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PF faz buscas na casa de Bolsonaro e prende ex-ajudante, tenente-coronel Mauro Cid

Ex-presidente e aliado são alvo da Operação Venire, deflagrada no bojo do inquérito das milícias digitais; celular de Bolsonaro foi apreendido em Brasília; DOCUMENTOS: Leia a decisão do ministro Alexandre de Moraes e a manifestação da PGR

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Por Pepita Ortega , Lorenna Rodrigues (Broadcast), Julia Affonso e Marcio Dolzan
Atualização:
O tenente coronel Mauro Cid e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Adriano Machado/Reuters

A Polícia Federal fez buscas na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro na manhã desta quarta-feira, 3, e prendeu o tenente coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, além de outras cinco pessoas no âmbito de uma operação sobre a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 no sistema do Ministério da Saúde. Outros dois assessores de Bolsonaro estão entre os presos - Max Guilherme e Sergio Cordeiro.

Os outros mandados de prisão preventiva atingiram o secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ) João Carlos Brecha, o sargento Luís Marcos dos Reis e o advogado Ailton Gonçalves Moraes Barros, que foi candidato a deputado estadual no Rio pelo PL em 2022.


LEIA A DECISÃO DE ALEXANDREDocumento

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LEIA A MANIFESTAÇÃO DA PGRDocumento

Os investigadores ainda fizeram buscas na casa do deputado federal Gutemberg Reis, em Duque de Caxias, e no apartamento funcional em Brasília. A PF apreendeu o celular pessoal do parlamentar.

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Tanto o ex-chefe do Executivo federal como os aliados foram instados a prestar depoimento à PF sobre o caso. Bolsonaro havia sido intimado para ser ouvido na PF às 10h. O ex-presidente não compareceu no horário marcado.

A chefe da Central de Vacinas de Duque de Caxias, Claudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, foi conduzida à sede da Polícia Federal no Rio para prestar esclarecimentos.

Durante as diligências na residência do ex-presidente, em Brasília, os investigadores apreenderam o celular de Bolsonaro. Ao deixar sua casa na manhã desta quarta-feira, 3, o ex-presidente reforçou que nem ele, nem sua filha Laura foram vacinados contra a covid-19. Ele se disse 'surpreso' com a ofensiva e alegou 'não existe adulteração de sua parte' e 'que nunca lhe foi pedido cartão de vacina em lugar nenhum'.

Batizada Venire, a ofensiva vasculhou, ao todo, 16 endereços em Brasília e no Rio de Janeiro. As ordens foram expedidas no bojo do inquérito das milícias digitais, que tramita sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal.

Os investigadores suspeitam da falsificação de dados dos cartões de vacinação do ex-presidente, de sua filha Laura, do coronel Mauro Cid, de sua mulher e de sua filha e ainda do documento do deputado Guttemberg Reis de Oliveira.

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Segundo a PF, as inserções falsas sob suspeita se deram, entre novembro de 2021 e dezembro de 2022, e 'tiveram como consequência a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, a condição de imunizado contra a Covid-19 dos beneficiários'.

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A corporação indica que, com a alteração, foi possível a emissão de certificados de vacinação com seu respectivo uso para burla de restrições sanitárias impostas pelo Brasil e pelos Estados Unidos em meio à pandemia.

"A apuração indica que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19", indica a PF.

A Controladoria-Geral da União já investigava se houve inserção de dados falsos no cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro nos sistemas do Ministério da Saúde. O órgão chegou a derrubar o sigilo do documento, em razão de 'interesse público geral e preponderante', mas as informações só serão divulgadas após o encerramento da apuração sobre inserção de dados falsos.

A CGU chegou a solicitar dados ao Ministério da Saúde sobre 'dia e hora em que foi registrada a aplicação da vacina ministrada no ex-presidente da República no dia 19/07/2021, na UBS Parque Peruche -SP, o responsável pela efetivação de tal registro e o nome da pessoa que aplicou o imunizante naquela oportunidade'.

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Bolsonaro impôs sigilo de um século sobre o seu cartão de vacinação e alegou privacidade. Durante a pandemia, ele questionou a eficácia da vacina inúmeras vezes e desestimulou a vacinação da população.

A ofensiva aberta pela PF nesta quarta-feira mira supostos crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores.

Segundo a PF, o nome da operação, Venire, tem relação com o 'princípio Venire contra factum proprium', principio base do Direito Civil e do Direito Internacional, 'que veda comportamentos contraditórios de uma pessoa'. " Significa 'vir contra seus próprios atos, ninguém pode comportar-se contra seus próprios atos'", informou a corporação.

Um dos alvos principais da ofensiva, Mauro Cid é um dos aliados mais próximos do ex-presidente. O tenente coronel é alvo de uma série de investigações em tramite no Supremo Tribunal Federal, na maior parte delas, figurando como investigado ao lado de Bolsonaro - como no caso da apuração sobre o caso das joias, revelado pelo Estadão.

Cid é alvo do inquérito das milícias digitais - no bojo do qual foi deflagrada a Venire - desde que ele foi aberto. Antes, o coronel era investigado por atos antidemocráticos - investigação que foi arquivada e originou a apuração sobre ataques a instituições de forma organizada nas redes sociais. Foi nesse inquérito que a PF encontrou diálogos entre o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e o blogueiro Allan dos Santos.

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À época em que Bolsonaro passou a externar publicamente temores sobre a possibilidade de ser preso, o Estadão apurou que as investigações que mais preocupavam o ex-presidente eram as que atingiam seu ajudante de ordens. O ex-chefe do Executivo não é alvo de mandado de prisão no bojo da Venire.

COM A PALAVRA, O DEPUTADO GUTEMBERG REIS

Alvo de buscas na operação, Gutemberg Reis (MDB-RJ) informou que "colaborou integralmente com os agentes da Polícia Federal". A PF também esteve no gabinete do parlamentar em Brasília.

Em nota, o deputado afirmou que "recebeu todas as doses da vacina, incentivou, por meio das redes sociais, a imunização da população e colocou sua carteira de vacinação à disposição". Reis disse ainda estar "tomando conhecimento dos detalhes das investigações da Operação Venire".

COM A PALAVRA, O EX-PRESIDENTE JAIR BOLSONARO

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“A defesa do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, reitera que este, em linha com a posição que sempre manteve, nunca recebeu qualquer imunizante contra covid-19. Na constância de seu mandato somente ingressou em países estrangeiros que aceitassem tal condição ou se dessem por satisfeitos com a realização de teste viral, procedimento adotado em diversas ocasiões. A ex-primeira-dama, Dona Michelle, conforme amplamente divulgado, foi vacinada, com imunizante de dose única, no ano de 2021. A filha menor do casal, por sua vez, foi proibida de receber qualquer imunizante em razão de comorbidades preexistentes, situação sempre e devidamente atestada por médicos. A contrario sensu do quanto amplamente noticiado na data de hoje, não haveria qualquer motivo para que o ex-presidente promovesse ou determinasse a confecção de certificados falsos.”

Paulo Amador da Cunha Bueno, Daniel Bettamio Tesser e Fábio Wajngarten

COM A PALAVRA, OS DEMAIS INVESTIGADOS

A reportagem busca contato com os investigados. O espaço está aberto para manifestações.

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