Sua casa ou apartamento está no novo tombamento provisório de Pinheiros? Veja no mapa interativo

Mais de 600 construções estão incluídas em decisão temporária do Conselho do Patrimônio; ferramenta digital permite procurar imóvel por endereço

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Por Priscila Mengue
Atualização:

Em meio ao boom de verticalização na capital paulista, mais de 600 casas, predinhos, edifícios e construções foram incluídos no tombamento provisório de parte da subprefeitura Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. A determinação é recente e envolve os imóveis da antiga Vila Cerqueira César, em perímetro formado pelas avenidas Doutor Arnaldo, Brigadeiro Faria Lima, Rebouças e ruas Inácio Pereira da Rocha, Luís Murat e Avenida Paulo VI.

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O tombamento é temporário até o desenvolvimento de estudo aprofundado pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), ligado à Secretaria Municipal de Cultura, e posterior decisão final do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp). Essa tramitação pode levar de meses a até alguns anos.

O tombamento chama a atenção pelo volume de imóveis, incomum, tendo como outro exemplo o Bixiga e o centro velho. Também tem diferentes critérios de proteção. Grande parte deve manter as características arquitetônicas externas, como fachadas e telhado.

Outros casos envolvem apenas a preservação do tipo de ocupação, isto é, altura, recuo da calçada etc, permitindo demolições se autorizadas e substituídas por imóvel semelhante. Também há a determinação de algumas “áreas envoltórias”, com limite de altura nos vizinhos, a fim de evitar que novas construções “escondam” bens consideradas significativos. Obras nos imóveis listados no estudo de tombamento precisam de anuência dos órgãos especializados em patrimônio cultural.

Na dúvida se um imóvel está no tombamento em estudo de Pinheiros? O Estadão desenvolveu um mapa interativo com os endereços com base nos microdados da Prefeitura. A ferramenta abaixo permite a visualização geral dos lotes e, também, a busca por endereço. Após, há mais informações sobre o processo e as características de alguns bens incluídos.

A estimativa de mais de 600 construções foi feita pelo Estadão a partir dos endereços divulgados após a decisão da abertura do estudo de tombamento. A estimativa considera cada casa de vila individualmente, por exemplo, enquanto um edifício com vários apartamentos foi contabilizado como um único bem. A contagem feita no DPH é distinta, de modo que abrange oficialmente 15 “manchas de urbanização” (perímetros com várias casas, prédios etc) e 52 imóveis avulsos.

O tombamento da Vila Cerqueira César foi motivado por quatro pedidos de moradores e associações de bairro em cerca de dois anos. Esses processos envolviam alguns pontos de Pinheiros, como a Escadaria das Bailarinas, a Rua Irmão Lucas e as chamadas Vilas do Sol, e foram reunidos em um novo, que ampliou o escopo para outros trechos. Esse mapeamento foi feito por uma equipe especializada do DPH, com visitas presenciais e pesquisa em outras fontes variadas.

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O perímetro de proteção abrange especialmente imóveis nos eixos de verticalização, nas imediações de estações de metrô, como Fradique Coutinho e Sumaré, respectivamente das Linhas 4-Amarela e 2-Verde. Os eixos de transporte concentram a maioria da produção imobiliária recente na cidade, com incentivos municipais atrativos para construir prédios com apartamentos.

A decisão temporária também inclui construções em Zona Mista e Zona de Centralidade (os “miolos” e “centrinhos de bairro”), áreas que também permitem prédios (de até 28 m e 48 m, respectivamente, e com menos incentivos construtivos. Parte dos proprietários é contrária à decisão e se prepara para uma contestação, inclusive com o auxílio de escritórios de advocacia.

A preservação inclui imóveis de períodos diversos do século 20, como o Mercadão de Pinheiros, a sede do Instituto Goethe, o Templo Espiritualista de Umbanda São Benedito, a Igreja do Calvário, vilas, conjuntos de casas, desenho de ruas, escadarias, predinhos e até um edifício projetado pelo icônico arquiteto Vilanova Artigas.

Conjunto de casas da Rua Irmão Lucas também está temporariamente tombado Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Qual é a justificativa para o tombamento provisório?

Integrado por uma socióloga e dois arquitetos, o grupo especializado do DPH mapeou Pinheiros durante um ano, após 13 visitas à região. Também fez levantamentos variados de espaços, ambientes e imóveis com características que justificariam um tombamento provisório.

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O estudo não envolve apenas edificações em si, mas a ambiência (como traçado da rua, tamanho de lotes etc) e o registro de diferentes modos de ocupação e vivência da trajetória de Pinheiros. Citaram, por exemplo, que algumas vias têm arruamento que remete ao loteamento do século 19, mas adaptado ao século 20.

