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Viés inconsciente e a responsabilização de cada indivíduo

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Por Deives Rezende Filho e Iane Pessoa
Atualização:
Deives Rezende Filho e Iane Pessoa. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

O capitalismo, por si só, é estruturado no racismo. Quando pensamos especificamente na cultura brasileira, existe uma série de outras questões que aumentam a complexidade desta problemática; uma delas é o viés inconsciente, que muitas vezes é expressado por meio de racismo velado.

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Os vieses são naturalmente construídos no cérebro humano. Contudo, ao pensar em uma sociedade que coloca pessoas negras em posições vexatórias, desumanas, em situação de vulnerabilidade e muito mais, esses vieses acabam sendo ferramentas que ajudam na manutenção de estereótipos, preconceitos e discriminações.

No Brasil, é comum que as pessoas utilizem de recursos como "não querer dizer", o "eu tenho um amigo negro" ou "eu tenho um parente negro" após terem sido racistas - seja por conta do viés inconsciente ou não. O olhar, o pensamento, o comportamento demonstram muito mais o racismo existente na nossa sociedade.

Esses recursos são mais facilmente aplicáveis em contextos em que o mito da democracia racial é uma realidade, como no Brasil. Essa ideia parte do princípio de que todos nós somos iguais, de que nosso país é livre de preconceitos porque somos todos miscigenados ou qualquer outro discurso que tente nos colocar em pé de igualdade com pessoas brancas.

A dura verdade é que, como colocado acima, isso é um mito. Os dados nos permitem ver que essa ideia não passa de mais uma das teorias que silencia e oprime a vivência de pessoas negras na nossa sociedade.

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Independente de qual é a raiz do preconceito, se é um viés consciente ou inconsciente, precisamos pensar em como responsabilizar tanto indivíduos quanto o Estado e as organizações. Afinal, a população negra continua sofrendo os impactos disso em todas as esferas de suas vidas.

Nem mesmo na infância há paz. De acordo com dados de um estudo do Instituto Sou da Paz, crianças e adolescentes negros e negras de até 14 anos morrem 3,6 vezes mais por armas de fogo do que crianças brancas. Não esquecemos de Ágatha, João Pedro, Kauan e outros milhares de nomes.

Seria esse o resultado dos vieses inconscientes? Policiais que confundem guardas-chuva com armas? Balas perdidas que sempre encontram os mesmos corpos? Ou seria então mais uma forma de apropriação de um termo para tornar o racismo mais brando e culpar uma estrutura?

Quando pensamos no mercado de trabalho, a situação não é diferente. Uma pesquisa realizada pela plataforma de vagas InfoJobs mostra que quando os entrevistados/as foram perguntados se a questão racial dificulta a colocação no mercado de trabalho, 75% disseram que 'sim' ou 'às vezes'. Além disso, para 73% dos respondentes pessoas negras não possuem as mesmas chances que outros profissionais e, para 85%, ainda que uma pessoa negra seja extremamente qualificada para uma posição, ela irá enfrentar dificuldades para conquistar uma vaga, quando comparada a um candidato branco.

Em 2022, já não podemos mais nos acomodar com discursos superficiais que não nos permitem avançar em pautas tão valiosas como a equidade racial. É necessário entender de onde o problema vem, mas não podemos retirar a responsabilidade de cada indivíduo sobre a manutenção do racismo.

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*Deives Rezende Filho é fundador e CEO da Condurú Consultoria e especialista em ética, diversidade e inclusão. Escolhido pelo Forbes 2021 como uma das 10 pessoas com +50 que se reinventaram na carreira

*Iane Pessoa é especialista em D&I da Condurú Consultoria, ativista social, defensora dos Direitos Humanos e graduada em Serviço Social

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