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O que esperar da pesquisa Datafolha? Veja o que dizem especialistas

Nova rodada de levantamento do instituto para presidente será divulgada nesta quinta-feira, 29

Por Laís Adriana

O Datafolha divulga nesta quinta-feira, 29, a penúltima rodada da pesquisa para presidente antes do primeiro turno da eleição. No levantamento da semana passada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alcançou 47% das intenções de voto, ampliando a diferença para o presidente Jair Bolsonaro (PL), em segundo lugar com 33%. Analistas ouvidos pelo Estadão apontam que o chefe do Executivo “atingiu o teto” de apoiadores na reta final da disputa.

Já o candidato petista, na visão dos analistas, conseguiu convergir ondas de apoio de diferentes áreas — cultural, ambiental, econômica, entre outras — através da campanha pelo “voto útil”, o que deve ampliar seu desempenho positivo nas próximas pesquisas eleitorais. “Essa frente única pelo voto útil, mas principalmente pelo ‘antibolsonarismo’, ganhou força nas últimas semanas. E todas as pesquisas, mesmo com metodologias distintas (presencial, telefone ou online), mostram Lula numa linha limítrofe para ganhar o primeiro turno, em especial quando olhamos para os votos válidos”, disse Francisco Fonseca, cientista político da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Ex-presidente Lula (PT) posa ao lado do comentarista de esportes Walter Casagrande, durante evento em São Paulo. | Foto: EFE/Fernando Bizerra  Foto: EFE/Fernando Bizerra

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O cientista político ainda prevê que os resultados das pesquisas e o movimento popular pelo “voto útil” podem influenciar os indecisos ou os apoiadores dos candidatos com menor desempenho nas pesquisas. “Simone Tebet (MDB) está empatada tecnicamente com Ciro Gomes (PDT), que perdeu apoio na sua base. Os votos deles podem migrar para Lula nas novas pesquisas ou se manter no mesmo patamar”, descreve Francisco Fonseca.

Fonseca observa que o crescimento do ex-presidente nas pesquisas está afetando as estratégias de Bolsonaro. Sem novos destaques positivos na última semana, reflexos das “bondades” e com escândalos na mídia envolvendo filhos e um assessor, a campanha do presidente estaria “desesperada” para alcançar novos eleitores. “A imagem vendida pelo bolsonarismo afeta somente aqueles que já são apoiadores ou aqueles com sentimento antipetista. Ela não se expande. É um termômetro da força de Lula, quando seu principal adversário sente que uma derrota pode acontecer no domingo”, opina.

A reflexão de que o presidente Jair Bolsonaro “atingiu o teto” de apoiadores também é compartilhada por Tatiana Roque, cientista política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Roque vê uma tendência de aumento da diferença entre os adversários, com vantagem para o ex-presidente Lula e previsão de decisão já no primeiro turno. “Perto da eleição, as pesquisas eleitorais começam a convergir, com resultados próximos, e está acontecendo isto neste momento. Quaest e Ipec mostram Lula na liderança e o Datafolha deve manter a tendência”, descreve.

Para a cientista política, o debate do último sábado, organizado pelo Estadão, Rádio Eldorado e um pool de veículos de imprensa, em si não exerceu grande influência para nenhum dos candidatos. Enquanto isso, o candidato Ciro Gomes (PDT) deve oscilar negativamente. “Ciro está derretendo, porque está assumindo posicionamentos muito ruins. Vai contra a postura histórica dele, de centro-esquerda, e em direção ao bolsonarismo. Isso faz com que ele perca apoio da própria base”, analisa.

Presidente Jair Bolsonaro (PL) e Ciro Gomes (PDT) nos bastidores do debate entre presidenciáveis, promovido no último sábado, 24. | Foto: EFE/Sebastião Moreira  

“Eleitores mais críticos de Ciro podem perceber esse movimento como uma sugestão de ‘Ah, em um segundo turno posso até apoiar o Bolsonaro’ e se afastam”, complementa Maria do Socorro Sousa Braga, cientista política e coordenadora de pós-graduação em ciência política da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A cientista política prevê a influência do “voto psicológico” na nova pesquisa do Datafolha, aquele em que o eleitorado indeciso tende a votar no candidato com maior chance de vencer o pleito para não “desperdiçar seu voto”.

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Maria do Socorro acredita que o debate dos presidenciáveis pode ter algum efeito sobre Bolsonaro, resultado da dobradinha com o Padre Kelmon (PTB), ou sobre Simone Tebet (MDB), que se destacou durante o evento. “A TV aberta é forte para Jair Bolsonaro e isso pode ajudar o presidente, influenciando o eleitor cristão. Ele poderia furar a bolha dos apoiadores evangélicos, alcançando principalmente os católicos, podendo aumentar alguns pontos porcentuais”, considera.

Simone Tebet teve um bom desempenho no debate, ao lado da candidata Soraya Thronicke (União Brasil). Maria do Socorro Braga aponta que ambas as candidatas à Presidência têm feito diferença nos debates presidenciais até o momento. “A participação das mulheres foi uma grande novidade, mostrou o gás e a força delas na política. Tebet sai com musculatura dessas eleições, mais conhecida, e pode subir um pouco nas pesquisas”, observa.

A cientista Tatiana Roque reforça que a penúltima pesquisa é um bom indicativo para o primeiro turno, contudo, ainda vale aguardar a repercussão do próximo debate presidenciável, promovido pela Globo nesta quinta-feira, 29, a partir das 22h30. “A última pesquisa do Datafolha será após o debate e deve ter muita robustez científica, a tendência é ser mais confiável e representativa”, aponta. Esta pesquisa será realizada com 12.800 entrevistados e tem divulgação prevista para 1º de outubro, dia anterior ao primeiro turno das eleições.

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