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Lewandowski diz que não há crise entre os Poderes e quer fundo próprio para segurança pública

Ministro da Justiça do governo Lula disse que Constituição brasileira é sólida e defendeu mais verba para equipar polícias em todo o País

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Foto do author Samuel Lima
Foto do author Pedro Augusto Figueiredo
Por Samuel Lima e Pedro Augusto Figueiredo
Atualização:

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, negou nesta segunda-feira, 22, que haja uma crise entre os Poderes no Brasil. Segundo ele, que deixou o Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado, a Constituição é “forte e sólida” e há um diálogo “bastante razoável” entre Executivo, Legislativo e Judiciário.

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A declaração ocorre no contexto de uma ofensiva do Legislativo contra o STF. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), cogita instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o Judiciário em meio à insatisfação de deputados com a atuação do ministro Alexandre de Moraes e com o que consideram a invasão do STF das prerrogativas parlamentares, como o julgamento da tese do marco temporal para demarcação das terras indígenas.

Outro ponto de discordância recente foi a decretação da prisão preventiva do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ)), apontado como um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco. Apesar da pressão de deputados bolsonaristas, o plenário manteve o parlamentar preso.

“De vez em quando se diz que há crises entre os Poderes. Não me parece que haja crises. O Congresso legisla, o Executivo eventualmente impõe alguma sanção, que pode ser derrubada pelo Congresso. Isso tudo dentro da Constituição. Da mesma forma, não há crise, penso eu, entre o Poder Judiciário, sobretudo o Supremo Tribunal Federal, e o Congresso Nacional”, disse Lewandowski durante participação no Seminário Brasil Hoje, realizado em São Paulo pelo grupo Esfera Brasil.

Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça, defendeu alterar a Constituição para dar mais poderes à União para atuar na segurança pública Foto: Wilton Júnior/Estadão

O ex-ministro José Dirceu (PT), que falou no painel seguinte ao de Lewandowski, disse que os atritos entre os Poderes são naturais. “Com o Congresso fortalecido pelas emendas e o Supremo, pelos ataques a democracia, assumindo uma função política, evidentemente tem que ir calibrando e reformando as suas relações. Esses choques são naturais. Não vejo que isso tenha maior gravidade para o país. Cada poder tem que ter consciência do seu limite e buscar entendimento”, declarou o petista.

Em outro sinal de animosidade, o Senado aprovou na semana passada uma proposta de emenda constitucional (PEC) que determina que é crime a posse ou o porte de qualquer quantidade de drogas. A votação ocorreu enquanto o STF discute a descriminalização do porte de maconha para consumo próprio e qual a quantidade que será usada para diferenciar o usuário de um eventual investigado por tráfico.

Para Lewandowski, porém, não há conflito porque o Senado discute a criminalização do porte. “O STF está abordando outro aspecto, em que ele reduz a discricionariedade do juiz para determinar se alguém é traficante ou usuário de drogas”, afirmou o ministro da Justiça.

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O ministro disse que é importante que o Congresso aprove o projeto de lei 2.630, conhecido como PL das Fake News e que foi engavetado por Lira no início do mês, e a proposta que regulamenta o uso da inteligência artificial no País. Insatisfeito com a articulação do governo Lula, o presidente da Câmara ameaça dar seguimento à chamada “pauta-bomba” contra o Executivo.

No momento em que os ministérios da Fazenda e do Planejamento discutem propor a desvinculação dos gastos com saúde e educação, Lewandowski defendeu inserir na Constituição o Sistema Único de Segurança Pública com a criação de um fundo próprio para financiá-lo. “É algo que precisamos pensar para aparelhar as polícias do Brasil e sobretudo o sistema de inteligência. É preciso de verba”, disse o ministro.

A avaliação dele é que a criminalidade deixou de ocorrer somente âmbito físico e se tornou virtual. Segundo o ministro da Justiça, o modelo de compartilhamento de atribuições na segurança pública entre os entes federativos não é mais suficiente e a Constituição tem que ser alterada para dar mais poder à União para fazer um planejamento nacional para a segurança pública que seja compulsório para Estados e municípios.

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