O boom imobiliário é indiretamente citado na minuta da resolução da abertura de estudo de tombamento. O texto fala das “rápidas transformações que vêm ocorrendo no perímetro de estudo”, além de destacar outras motivações para a decisão.

O documento aponta que os ambientes e edifícios de Pinheiros “expressam as suas sucessivas fases e formas de ocupação, contribuindo de maneira determinante para o lastreamento do caráter e da história do bairro e, por extensão, da cidade em elementos materiais”. Além disso, cita a “importância de preservar a multiplicidade de tipologias arquitetônicas e padrões urbanísticos do século 20 em prol da memória coletiva, da identidade e de uma cidade reconhecível e qualificada”.

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Edifício Estados Unidos (Rua Cristiano Viana, 191) está no tombamento provisório de Pinheiros Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A decisão ocorreu em meio a um aquecimento das discussões urbanas na cidade, após aprovação da nova lei do Plano Diretor. A revisão do zoneamento da Câmara também envolve medidas para expandir e restringir o avanço de prédios altos, dentre outros temas.

Como o estudo ainda é inicial, não há informações sobre o histórico individual de cada uma das edificações, tampouco sobre o estado de conservação, o que será tratado ao longo do estudo anterior à decisão definitiva. O Estadão conferiu os endereços e apresenta a seguir alguns bens temporariamente tombados.

Mercadão de Pinheiros e outros equipamentos estão na lista

O tombamento temporário inclui equipamentos públicos e privados. O Mercado Municipal de Pinheiros é um dos mais conhecidos. Oficialmente se chamado de Engenheiro João Pedro de Carvalho Neto, ele está no endereço atual desde 1971, embora sua história remonte a 1910.

Segundo a Prefeitura, o mercado tem 4,1 mil m², com projeto de Eurico Prado Lopes e Luiz Telles, conhecidos pelo Centro Cultural São Paulo (CCSP). Após mudanças recentes, tornou-se endereço de vários novos espaços gastronômicos e ganhou maior potencial turístico. Nesse caso, o tombamento envolve características externas e internas.

Outro equipamento é a Biblioteca Alceu Amoroso Lima, na esquina das Ruas Henrique Schaumann e Cardeal Arcoverde, originalmente chamada Biblioteca Pública de Pinheiros. A unidade foi criada nos anos 1970, mas foi substituída por nova edificação nos anos 1990.

A construção de 2 mil m² é assinada por José Oswaldo Vilela, caracterizada pelo uso do concreto e formas geométricas que se destacam. Nesse caso da biblioteca, o tombamento envolve não só características externas, mas também das internas e da área ajardinada.

Edifício Emília, na Rua dos Pinheiros, também está na lista Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Mais um exemplo é o prédio da Fundacentro, do governo Federal, na Rua Capote Valente. Datado dos anos 1980, tem projeto do arquiteto Miguel Juliano (um dos autores do pavilhão de exposições do Anhembi), com cerca de 11 mil m².

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No caso privado, está o Colégio Stella Maris. O tombamento provisório abarca a parte voltada à Rua Cardeal Arcoverde, como a entrada. A instituição é ligada às Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição de Maria, fundada em 1943.

Um Vilanova Artigas e outros prédios da 2ª metade do séc. 20

O tombamento provisório inclui prédios datados da segunda metade do século 20, de pequeno e médio porte. Entre eles, está o Edifício Tabafer, um dos poucos projetos para apartamentos assinados pelo arquiteto modernista João Batista Vilanova Artigas conhecido pelo Estádio do Morumbi, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e o Edifício Louveira.

O Edifício Tabafer fica na Rua João Moura, 942, e é datado de 1958. Como o Louveira (em Higienópolis), tem as fachadas da frente e dos fundos sem janelas, com as abertura voltadas às laterais, porém fica mais “escondido” no caso de Pinheiros, pelas árvores e prédios vizinhos.

Outro incluído no tombamento é o Edifício Emília, da Rua dos Pinheiros, 401. Com três pavimentos de apartamentos e comércio no térreo, data dos anos 1950. Foi projetado pelo arquiteto romeno Israel Galman e também tem características modernas, como as janelas voltadas para as laterais e a fachada principal estreita e “cega”.

Tombamento provisório determina preservação das características externas do Edifício Estados Unidos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Também há vários predinhos mais antigos, da 1ª metade do século 20. Um dos mais conhecidos é o Prédio Santo Antônio, restaurado há poucos anos e que chama a atenção nas redes sociais pelas cores e ornamentos. Ele fica na Rua João Moura.

Praça Benedito Calixto e Instituto Goethe estão na lista

Conhecida pela feira dos sábados, a Praça Benedito Calixto é uma das “manchas” tombadas provisoriamente. Isto é, está incluída no estudo em companhia com outros bens vizinhos, o que inclui quatro predinhos, um conjunto de sobrados da Rua Francisco Leitão, uma casa na Rua Lisboa, 493, (que funciona hoje como um pequeno hotel) e outros imóveis.

