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Acidentes de consumo afastam trabalhadores

SAULO LUZ

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Atualização:

Mais consumidores procuram atendimento médico ou são afastados do trabalho vítimas de acidentes de consumo - quando qualquer produto, serviço ou estabelecimento causa danos à saúde do consumidor. Informações do banco de dados de acidentes de consumo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) mostram que este ano, até abril, 43% dos acidentes de consumo registrados no órgão tiveram como desfecho o afastamento do trabalho, ante 30% contabilizados no ano passado.

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Foi o que aconteceu com o vendedor Elton Rodrigues dos Anjos, 28 anos. No dia 23 de dezembro de 2011, ele estava a caminho do trabalho quando de repente a tubulação de água do ar condicionado de seu Peugeot Solei 206, ano 2001, estourou e suas pernas foram atingidas por água fervente.

"Naquele momento, o desespero foi tão grande que não tive alternativa a não ser abrir a porta e pular do carro em movimento", conta. Em razão do acidente, sofreu queimaduras de 1º e 2º graus e ficou quatro meses sem trabalhar.

"Três meses sem levantar da cama", lembra. Rodrigues diz que procurou a Peugeot, mas a empresa não "ajudou em nada". "Não consertou o carro e nem cogitou reparar meus gastos médicos, mais de R$ 2 mil. Até o guincho para levar o carro à perícia da fábrica fui eu que paguei", conta ele. "Trabalho com vendas, sou comissionado", observa Rodrigues, que voltou recentemente ao emprego, mas ainda sente a lesão sofrida, o que prejudica seu desempenho.

A Peugeot diz que o veículo não tem histórico de manutenção na rede da marca e contém peças de origem desconhecida - o que provocou a ruptura do calefator no interior do painel de bordo. A vítima discorda: "Fiz sempre a manutenção preventiva do carro. Pesquisei na internet e descobri muitos casos semelhantes ao meu com a marca", diz.

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Atendimento médico

Os casos de acidentes que necessitam de atendimento médico, mas não levaram a afastamento, também aumentaram. Foram de 43% em 2011 para 48% este ano. Um dos casos é o da dona de casa Maria Adelina Soares de Pinho, 63 anos, vítima de queda na loja Vila Mariana do Supermercado Pastorinho, em dezembro de 2011.

"Após pagar minhas compras no caixa, escorreguei numa poça de azeite que não havia sido limpa corretamente", conta ela, que sofreu três fraturas no punho esquerdo. "Passei por cirurgia e fiquei com uma cicatriz de cerca de 8 centímetros", relembra ela, que reclama que o supermercado se limitou a pagar os gastos médicos particulares.

"E os dias sem trabalhar na lanchonete do meu marido? E o custo de ter de pagar uma empregada para limpar a casa? Sem falar nas dores terríveis com seguidas sessões de fisioterapia, no risco de perder alguns dos movimentos da mão. Tudo isso fica por conta do cliente?", reclama.

Procurado, o Supermercado Pastorinho afirmou que a cliente pediu indenização desproporcional e não enviou os comprovantes dos gastos médicos para análise e eventual pagamento.

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"Os acidentes de consumo estão aumentando e os problemas têm ficado mais sérios. Isso causa prejuízos aos cofres públicos (aumentando gastos do SUS) e também à atividade econômica, já que as empresas produzem menos sem os funcionários", alerta Rose Mary Maduro, coordenadora do monitoramento de acidentes de consumo do Inmetro.

Nos Estados Unidos, onde esse tipo de acidente é registrado há 30 anos, os dados apontam para 10 milhões de atendimentos médicos por ano e um prejuízo anual de aproximadamente US$ 730 bilhões, o equivalente a 1/4 do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, com danos à propriedade, mortes e tratamentos. No Brasil, eletrodomésticos são os maiores causadores de acidentes segundo o Inmetro, com 22% do total.

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