PUBLICIDADE

História da Liberdade vai dos enforcados aos imigrantes

Bairro que era cenário de execuções se tornou reduto de asiáticos no centro da capital paulista

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

No princípio, o mais famoso bairro oriental do Brasil não se chamava Liberdade e tampouco era casa de imigrantes japoneses, coreanos e chineses. No século XVI, por exemplo, perto de onde hoje fica a Igreja de Santa Cruz dos Enforcados, havia uma capela de mesmo nome e um cemitério (dos Aflitos). O Pelourinho, local em que eram torturados os escravos, também ficava por ali e a região durante muito tempo levou o nome de Campo da Forca e teve justamente essa função até 1870, quando foi extinta a pena de morte por enforcamento. O espaço seria então convertido em praça (ou largo) da Liberdade.  No século XVII, havia naquelas terras a meio caminho entre o centro e o então município de Santo Amaro, chácaras de perfil rural e cultivo de chá. Com o tempo, vieram os loteamentos e foram rasgadas a Avenida Liberdade e a Rua Vergueiro e fundados os distritos Sul e Norte da Sé. O Sul, por sua vez, ganharia o nome de Liberdade em 1905. Só no começo dos anos 1900 a imigração oriental se consolidou na região. 1. Séculos XVI, XVII e XVIII A atual praça da Liberdade era conhecida como Campo da Forca. Ficavam na região, ainda, o Pelourinho e um dos primeiros cemitérios da cidade, o dos Aflitos, que não existe mais. 2. Século XIX Em 1833, como parte do distrito da Sé, a região recebe o nome de distrito Sul da Sé. Perto da virada do século, o bairro passa a ganhar contornos mais urbanos, ruas e novos imóveis. A morte por enforcamento no Brasil é abolida em 1870 e o Campo da Forca passa a se chamar Largo (ou Praça) da Liberdade. Os trilhos do bonde fazem a conexão do centro com Santo Amaro – e a rua Domingos de Moraes deriva desse caminho. Os habitantes do bairro eram em sua maioria imigrantes europeus, sobretudo italianos e portugueses.3. Século XX1905 É criado, no lugar do distrito Sul da Sé, o distrito da Liberdade.1908 Chegam os primeiros imigrantes japoneses ao Brasil, em 1908, quando ancorou no porto de Santos o navio Kasato-Maru. 

Tradições dos imigrantes fazem parte da história do bairro da Liberdade Foto: Estadão

1920 Na década de 20, os japoneses viviam e trabalhavam (abriam seus negócios) na Conde de Sarzedas. Vieram outros navios ao longo dos anos e a essa altura Tabatinguera, Conde e adjacências já eram habitadas em sua maioria pelos orientais.1924 No dia 5 de julho estourou a Revolução de 1924, segundo capítulo do Tenentismo, que pretendia derrubar o governo da República. A cidade era estratégica e tinha a melhor rede ferroviária. A artilharia dos federais, em defesa do governo, pautou boa parte do combate. Eles bombardeavam os rebeldes destruindo casas e matando civis. A Liberdade, onde havia linhas de defesa dos revoltosos, foi uma das vítimas, bem como a Aclimação e a Vila Mariana.1930 e 1940 A Avenida Liberdade foi alargada e a verticalização despontou em suas margens.1942 A essa altura, durante a Segunda Guerra Mundial, cerca de 13 navios brasileiros já haviam sido atingidos e perdidos. Morreram quase 200 pessoas. Patrulhas policiais vasculhavam a Liberdade e a vida da colônia japonesa. Eles entravam nas casas em grupos a procura de armas ou indícios de ligação dos moradores com o governo japonês.1950, 1960 e 1970 O subdistrito da Liberdade era um dos mais populosos da cidade, com 16.720 habitantes. A imigração japonesa se consolidava e sua cultura ganhava força em festas e na paisagem do bairro. Muitos coreanos e chineses também se mudaram para a Liberdade. Chegaram as típicas lanternas suzuranto. O "Bairro Oriental", que reúne ruas e praças decoradas, simulando uma cidade japonesa, surge oficialmente em 1974. No ano seguinte, são inauguradas as estações Liberdade e São Joaquim do Metrô.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.