A praça precisa manter as características da vegetação atual e a distribuição dos espaços livres. Entre os vizinhos, está a atual sede do Instituto Goethe. A instituição alemã ocupa o antigo Mosteiro de Santa Gema, que se mudou do espaço décadas atrás.

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Outra construção religiosa incluída é a Igreja do Calvário, que integra a Paróquia São Paulo da Cruz, datada dos anos 1920, com expansões nas décadas seguintes. Segundo a Arquidiocese de São Paulo, a obra foi projetada pelo engenheiro Padre Armelini, enquanto o altar foi do engenheiro Benedito Calixto.

Nesse caso, o tombamento proposto prevê a preservação das características arquitetônicas internas e externas. Além disso, propõe que novas construções no terreno não possam ultrapassar a altura da parte principal da igreja.

Templo de umbanda também está na lista Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Templos religiosos entram no no tombamento

Além da Igreja do Calvário, na Praça Benedito Calixto, outros espaços religiosos estão incluídos no tombamento provisório. A preservação envolve não só construções católicas, mas também de outras religiões.

Entre as católicas, um exemplo é a matriz da Paróquia Senhor Bom Jesus dos Passos, na Praça Portugal, 20. Construída na 1ª metade do século 20, é conhecida pela torre única centralizada, com uma cruz no topo.

Outro caso é o da Igreja Presbiteriana da Aliança, na Rua Artur de Azevedo, 1.007, antes conhecida como Igreja Presbiteriana Betânia. Perto dali, o tombamento provisório envolve também o Conjunto de Santa Luzia (incluindo a preservação da parte interna da capela), na Rua Cônego Eugênio Leite, 825, e sede da congregação das Irmãs Passionistas.

O tombamento envolve, ainda, o Templo Espiritualista de Umbanda São Benedito, na Rua Alves Guimarães, 940. O espaço é ligado à União de Tendas de Umbanda e Candomblé do Brasil.

Edifício Tabafer foi projetado por Vilanova Artigas Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Escadão Marielle e das Bailarinas também estão protegidas

Duas escadarias foram incluídas no tombamento, assim como alguns imóveis do entorno. Ambas ganharam nomes populares nos últimos anos por causa de intervenções: Escadão Marielle Franco (na Rua Cristiano Viana) e Escadaria das Bailarinas (na Rua Alves Guimarães).

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O escadão que homenageia a vereadora do Rio assassinada em 2018 deve manter as características arquitetônicas e as luminárias cênicas. O tombamento provisório desse trecho inclui ainda uma vila na Rua Cristiano Viana, três conjuntos de casas e dois prédios.

Já a Escadaria das Bailarinas precisa seguir com as características dos lances, dos canteiros e das árvores. Também deve manter as duas casas restantes com a entrada voltada para o escadão (as demais foram demolidas nos últimos anos) e outros dois conjuntos de casinhas.

Mercadão de Pinheiros está entre equipamentos públicos incluídos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Vilas e conjuntos de casas são maioria do tombamento

Diante do espalhamento de prédios na vizinhança, o tombamento reúne principalmente casinhas e sobrados de vilas e outros conjuntos residenciais. Algumas dessas vilinhas têm um acesso pela rua (geralmente com portão) uma pequena via interna sem saída e o nome sinalizado na entrada.

Parte dos tombamentos prevê a preservação das características urbanísticas. Isso inclui o traçado viário, o calçamento (alguns de paralelepípedo ou mosaico português) e os portais de acesso, por exemplo.

Entre elas, estão a Vila Fortunato (entrada pela Avenida Pedroso de Morais), a Vila Santa Adelaide (R. Simão Álvares), a Vila Cândida (R. João Moura), as vilas das Travessas Roberto Santos e Julio Sevestre e a vila da R. Doutor Virgílio de Carvalho Pinto, dentre outras.

Além das vilas, o tombamento inclui conjuntos de casas geminadas ou com outras características semelhantes, por vezes em ruas estreitas e pouco movimentadas. Entre elas, uma das principais é a da R. Irmão Lucas, em que as construções seguem basicamente dois tipos de padrão construtivo, e a da R. Francisco Iasi.

Outro caso desses conjuntos são as chamadas Vilas do Sol, como os moradores batizaram. Esse perímetro abarca as Ruas Estela Sezefreda, Pascoal Del Gaizo e Doutor Phidias de Barros Monteiro, além de trechos das Ruas Doutor Virgílio de Carvalho Pinto, dos Pinheiros, Mateus Grou e Artur de Azevedo./ COLABOROU LUCAS THAYNAN E BRUNO PONCEANO

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