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Labirintos da Política

Opinião|Fórmula dos debates dá sinais de esgotamento e novas regras precisam ser pensadas para 2026

Se os candidatos não têm educação, algo que pai e mãe dão desde o berço, o que fazer?

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Foto do author Monica  Gugliano

A campanha que chega ao fim nos próximos dias, se iniciou e seguiu por um rumo em que o debate político foi derrotado antes de começar. Resta, agora, por mais antecipado que isso possa parecer, começar a pensar em quais regras, no futuro - ou seja em 2026 e até no segundo turno (se houver) - poderão conter os candidatos para que os debates não virem circos ou lodaçais onde os postulantes – usando uma figura retórica – rolam se estapeando uns contra os outros. Contando com o último debate desta temporada, o da TV Globo, marcado para quinta-feira (ufa!!), os candidatos terão passado por 11 confrontos. Passada essa primeira temporada, não se tem uma resposta para essa balbúrdia. Ter regras draconianas? Diminuir o número de encontros? Ser mais rígido quanto à representatividade dos que podem participar? Está aí uma questão para Justiça Eleitoral.

Tente puxar pela memória e busque algo, qualquer coisa, de positivo que tenha resultado desses embates. Alguma proposta ou ideia para administrar uma cidade complexa como São Paulo. Procure uma proposta feita nos encontros, onde o comportamento dos candidatos e, principalmente, nos debates que, neste pleito, deu lugar a cenas de pugilato, exibições de maus modos e falta completa de educação.

Datena usa uma cadeira para agredir Pablo Marçal Foto: Reprodução/TV Cultura

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A avaliação é de um atento e experiente observador político. Depois de trabalhar e acompanhar muitas eleições, ele assinala que os grandes perdedores deste pleito não serão os candidatos derrotados, mas a democracia achincalhada por apelidos, pelo ódio espalhado nas redes sociais e pelas mentiras.

Pergunte na rua em São Paulo, por exemplo, se alguém lembra de uma mísera proposta que tenha sido apresentada neste sem fim de embates. Provavelmente poucos ou até mesmo ninguém há de lembrar de algo que os candidatos pretendam fazer. Agora, pergunte ao mesmo cidadão se ele lembra de Pablo Marçal (PRTB) esfregando uma carteira do trabalho na cara de Guilherme Boulos (PSOL). Ou quem sabe pergunte se alguém se recorda de José Luiz Datena (PSDB) arremessando uma cadeira em Marçal. E de um assessor de Marçal dando um soco na cara de Duda Lima, marqueteiro de Ricardo Nunes (MDB).

E pensar, lembra esse mesmo interlocutor, que em 2010, a maior violência registrada em toda a campanha foi a tal bolinha de papel arremessada contra o então candidato José Serra (PSDB) que disputava com a petista Dilma Roussef (PT) que venceu a eleição presidencial. “Agora, desde que começaram os embates já se imaginava que isso ia terminar em violência”, diz. Bolinha de papel, hoje, seria brincadeira de jardim de infância se comparada às cadeiradas, socos e xingamentos apresentados em todos os debates.

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“O povo, literalmente, se cansou disso. E o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e os Tribunais Regionais Eleitoral (TREs) precisam buscar meios de serem mais rígidos, de punir com mais severidade quem se presta a esses espetáculos”, diz a mesma fonte.

E não são poucos os que estão pensando assim. A presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, além de juristas, Ministério Público e Ordens dos Advogados do Brasil (OABs) condenaram na última semana os episódios de violência que envolvem candidatos e partidos nesta campanha eleitoral. Seria ingenuidade crer que a “moda” se restringe a São Paulo, em um país com mais de cinco mil municípios. Acontece que São Paulo é a mais rica, populosa e importante cidade da América do Sul.

Cármen Lúcia, em entrevista a uma emissora de televisão, não citou casos específicos, mas determinou que a Polícia Federal (PF), o MP e os Tribunais Regionais Eleitorais deem prioridade às investigações e ao julgamento dos processos que envolvem as agressões. Segundo ela, “a violência praticada na política desrespeita a sociedade e a democracia”.

De acordo com o noticiário, Cármen Lúcia, alertando que os partidos se sustentam com recursos públicos, foi ainda mais dura e afirmou: “Há que se exigir, em nome do eleitorado brasileiro, que candidatos e seus auxiliares de campanha deem-se ao respeito. E se não se respeitam, respeitem a cidadania brasileira, que ela não está à mercê de cenas e práticas que envergonham e ofendem a civilidade democrática (...) “Não podem [partidos] pactuar com desatinos e cóleras expostas em cenas de vilania e desrespeito aos princípios básicos da convivência democrática”.

Mas se os candidatos não têm educação, algo que pai e mãe dão desde o berço, o que fazer? Seria cômico, não fosse trágico. Mas os organizadores foram restringindo os movimentos dos candidatos nos estúdios. Não podiam levar nenhum objeto, as cadeiras foram pregadas ao chão, os copos passaram a ser de plástico. A plateia foi sendo restringida ao máximo, enquanto o numero de seguranças aumentava.

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Minha avó, Rosa, adorava cuidar do jardim. Uma de suas grandes preocupações era com as ervas daninhas. Elas contaminavam a terra, ajudavam a criar pragas. Algumas eram até bonitinhas. Ela ficava com pena de podar. Entretanto, não tinha jeito. Se deixasse, iam acabar com o jardim. Quem sabe tenha chegado a hora de cortar as ervas daninhas, deixando-as crescerem, mas longe de nosso jardim da democracia?

Opinião por Monica Gugliano

É repórter de Política do Estadão. Escreve às terças-feiras

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