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‘Problema da polarização é achar que o outro tem de ser aniquilado’, diz professor de Direito da USP

Floriano de Azevedo Marques Neto considera que a violência está presente no cenário político atual, na comunicação, nos discursos e, agora, em atos como o que matou Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu

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Foto do author Rubens Anater
Por Rubens Anater

Professor e diretor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), Floriano de Azevedo Marques Neto analisa a morte de Marcelo Arruda, assassinado por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante seu aniversário de 50 anos na noite de sábado, 9, como retrato da escalada de violência no cenário político brasileiro. “Temos assistido à violência na comunicação, à violência nos discursos e, agora, começamos a assistir ao resultado disso que é a violência em atos que levam a morte de pessoas”, diz em entrevista ao Estadão. Marques Neto destaca ainda que essa escalada de violência pode ser o “prenúncio de momentos muito tétricos” e lembra que situações semelhantes foram “uma constante na ascensão do nazismo, dos discursos eugenistas e racistas”. Para o professor do Departamento de Direito Público da USP, inclusive, quem incentiva esses discursos extremistas é partícipe desses atos de violência. “Problema da polarização é você achar que o outro tem de ser aniquilado. E isso, infelizmente, virou uma tônica no jogo político nacional.”

O guarda civil Marcelo Arruda, de Foz do Iguaçu (PR), foi assassinado durante festa de aniversário com tema inspirado no PT Foto: Reprodução

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Quais seriam os riscos dos discursos mais extremistas, mais violentos, no ambiente político polarizado que a gente está vivendo no Brasil?

Acho que esses discursos que negam o interlocutor oposto levam para um caminho muito perigoso. Se você pegar a historia da humanidade nos últimos 100 anos, esse é o prenúncio de momentos muito tétricos, muito ruins da humanidade. O discurso que torna o outro lado inaceitável e que nega o diferente leva a uma solução de violência. Esse discurso não produz nenhuma ventura, nenhuma realização, só pode produzir atos de violência, como esse no Paraná, e quem incentiva esses discursos é partícipe desses atos de violência.

O senhor acredita que haja uma escalada de violência no nosso cenário político?

A gente tem assistido a uma escalada de violência, independentemente dos atos concretos. Temos assistido à violência na comunicação, à violência nos discursos e, agora, começamos a assistir ao resultado disso que é a violência em atos que levam a morte de pessoas. Isso nunca começa com atos propriamente de violência física, mas começa com discursos que negam o outro. Isso foi uma constante na ascensão do nazismo, uma constante na ascensão dos discursos eugenistas, racistas, e agora a gente assiste a isso na cena política brasileira.

Essa escalada tem relação com a polarização que a gente tem visto na nossa política?

Isso faz parte do que hoje a gente assiste no mundo. A polarização é uma tônica do que a gente assiste no mundo todo e, de uma maneira geral, o Brasil acaba maximizando isso. O problema da polarização não é você ter divergências antagônicas com o outro. É você negar reconhecimento e validade no outro. Você achar que o outro tem de ser aniquilado. E isso, infelizmente, virou uma tônica no jogo político nacional.

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Os discursos mais violentos estão presentes em todos os lados da polarização?

Isso está presente em todos os lados. A única diferença é que talvez um lado tenha mais meios para agir de forma fisicamente violenta, pela violência, pela maior liberdade que tem para agir com armas do que o outro lado. Mas o discurso é igual nos dois polos.

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