Hidrografia de SP dobra com a descoberta de 300 'rios invisíveis'

Grupos se organizam para mapear córregos, riachos e nascentes espalhados pelo Município; de acordo com dados da Prefeitura, a capital tem oficialmente 287 cursos d’água, mas o número é menos da metade do que acreditam os 'desbravadores'

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Edison VeigaPaulistices, cultura geral e outras curiosidades

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Por Edison Veiga

Em parceria com DANIEL BRAMATTI

 Foto: Felipe Rau/ Estadão

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Basta contar, um a um, no Mapa Hidrográfico do Município de São Paulo - sob a chancela da Prefeitura. Estão lá os 287 rios, riachos e córregos paulistanos. Mas, munidos de paciência, boa vontade - e um tiquinho de desconfiança - diversos ambientalistas têm mapeado cursos d'água que ainda não entraram para a malha fluvial oficial. Graças a esse trabalho, estima-se que sejam pelo menos 300 os "rios invisíveis" de São Paulo: o que mais do que dobraria, portanto, a quantidade oficialmente aceita hoje.

"E ouso dizer que essa estimativa é pessimista", acredita o geógrafo Luiz de Campos Júnior, de 53 anos, que há 20 anos estuda a hidrografia paulistana e em 2010 se tornou um dos criadores do projeto Rios e Ruas. "Tenho convicção de que podem ser muito mais, se explorarmos bem os confins do município."

Em 80 expedições, eles descobriram um rio novo para cada já catalogado

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"Essa discrepância numérica (entre dados oficiais e estimativas) existe porque nossos critérios não são técnicos, são humanos", explica o arquiteto e urbanista José Bueno, de 54 anos, também criador do Rios e Ruas. "Para nós, cada afluente, por menor que seja, é importante. Então, não importa se é um trecho, da nascente até desembocar no 'rio oficialmente catalogado', de 1 km ou até menos." De 2010 para cá, Campos, Bueno e equipe realizaram cerca de 80 expedições pela malha hidrográfica paulistana - e, em média, para cada rio já conhecido, encontraram um outro que, nos mapas, ainda não aparecia. "Sempre tem um vizinho que aparece contando que corre uma água do outro lado, e por aí vai", exemplifica o arquiteto.

E como o objetivo do grupo, mais do que descobrir, é engajar as comunidades - para que preservem os rios -, essas expedições costumam ser abertas a interessados (confira a agenda neste site). No próximo fim de semana, está prevista uma na zona norte de São Paulo, em parceria com o Sesc Santana (mais informações e inscrições neste link).

 Foto: Nilton Fukuda/ Estadão

Sim, existe. Formado em administração de empresas e ex-corretor de seguros, Adriano Sampaio (foto acima), 43 anos, criou, em agosto do ano passado, a página Existe Água em SP, no Facebook. Virou um caçador de nascentes de rios - e frequente palestrante do tema. "Fiquei impressionado quando me mudei da Pompeia para o Jaraguá e conheci rios ainda não canalizados, com muita fauna", conta.

Então, pesquisando o assunto, ele se deparou com mapas hidrógraficos antigos da cidade, datados do início do século 20. "Neles, é possível ver as curvas originais dos rios, ainda antes dos processos de retificação e canalização", relata. "Com base nessas informações, passei a ir atrás das nascentes." Até o momento, Sampaio já encontrou uma centena delas. "Faço vídeos e fotos de todas e posto no Facebook", diz.

Criado pelo Coletivo Escafandro, o mapa colaborativo Rios (In)visíveis também procura dar visibilidade - com o perdão do trocadilho - à causa. O site foi criado no EcoHack World - hackatão ambiental realizado concomitantemente em Nova York, São Francisco e Madri - e permite que qualquer um se torne colaborador da empreitada.

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> Mapa interativo dos rios de SP