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Deputado que pediu ‘liberdade’ em inglês no ato de Bolsonaro responde a imprensa com receita de bolo

Aliado do ex-presidente e pré-candidato à prefeitura de Goiânia, Gustavo Gayer costuma responder aos pedidos de informação da imprensa com ingredientes culinários; procurada pelo ‘Estadão’, assessoria do parlamentar adotou mesma prática

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Foto do author Gabriel de Sousa
Por Gabriel de Sousa
Atualização:

BRASÍLIA – O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) defendeu a “liberdade” e a “democracia” em um discurso em inglês no ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo, 21. No dia a dia do trabalho no Congresso, o parlamentar costuma responder aos pedidos de informação feitos pela imprensa e solicitações de prestação de contas sobre seu trabalho com receitas de bolo.

O Estadão procurou a assessoria do parlamentar nesta segunda, 22, mas também obteve como resposta uma mensagem com ingredientes culinários.

Deputado Gustavo Gayer em ato em defesa de Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro Foto: Alexandre Brum/Estadão

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O parlamentar, que é pré-candidato à prefeitura de Goiânia, disse que discursou em outra língua porque o empresário Elon Musk, dono da rede social X, estaria “olhando” a manifestação realizada na Praia de Copacabana, no Rio. Gayer era professor de inglês antes de se eleger para a Câmara.

“É uma mensagem para o mundo. Olhem o que está acontecendo no Brasil hoje. O que vocês veem aqui são pessoas que amam a liberdade lutando por democracia. São pessoas que amam a liberdade e não desistem, que não se curvam à ditadura. São pessoas dispostas a dar as suas vidas e que nunca vão desistir. Nós seremos a esperança do mundo”, disse o aliado de Bolsonaro.

Mensagem enviada pelo deputado a um questionamento da reportagem do 'Estadão' Foto: Reprodução

Desde que assumiu o mandato de deputado federal, em fevereiro do ano passado, Gayer envia receitas de bolo perante qualquer questionamento da imprensa, que envolvem atuação parlamentar, questões no Judiciário e até mesmo a pré-candidatura dele nas eleições deste ano. A medida remete ao período da ditadura militar (1964-1985), quando as receitas substituíam as matérias censuradas pelo governo.

Na época, reportagens que relatavam acontecimentos sobre a política nacional eram trocadas por receitas de bolo ou poemas literários nos jornais. A prática era uma forma de os veículos de imprensa protestarem contra o cerceamento da liberdade de informação.

No final de junho, Gayer relacionou a existência de ditaduras em países da África à falta de “capacidade cognitiva” da população do continente. Respondendo ao apresentador de um podcast que afirmou que o QI dos africanos era menor que o de macacos, o parlamentar disse que o “Brasil está emburrecido” e “segue o mesmo caminho das nações africanas”.

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Na época, o Estadão entrou em contato com o parlamentar para apurar a sua versão sobre o ocorrido, mas ele enviou outra receita de bolo. Em vídeo no X, Gayer negou ter dito frases racistas e disse que a repercussão da declaração no podcast foi motivado por uma “distorção” feita pela imprensa.

A declaração motivou um pedido de cassação do parlamentar por racismo no Conselho de Ética da Câmara. A proposta não chegou a ser votada pelo colegiado. Em novembro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou denúncia no STF pedindo a condenação de Gayer por injúria e racismo e a cassação do mandato dele, em caso de pena superior a quatro anos de prisão. O caso está no gabinete da relatora, ministra Cármen Lúcia, e ainda não foi concluído.

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