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Governo Lula defende autoridade chinesa em Taiwan; saiba por que ilha gera tensão entre China e EUA

Declaração conjunta de Brasil e China após visita da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforça reconhecimento de que Taiwan é parte da nação chinesa, contrariando posição americana, que estimula independência do governo democrático da ilha

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Por Redação
Atualização:

Localizada a cerca de 130 km da costa da China, a ilha de Taiwan mantém um governo democrático, autônomo ao Partido Comunista Chinês e à autoridade do presidente Xi Jinping. Em meio aos interesses das duas nações mais poderosas do planeta, Taiwan tem sido um dos principais focos de divergência entre os Estados Unidos e a China, que acusa os americanos de alimentarem o desejo e movimentos da ilha para se consolidar como um país independente.

Nas últimas semanas, tanto chineses quanto americanos conduziram exercícios militares na região, elevando o clima de tensão. No início do mês, a China chegou a simular ataques e um cerco aéreo à ilha, no Estreito de Taiwan; logo depois, o governo americano conduziu manobras de guerra de escala inédita nas Filipinas. Em tom grave, o governo chinês afirmou que a “independência de Taiwan e a paz são incompatíveis”.

Pouco depois de a China realizar operação que simulava cerco a Taiwan, ilha conduziu treinamento de defesa civil para atuação em caso de eventual ataque chinês. Foto: Ann Wang/Reuters 13/04/2023

No encerramento da viagem de três dias do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, a declaração conjunta entre os dois países reforçou que o Brasil reconhece a autoridade chinesa sobre Taiwan, bem como o fato de a ilha fazer parte do território nacional. Não se trata de postura inédita, mas o posicionamento do governo brasileiro em meio a essa tensão crescente na região ainda se soma às declarações de Lula criticando a hegemonia do dólar americano no comércio internacional.

Entenda os atritos entre China e Taiwan e o papel dos EUA

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O atual cenário de tensões foi iniciado em meados do ano passado, pela viagem da presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, ao país – a primeira de uma autoridade americana de primeiro escalão desde 1997, quando Newt Gingrich, também presidente da Câmara à época, desembarcou na ilha. Apesar das sinalizações da Casa Branca de que a viagem partiu de uma iniciativa do Congresso e que não alterava a política externa americana, Pequim entendeu o gesto como uma provocação, reagindo em diferentes frentes – e aprofundando ainda mais a crise.


A China reivindica Taiwan como seu território e prometeu recuperá-lo – pela força, se necessário. Em uma ligação com o presidente americano, Joe Biden, no final de julho, o líder chinês, Xi Jinping, alertou fortemente os EUA contra a intervenção na disputa, aconselhando o democrata a “não brincar com fogo”.

Os alertas de Pequim repercutiram no Pentágono e no Comando Indo-Pacífico no Havaí, onde oficiais militares americanos foram encarregados de proteger Pelosi e avaliar o que a China poderia fazer militarmente em resposta à sua visita. Durante a viagem da parlamentar à Ásia, os EUA deslocaram navios de guerra para perto de Taiwan, aumentando a presença militar para uma eventual resposta.

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No capítulo mais recente desse processo, a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen fez uma visita aos EUA e foi recebida pelo presidente da Câmara de Representantes no Congresso, o que levou à escalada militar na região nas últimas semanas.

Guerra civil

A profunda rachadura entre a China e Taiwan remonta à guerra civil da China, que eclodiu em 1927 e colocou forças alinhadas com o Partido Comunista chinês contra o exército nacionalista Kuomintang (KMT).

Finalmente derrotado pelos comunistas de Mao Zedong, o líder do KMT Chiang Kai-shek fugiu para Taiwan, que ainda estava sob controle do KMT. A partir de então, Chiang continuou a reivindicar a totalidade da China - assim como o continente reivindicou Taiwan.

O nome oficial de Taiwan continua sendo República da China, enquanto o continente é a República Popular da China. Ambos os lados ainda reivindicam formalmente representar toda a China.

Taiwan se tornou uma democracia vibrante e desenvolvida, cuja popular presidente, Tsai Ing-wen, enfatizou a identidade separada da ilha. O KMT, agora em oposição, é mais favorável a maiores laços com Pequim, especialmente no comércio.

Parceria comercial

Washington cortou relações diplomáticas formais com Taiwan em 1979, mudando para Pequim o reconhecimento como único representante da China, com o continente se tornando um importante parceiro comercial.

Ao mesmo tempo, porém, os Estados Unidos mantiveram um papel decisivo, ainda que às vezes delicado, no apoio a Taiwan.

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De acordo com uma lei aprovada pelo Congresso, os EUA são obrigados a vender suprimentos militares para Taiwan, a fim de garantir sua defesa contra as forças armadas de Pequim, que são vastamente maiores.

Política de “uma China”

Em 1992, tanto Taiwan quanto a China continental afirmaram que havia apenas “uma China”, mas concordaram em discordar no que exatamente isso significava.

Apenas 14 nações, todas no mundo em desenvolvimento, e o Vaticano ainda reconhecem Taiwan, enquanto Pequim tenta impedir qualquer reconhecimento internacional da ilha.

Os Estados Unidos, embora reconheçam Taiwan, são cuidadosos com suas palavras. Dizem apenas que estão cientes da reivindicação de Pequim a Taiwan - e deixam para os dois lados chegarem a uma solução.

Na prática, Taiwan desfruta de muitas das armadilhas de um relacionamento diplomático completo com os EUA.

Apesar de não haver embaixada dos EUA em Taipei, Washington administra um centro chamado American Institute em Taiwan, e os diplomatas da ilha usufruem do mesmo status dos representantes de outras nações quando estão nos Estados Unidos.

Pequim é sensível a qualquer medida que possa equivaler ao reconhecimento oficial de Taiwan, como a visita da presidente Tsai a Washington, ou a pressão americana para a inclusão de Taiwan em órgãos da ONU, como a Organização Mundial da Saúde (OMS). /AFP

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