Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Opinião|Os ecos da Paulista

PUBLICIDADE

convidado

As manifestações do último domingo na Avenida Paulista, em São Paulo, movimentaram a maior quantidade de pessoas em prol de uma causa política, desde 2022, quando ocorreram diversos atos em decorrência das eleições altamente polarizadas. Milhares de pessoas, algumas delas de outros estados, se encontraram no coração da capital paulista para defender a imagem do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, investigado por mobilizar uma suposta tentativa de golpe militar.

PUBLICIDADE

Diferentemente de outras manifestações, essa foi liderada e convocada pelo próprio ex-presidente, que decidiu mobilizar seu grupo de apoio após ver que sua situação junto à Polícia Federal e ao Supremo Tribunal Federal (STF) está cada vez mais delicada.

De uma maneira geral, a mobilização surtiu efeitos importantes para sua defesa, pois, independentemente do julgamento final, Bolsonaro, junto aos seus apoiadores, já possui uma leitura bem fundamentada acerca dos motivos “subterrâneos” para uma possível condenação.

Bolsonaro contou com vários líderes políticos importantes, incluindo alguns dos principais governadores do país, deputados federais e lideranças religiosas, como o eloquente Silas Malafaia, que fez o discurso mais forte e incisivo no último domingo, colocando em xeque, inclusive, uma eventual prisão ao fazer duras críticas ao ministro do STF, Alexandre de Moraes.

Embora a razão principal tenha sido a defesa e preservação da imagem de Bolsonaro como líder de uma oposição, que estava amortecida no primeiro ano de mandato do presidente Lula, os ecos das manifestações da Paulista possuem ressonâncias muito mais profundas.

Publicidade

A primeira delas é que a direita, que nunca desapareceu, voltou a marcar terreno e posição em um novo ano eleitoral. Antes das eleições de 2014, quase nenhum candidato à Presidência afirmava ser uma força à direita do espectro político nacional. Em dez anos, a maioria das grandes manifestações sociais do país foram organizadas por liberais e conservadores. Ademais, a tentativa de associar tais atividades a algo extremista não se sustenta, pois, com exceção da revolta do dia 8 de janeiro de 2023, nunca houve violência sistêmica nos atos, diferentemente do que ocorria em movimentos nazifascistas.

Em segundo lugar, as manifestações da Paulista ecoaram os futuros sucessores do bolsonarismo, que ainda é um elemento importante da cultura política de direita no Brasil, mas não é o único. Nos discursos dos governadores e do próprio Bolsonaro não existe uma fala redentora de que o país foi refundado pelo ex-presidente. Ao contrário do lulismo, que fez da esquerda sua refém, o bolsonarismo elegeu políticos de diferentes matizes nos estados e, agora, prepara uma das maiores transformações políticas da Nova República.

A luta pelo Senado em 2026 será o maior desafio da direita nas futuras eleições, já que é no Senado em que o campo ainda está aberto e o próprio PT está extremamente preocupado com uma possível vitória arrasadora da direita, impulsionada pelas boas avaliações que os governos vêm tendo em diversos estados populosos da nação.

É provável que o PT opte pela escolha de senadores mais ao centro do que de seu partido, como uma forma de evitar uma possível ingovernabilidade em um quarto mandato presidencial de Lula. A situação pode se complicar ao ponto de Lula presidir, mas não governar o Brasil.

Os antigos teóricos da esquerda sempre defenderam as ruas como um lugar de ocupação de espaço para que as pautas sociais pressionassem o poder da burguesia nos parlamentos e presidências. Atualmente, no Brasil, as ruas e as revoltas pertencem à direita, que não temem mais em dizer seu nome.

Publicidade

Convidado deste artigo

Foto do autor Victor Missiato
Victor Missiatosaiba mais

Victor Missiato
Analista político, doutor em História Política e professor do Colégio Presbiteriano Mackenzie (CPM) - Tamboré
Conteúdo

As informações e opiniões formadas neste artigo são de responsabilidade única do autor.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.