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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

'É papel do carnaval e da arte provocar', diz carnavalesco da Mangueira

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LEANDRO VIEIRA. Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

O samba enredo da Mangueira, "História para ninar gente grande", sobre o "lado B" da história do Brasil, tem motivos pós-carnaval para continuar sendo festejado. Pelo menos duas editoras já procuraram o carnavalesco Leandro Vieira, propondo editar livro sobre seu desfile. No qual, por exemplo, Pedro Álvares Cabral é tratado como invasor, não descobridor, e os heróis são gente como Cunhambebe, Maria Filipa e Chico da Matilde. "A arte que eu faço é provocativa", diz o carnavalesco, que hoje volta à Sapucaí no desfile dos vencedores.

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O seu desfile virou uma aula de história. Era o que queria? Sim. O carnaval pode ser bem mais que uma festa bonita. Pode despertar consciência crítica e propagar conhecimento.

Pesquisou teses de mestrado para elaborar o enredo? Esse conhecimento sobre o lado B da história é uma bagagem que eu fui acumulando na minha leitura pessoal. Para dar um contorno mais preciso, recorri a teses de mestrado e a professores de história.

Quantas teses e professores? Eu conversei de forma mais constante com quatro professores. Teses foram umas 15, sobretudo as ligadas a institutos de cultura indígena, que é, infelizmente, uma das que mais sofreram apagamento intelectual no Brasil.

Depois do desfile, você foi procurado por gente que quer incorporar esse lado B da história no aprendizado? Recebi convite de duas pessoas ligadas a editoras, querendo editar um livro com imagens do desfile da Mangueira e textos com essa nova versão. Mas o que mais me anima é que moradores da comunidade mangueirense foram à internet buscar informações dos personagens que eu menciono no desfile. Nomes que a princípio causavam estranheza.

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Pode citar alguns dos indígenas dignos de nota? A abertura do desfile priorizou a questão indígena, onde eu me debrucei em aspectos plásticos e conteúdos biográficos. Nos aspectos plásticos, recorri à questão da arqueologia brasileira. Faço menção à cerâmica tapajônica e à cerâmica marajoara. Dados arqueológicos que apontam para 14 mil anos de ocupação do território brasileiro.

E na questão biográfica? Entre índios heroicos mencionei dois: o Cunhambebe, líder dos tamoios, e o Sepé Tiaraju, líder dos guaranis, na região dos Sete Povos das Missões, no sul do País.

Tem um poder especial quando se consegue contar uma história triste com todos cantando sorridentes? Sim. Acho que é papel da arte provocar. O carnaval que eu faço e o carnaval em que eu acredito é o da arte. E a arte que eu faço é extremamente provocativa. Carnaval sem provocação e arte sem provocação não fazem sentido para mim.

Por que mandou recado sobre carnaval a Bolsonaro? O presidente divulgou para o mundo uma imagem que não corresponde ao que é o carnaval do Brasil. Que é o carnaval da Mangueira, da cultura, da arte. Não o que ele propagou, que teve repercussão internacional. Compartilhada até pelo Trump. /PAULA REVERBEL

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