No último domingo, 25, um dos principais redutos da boemia paulistana, a Mercearia São Pedro, apelidada carinhosamente de “Merça”, abriu suas portas pela última vez na Vila Madalena. Em funcionamento desde 1968, o local abrigou presenças como o cantor australiano Nick Cave, o cineasta Fernando Meirelles e até o craque Sócrates. O imóvel foi comprado pela Mitre Realty e depois vendido à Harbitram, segundo a Veja São Paulo.
Na placa em frente ao estabelecimento, se lê o aviso deixado pela equipe: “Uma história sempre tem um começo, meio e fim. A Mercearia São Pedro agradece a todos os personagens: clientes, funcionários e fornecedores, todos sempre muito importantes nesta super história. Muito obrigado a todos. Fim”.
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Marcos Benuthe, um dos sócios do local, contou em uma postagem em seu Instagram pessoal sobre a história da Merça: “Quando a nossa família mudou pra Vila Madalena, eu tinha 11 anos e meio. Meu pai não queria bar de jeito nenhum. Dos quatro filhos, eu era o que tinha vocação e amor pelo nosso comércio, já trabalhava com o pai no nosso ‘empório ganha pouco’, no Itaim Paulista (zona leste). Meu tio Jorge ajudou o pai a montar um depósito de material de construção, não me conformei e montei o bar paralelamente ao ‘depósito’. O bar vingou”.
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Inicialmente uma mercearia de secos e molhados, Marcos Benuthe, aos poucos, transformou a venda do pai em bar. As prateleiras do comércio, que antes acumulavam sorvetes e papel higiênico, ao longo do tempo foram ocupadas por filmes em fitas VHS e, nos anos 2000, foi a vez dos livros. Com a inclusão de cervejas, cachaças e petiscos entre as mercadorias do comércio, a Mercearia virou ponto de encontro de escritores e jornalistas de São Paulo.
Entre os pastéis e amendoins, a história da Merça se formou, abrigando lançamentos de livros como Marrom e Amarelo, de Paulo Scott, além de inúmeras crônicas. A venda do imóvel foi anunciada em 2023, mas concluída somente agora, por meio do acerto do inventário entre os herdeiros, revelou a Veja.
A cartunista Laerte comentou sobre o ocorrido ainda em 2021, quando os primeiros boatos de fechamento ocorreram, em meio à pandemia. “Saúde e força, Marquinhos, Pedro, França, foi muito o que vocês trouxeram para a nossa mesa”, escreveu nas redes.
Já o cantor australiano Nick Cave, frequentador assíduo do comércio, contou um pouco de sua história com a Merça, quando levava o filho Luke, ainda pequeno, para comer pastéis de queijo no local, enquanto escrevia algumas de suas letras e apreciava uma cerveja. “Um pedaço da alma da Vila Madalena será perdido quando destruírem o lugar, e um pedaço da minha [alma] também”. Ele finalizou agradecendo a Pedro (um dos donos) pelo carinho com o filho, e se despedindo do “melhor bar do mundo”.
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* Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais.