SÃO PAULO - A Superintendência de Segurança da Universidade de São Paulo (USP) acionou a Polícia Civil e registrou um boletim de ocorrência depois de receber uma ameaça, por e-mail, de um suposto ataque com pistolas contra estudantes. As aulas da manhã da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH), alvo da ameaça, não foram suspensas. Não havia aulas ou atividades acadêmicas previstas para o horário da tarde.
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"Eu vou aparecer hoje, na segunda-feira, último dia de aula, com uma touca-preta ninja e duas pistolas 9 mm que eu comprei na favela Sao Remo, e vou entrar atirando para matar o maior numero de viados, travestis, esquerdistas e feministas que aparecer na minha frente", diz trecho do e-mail, enviado por meio de um endereço criptografado (sem possibilidade de ser rastreado) de endereço bryan.william.lopesx@protonmail.com.
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O autor se identifica sendo Murilo Ianelli Chaves, nome de um estudante de Educação Física de 24 anos que, em depoimento à polícia, negou ser o autor do e-mail. O rapaz disse que seu nome foi citado na publicação como "retaliação" por fazer um trabalho de combate à pedofilia na internet, contra hackers.
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A reportagem do Estado apurou que, em maio, Ianelli já havia registrado um boletim de ocorrência no 2° Distrito Policial de Guarulhos (Vila Galvão), no dia 9 de maio, por ter sido ameaçado pelos hackers e tido suas informações pessoais, como nome, documentos, endereço e até fotos de sua noiva, em um fórum de internet chamado Dogolocham. Segundo ele, o espaço é usado por "neonazistas".
A polícia descarta a participação de Ianelli no envio do e-mail. Em depoimento dado por ele na tarde desta segunda, o jovem apresentou imagens e vídeos mostrando que faz uma atuação de combate à pedofilia na internet, incluindo um canal no YouTube, o que teria levado à "vingança" dos hackers que compartilham o conteúdo nas redes sociais.
Estado Islâmico
A mensagem divulgada nesta segunda foi enviada a um e-mail da Faculdade de Letras da USP. Na publicação, o autor ainda diz "jurar lealdade ao Estado Islâmico e ao califa Al Baghdadi".
O autor do e-mail faz menção a um episódio que aconteceu na universidade na última semana, em que estudantes expulsaram, com agressões físicas e verbais, um pesquisador e militante integralista de um evento promovido na instituição, o Sexto Simpósio de Filologia e Cultura Latinoamericana, em que ele foi impedido de falar. Um vídeo circulou nas redes sociais mostrando o momento da expulsão do homem, identificado como Victor Emanuel Vilela Barbuy, que não tem ligação com a USP.
"Vocês acham que sao os machões, não é? Juntaram 12 para bater em um jovem do movimento integralista?", diz o texto do e-mail.
Ao Estado, a diretora da FFLCH, Maria Arminda, disse que acionou a Superintendência de Segurança da USP assim que tomou conhecimento do e-mail, mas que não houve suspensão das atividades.
"Isso está acontecendo muito no Brasil hoje e não deixaria de acontecer na universidade e, principalmente, na faculdade, que tem como tradição o livre debate", disse Maria Arminda.O caso foi registrado no 93º Distrito Policial (Jaguaré).
Veja a nota da FFLCH
A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas repudia toda e qualquer forma de violência e reafirma o seu compromisso com o pluralismo e o livre debate das ideias.
Neste sentido, a faculdade considera inaceitável a ocorrência de episódios que violam o direito à livre expressão, e se posiciona contrária aos acontecimentos crescentemente recorrentes na sociedade brasileira.
A Direção da Faculdade informa que, diante da ameaça de agressão a sua comunidade encaminhada por e-mail nesta data, relatou o episódio imediatamente à Superintendência de Segurança da USP. Este órgão acionou as autoridades policiais, que já identificaram o autor da mensagem e tomaram as providências cabíveis para garantir o funcionamento normal de todas as atividades acadêmicas.
Sendo assim, nenhuma atividade foi ou será suspensa.