta segunda-feira, Gonçalves discordou do entendimento de Fernandes e devolveu as duas ações para a Justiça Eleitoral de São Paulo. Com isso, a deputada terá de se defender sozinha das acusações.

No último dia 5, quarta-feira passada, Karina Kufa deixou os processos de Zambelli. Até o momento, a deputada ainda não tem advogado no processo. A advogada atuou em defesa de Jair Bolsonaro.

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Quais são as acusações?

Os dois processos contra Zambelli que voltarão para a Justiça de São Paulo foram propostos por parlamentares do PSOL em dezembro do ano passado.

A primeira ação de investigação eleitoral é de autoria de Sâmia Bomfim (PSOL-SP). Ela pede que Zambelli seja condenada por ter espalhado notícias falsas sobre as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral no final de setembro de 2022.

Sâmia Bomfim e Glauber Braga são os autores das duas ações de investigação judicial eleitoral contra Carla Zambelli  Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados

A outra ação foi proposta por Sâmia e Glauber Braga (PSOL-SP). Nesse caso, eles acusam a bolsonarista de ter incitado um golpe de Estado no final de novembro do ano passado, por meio de publicações feitas nas redes sociais.

‘Fritura’ da deputada

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Os processos do TSE aos quais a defesa de Zambelli tentou se vincular foram propostos pelos escritórios de Cristiano Zanin e Eugênio Aragão. O que tem nove réus acusa Bolsonaro, os filhos dele, a própria deputada e outros parlamentares bolsonaristas de terem atacado o sistema eleitoral. A outra, com 83, afirma a existência de um esquema de militância digital organizado e financiado por terceiros para favorecer Bolsonaro.

Desde o episódio em que Zambelli perseguiu um jornalista nos Jardins, zona sul de São Paulo, empunhando uma arma de fogo, Jair Bolsonaro tem se afastado dela. O ex-presidente e seus correligionários acreditam que o episódio foi determinante para a derrota que sofreram nas urnas nas eleições passadas.

O episódio no qual Zambelli perseguiu o jornalista Luan Araújo com uma arma em punho é considerado por muitos bolsonaristas como o estopim para a derrota do ex-presidente nas eleições passadas Foto: Estadão

Uma situação que escancarou a rusga foi a cassação de Deltan Dallagnol. Zambelli convocou seus seguidores para irem a um ato em defesa do lavajatista e foi abertamente criticada por pessoas próximas ao ex-presidente. Ela acabou publicando uma retratação. Afastada da Câmara por razões médicas, a deputada recentemente montou uma vaquinha virtual para arrecadar dinheiro para condenações judiciais.

O que diz Carla Zambelli

A reportagem entrou em contato com a assessoria da deputada Carla Zambelli, que respondeu que “irá se manifestar nos autos do processo”. A respeito da defesa processual, a assessoria enviou a seguinte nota ao Estadão: “Conforme já noticiado há mais de um mês na imprensa, houve rescisão contratual entre a deputada Carla Zambelli e o escritório da advogada Karina Kufa. A deputada passa a contar com um pool de advogados, que assumirão as causas judiciais e extrajudiciais. O anúncio dos novos defensores ocorrerá oportunamente, uma vez findo o recesso judiciário”.

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