PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

Sensíveis demais

Governos pecam por sensibilidade no trato com o cidadão. Parecem mais preocupados, por vezes, com seus planos pessoais ou com aspectos gerais da administração do que com o bem estar comum. Ou tropeçam em valor que a ministra do STF Carmen Lúcia deixou claro recentemente em palestra: a intolerância. Somos intolerantes, não enxergamos o outro. Os absurdos são tão alarmantes que mudam os grupos no poder e as falhas continuam existindo. Mas isso  Madison já havia dito no século XVIII...

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

 

Jundiaí no interior de São Paulo é um bom campo para explorarmos esse assunto. Por lá o PSDB reinou por longos 20 anos. E a oposição, avermelhada por PT e PC do B, principalmente, se queixava de truculência, falta de sensibilidade, exploração irrestrita de recursos naturais, mau uso do espaço territorial etc. O debate, certamente, tem duas versões, duas formas de ser avaliado e isso é democrático. Isso é política. Jundiaí cresceu demográfica e economicamente no período, mas a qual preço? Eis a discussão. Um dos preços pagos é o afastamento do cidadão em relação à gestão pública e uma precária capacidade de cumprir promessas. Em 2008, por exemplo, o prefeito Ary Fossen era esperado como candidato tucano natural à reeleição. Em um gesto partidário pouco claro foi demovido da ideia. Voltaria à ação o ex-prefeito, de oito anos de mandato, Miguel Haddad - pouco provável que haja parentesco com o petista Fernando Haddad que manda em São Paulo atualmente. Em evento promovido pela Igreja Católica naquele ano os candidatos foram convidados a falarem sobre seus planos e assinarem documentos. Uma forma de reforçarem promessas. Haddad, o Miguel, esteve lá e assinou. Cumpriu? Muitos dizem que parte do que foi estabelecido não. Ao menos é isso que afirmam aqueles que acompanharam a gestão e participaram do evento na igreja. A abertura de uma casa de entretenimento adulto masculino em um determinado bairro da cidade é um dos itens mais polêmicos. E havia quem sempre lembrasse o prefeito disso. Uma moradora andava com cópia do documento embaixo do braço e a balançava toda vez que via Haddad. Chata? Não. Cidadã. A história continuou e o SENAC se envolveu em projeto para planejar um outro bairro, Vila Ana, com a participação direta de cidadãos. Deu um trabalho danado. E muito foi proposto. Já no fim da gestão Haddad o documento original foi enviado à prefeitura que quase o assinou. Foi quando alguém teve a brilhante ideia de pedir o parecer de cada uma das secretarias. Com a derrota do PSDB nas urnas, consta que o documento sumiu em meio ao bucolismo burocrático dos últimos dias de poder. Nunca foi encontrado. Consta também, no ritmo da fofoca, que as picotadoras do município nunca funcionaram tanto. Teria o esforço da sociedade se transformado em tirinhas ilegíveis? Provável. Provável que sim.

 

Mas o PC do B, com Pedro Bigardi, assumiu a cidade em 2013 e na ideia de quem era oposição tudo mudaria. O mínimo era esperar a sensibilidade tão criticada. Ela poderia surgir em um concurso público, por exemplo, para a contratação de Educadores Sociais que trabalharão em projetos com moradores de rua, jovens etc. E lá está! Salário inicial: quase R$ 5 mil, mais benefícios como vale transporte e alimentação. Bela grana! "Sensível demais" cantariam os sertanejos Christian & Ralph. Prova única, objetiva, zelando pelo universalismo de procedimentos. Sensível demais, cantaria a dupla! Mas e a data? A data? Onze de maio de 2014 às 14h00. Exatamente isso: em pleno dia das mães, rigorosamente no horário do almoço. Mas o que é um "dia das mães" para quem quer um belo e desafiador emprego? De "educador social" onde é exigida experiência no trato com gente? Sensível, sensível demais esse povo que governa Jundiaí faz mais de 20 anos, a despeito de grupo ou partido. O Blog do Beduíno diria: é tudo farinha do mesmo saco!

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.