PUBLICIDADE

Lula recupera imagem de Cristo que o acompanhou nos dois primeiros mandatos e foi alvo da Lava Jato

Peça esteve no gabinete de 2003 a 2010, mas foi retirada pela então presidente Dilma Rousseff

Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA – Um dia depois de vândalos depredarem os prédios projetados por Oscar Niemeyer, na Praça dos três Poderes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou buscar a imagem de Cristo crucificado que o acompanhou em seus dois mandatos, de 2003 a 2010, no Palácio do Planalto. Talhado em madeira de tília e com 1,5 m de altura, o Cristo foi retirado do gabinete quando Dilma Rousseff assumiu a Presidência, em 2011.

PUBLICIDADE

Cinco anos depois, a peça virou alvo de uma caçada promovida pela Operação Lava Jato, que acusava Lula de ter surrupiado o patrimônio público. O então procurador da República Deltan Dallagnol, hoje deputado federal eleito, achava que o crucifixo havia sido esculpido por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Não era nada disso.

“Eu acho que o tempo que ele ficou guardado, a madeira foi perdendo cor”, disse Lula, ao receber a imagem, nesta segunda-feira, 9. “Tantos anos e eu descubro que estava no Museu da República. Então, eu mandei buscar e vou colocar ele aqui outra vez, onde ele sempre ficou me ajudando a governar esse País.”

A peça foi presente de José Alberto de Camargo, diretor da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que a comprou de Dom Mauro Morelli, então bispo de Duque de Caxias. Não pertencia, portanto, ao patrimônio público.

Antes de entrar no gabinete de Lula pela primeira vez, em 2003, a imagem teve de ser enviada para restauração no Centro de Conservação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em 2011, como Dilma não queria ficar com o crucifixo, ele embarcou para São Paulo. Estava encaixotado numa sala do Banco do Brasil. Não se sabe quando foi enviado ao Museu da República, em Brasília.

A “perseguição” ao Cristo promovida pela Lava Jato em 2016 terminou em fiasco no mês de março, quando Dallagnol comunicou ao então juiz Sérgio Moro, hoje senador eleito, que a imagem era propriedade pessoal de Lula, não pertencendo ao acervo do Planalto nem do Palácio da Alvorada. Além disso, também não era obra de Aleijadinho. À época, as informações foram confirmadas por Cláudio Soares, então diretor de Documentação Histórica da Presidência, frustrando os procuradores envolvidos na operação de busca e apreensão da peça.

Lula assistiu nesta segunda-feira a um auxiliar desembrulhar a imagem sobre a mesa, ao lado da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, e do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. “Você vai voltar”, afirmou o presidente, que é católico, olhando para o Cristo crucificado. “Eu já voltei, agora você vai voltar. E, juntos, nós vamos mudar esse País”, disse.

Publicidade

Há 20 anos, Frei Betto benzeu a peça, o gabinete no Planalto e rezou um Pai Nosso logo após Cristo ser acomodado na parede que ficava atrás da poltrona preferida por Lula, de couro vermelho. O ano era o de 2003. Quando o Planalto foi reformado e o presidente passou a ocupar uma sala no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), em 2009, a imagem também o acompanhou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.