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Opinião|Infelizmente a conscientização só nasce quando acontece em nossa família

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convidado
Por Wolf Kos*
Wolf Kos Foto: Arquivo pessoal

A Organização das Nações Unidas estabeleceu a data de 3 de dezembro como o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, visando conscientizar e assegurar os direitos deste grupo.

Percebemos pela repercussão desta agenda mundialmente que os avanços são tímidos e o engajamento da sociedade em geral é quase restrito àquelas pessoas com deficiência ou as que convivem com familiares nesta condição, o que enfraquece muito a causa. Ou seja, a empatia é utópica. No entanto, gostaria de observar que:

  • Pessoas sem deficiência hoje podem ser pessoas com deficiência amanhã;
  • Ações que contemplam pessoas com deficiência, não comprometem em nada, pessoas sem deficiência. Vou usar um exemplo com foco na barreira arquitetônica: uma porta que permita a acessibilidade e contemple um cadeirante, não irá comprometer em nada a rotina de uma pessoa sem deficiência;
  • A intersecção ainda é um conceito em construção em nossa sociedade, onde cada qual preocupa-se apenas com o seu “lugar de fala” e milita somente se for em causa própria, ignorando que há pessoas com mais de um fator de exclusão ou mais de um marcador social: uma mesma pessoa pode ter uma deficiência física ou intelectual e, ao mesmo tempo, ser de outro grupo minorizado, por exemplo, ser mulher, ser negra ou ter diversidade de gênero ou religiosa.

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Observo que a pesquisa Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar, divulgada no ano de 2009, apontou que pessoas com deficiência juntamente com pessoas negras são as que mais sofrem bullying no ambiente escolar, portanto, concluímos que a luta pela inclusão, pela diversidade é de todos. Porém, mesmo diante das notícias diárias, o maior acesso ao conhecimento e à informação, a sensibilidade diante de fatos não é uma realidade e muitos só irão despertar para temas caros da nossa sociedade quando vivenciarem a rotina de uma pessoa com deficiência que diferente de outras pessoas pertencentes a outros grupos minorizados no processo de busca pela independência e socialização precisam da interação, do entendimento de terceiros. A frente do Instituto Olga Kos, que atende pessoas com deficiência e em situação de vulnerabilidade, tive a oportunidade de vivenciar histórias de participantes com deficiência que precisaram convencer os seus responsáveis para frequentar as oficinas de artes ou esportes, sem a anuência e dedicação de seus responsáveis não é possível a participação nas atividades. Você já deve conhecer a expressão “do luto à luta” que sintetiza a dedicação, sobretudo, de mães atípicas que é intensa e eterna. Vi pessoas com deficiência que não puderam concorrer a uma vaga de emprego porque a família não queria perder o benefício continuado ou que a família não autorizou o ingresso no ambiente acadêmico por não querer ou não poder assumir a responsabilidade de ter que levar e buscar este PCD todos os dias nas aulas. São inúmeros os relatos por um lado de sacrifício destas famílias e, em outro extremo, de infantilização por parte destes familiares, a privação ou similar.

Hoje avô de um neto autista, compartilhando os desafios das famílias atípicas, atuante há 16 anos nesta pauta, por meio do Instituto Olga Kos, entendo que o estudo, a observação, são muito distantes da realidade de viver a deficiência e deixo o convite para que mais pessoas se informem, “abracem esta causa”, independente se esta é a sua condição ou não.

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*Wolf Kos é presidente do Instituto Olga Kos de Inclusão, que há 16 anos atende pessoas com deficiência ou em situação de vulnerabilidade por meio de projetos artísticos, esportivos e científicos

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