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Dia em Memória das Vítimas do Holocausto: lembrar sempre, em busca de um mundo melhor

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Por Marcos Knobel
Atualização:
Marcos Knobel. FOTO: DIVULGAÇÃO  Foto: Estadão

"A tentativa de assassinar a memória é apenas o primeiro passo para o assassinato de seres humanos"Roney Cytrynowicz[1]

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O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, 27 de janeiro, foi instituído pelas Nações Unidas em 2005. A data remete à libertação, em 1945, do campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia, onde foram assassinadas mais de um milhão de pessoas, a grande maioria, judeus. Mas também milhares de ciganos, homossexuais, pacifistas, pessoas com deficiência, dissidentes políticos e prisioneiros de guerra soviéticos. Todos aqueles que o nazismo, em sua busca por uma "raça perfeita", considerava indignos de viver.

Em todo o mundo adata será marcada por discursos, filmes e testemunhos. O mais importante, porém, é narrar o que ocorreu às novas gerações, nesses tempos em que proliferam o negacionismo e as fake news. As redes sociais, transformadas em terra de ninguém, são terreno fértil para quem nega o Holocausto e pretende difundir todo e qualquer tipo de discurso de ódio.

Negar o Holocausto é parte de um movimento de imposição de um pensamento único, de destruição da opinião livre, o que pavimenta o terreno para o totalitarismo e, muito pior, para a aceitação do totalitarismo.

O Holocausto aconteceu e ceifou a vida de mais de seis milhões de judeus , quase a metade da população judaica mundial na época , incluindo 1,5 milhão de crianças.

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"Os judeus devem ser exterminados como pulgas e percevejos", antecipava, em 1936, o ministro da Propaganda nazista, Joseph Goebbels. Não por acaso, o Zyklon B, gás usado nas câmaras dos campos de extermínio, foi criado como um inseticida contra pragas urbanas.

Erra quem enxerga o Holocausto como um crime cometido apenas contra os judeus. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) causou a morte de mais de 60 milhões de pessoas, 40 milhões dos quais, civis. E grande parte deles foi eliminada pela máquina nazista da morte. Trata-se, então, de um imenso crime contra toda a humanidade.

O perigo da banalização - Nos últimos tempos, os termos "nazismo" e "Holocausto", têm sido utilizados nas mais diferentes situações. Tal governo é nazista, tal crime se equipara a um novo Holocausto e assim por diante. Isso se explica pelo avanço do discurso de ódio, manipulado por indivíduos que tomam emprestados do nazi-fascismo, racismo e violência,  a absoluta intolerância ao outro.

Mas o Holocausto foi uma tentativa única na história de exterminar um povo inteiro e sua cultura. Portanto, não pode ser comparado a nenhum outro crime. O próprio termo Holocausto não é usado pelos judeus para identificar outras perseguições sofridas ao longo da história. Como o massacre de mais de um quarto da população judaica da Polônia e Ucrânia, no século XVII, pelas mãos dos cossacos de Bohdan Chmielnicki (1595-1657). Ou a Inquisição, que matou dezenas de milhares de judeus e muçulmanos na Península Ibérica, a partir do século XV.

Reconhecer o caráter único do Holocausto não significa, porém, fechar os olhos diante de centenas de outras violências étnicas, nacionais, religiosas ou de gênero que continuam sendo cometidas em todas as latitudes.

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De acordo com a definição da Anistia Internacional, entidade que defende o respeito dos direitos humanos sob qualquer regime, tragédias não são comparáveis. Para a vítima, o "seu" crime é o maior e ela merece sempre a solidariedade. Assim, da mesma forma que consideramos que o Holocausto foi único em seu perfil destruidor e, também, um crime contra toda a humanidade, nós, judeus, nos posicionamos contra todo discurso de ódio e toda prática de intolerância.

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Justos entre as nações - Lembrar o Holocausto significa também lembrar dos "justos entre as nações", milhares de pessoas - estudantes, religiosos católicos, protestantes e muçulmanos, guerrilheiros, mas também sapateiros e camponeses - que arriscaram suas vidas em toda a Europa e, muitas vezes, foram mortos tentando salvar judeus perseguidos.

É o momento de lembrar do Brasil e de São Paulo, que acolheram foragidos e sobreviventes do Holocausto. Sobreviventes que aqui conseguiram reconstruir suas vidas, formar famílias e colaborar para o desenvolvimento do Brasil. O mesmo Brasil que mandou 25 mil pracinhas para combater heroicamente o nazi-fascismo na Europa.

O Dia 27 de janeiro é, para nós, judeus, um momento de lembrança e de tristeza, pela perda de familiares, amigos e compatriotas. Mas é também um dia de celebrar,  a liberdade,  sobrevivência e a resistência que nossos irmãos  tiveram para recomeçar uma nova vida   e poder passar a mensagem para seus filhos , netos e bisnetos , de que nós sempre vamos lembrar o que nossos antepassados viveram , para que nossas futuras gerações  nunca mais passem por algo assim. Holocausto nunca mais !!!!

Para marcar a data, a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) e a Congregação Israelita Paulista (CIP)  realizam no domingo, 29 de janeiro de 2023, na Sinagoga Etz Chaim da CIP, um Ato em Memória às vítimas do Holocausto.O Ato lembrará os seis milhões de judeus assassinados durante o Holocausto e as outras vítimas do nazismo, com o acendimento de seis velas  por sobreviventes, autoridades políticas e civis, líderes religiosos, institucionais e jovens.

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*Marcos Knobel, cardiologista, presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp)

[1] In Memória da barbárie. S. Paulo/Edusp/1990.

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