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Judith Lauand: as ousadias e delicadezas de uma concretista

Aos 85 anos, artista abre mostra que faz um panorama de sua trajetória

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"Achava a abstração muito mais interessante, uma pesquisa que não tinha fim, muito mais diversificada", diz Judith Lauand, fazendo uma rápida recapitulação de seus mais de 60 anos de carreira no campo da pintura. Ela nasceu em Pontal, no Estado de São Paulo, em maio de 1922, e foi em Araraquara, na Escola de Belas Artes, na década de 1940, que começou a se dedicar à pintura. Um caminho natural, segundo ela, esse de pintar. No começo, "no estilo da escola expressionista", fazia naturezas-mortas e figuras. Mas, acidentalmente, um dia ficou surpresa quando viu que uma de suas naturezas-mortas tinha se transformado numa pintura abstrata feita de cubos e um círculo no lugar do que seria um prato... E pouco tempo depois, na década de 1950, já em São Paulo, Judith Lauand foi a única mulher a integrar o fechado Grupo Ruptura dentro do movimento concretista brasileiro.   Veja também: Galeria de fotos     A fase concretista de Judith Lauand é o ponto alto de sua trajetória, mas agora também é momento de se ver mais de sua carreira, feita de diversas fases de experimentações que ela tanto se orgulha. "Gosto de todas, com suas qualidades e percalços", diz a artista na Galeria Berenice Arvani, onde inaugura nesta quinta-feira, 2, uma mostra com 56 de suas obras realizadas entre 1952 e 2007 - aos 85 anos, Judith lê diariamente pela manhã, "80 páginas por semana", e pinta quase que todos os dias, sempre no período da tarde e sempre no campo da abstração, eleito por ela o mais interessante.     Na exposição, com curadoria de Celso Fioravante, há uma passagem completa pelos caminhos de Judith: a figuração; a abstração informal; a abstração geométrica; a fase pop da década de 1960; as obras em que colocava objetos na tela, como pregos e tachinhas; as telas em que pintava nelas palavras; os quadros com as variações do mesmo tema do quadrado. "Ela não é uma concretista ortodoxa, tem uma trajetória muito mais rica do que se coloca", afirma o curador, que não deixa de dizer que é a mão do mercado que cai sobre um nicho de concretistas tão brilhantes e quase esquecidos - a marchande Berenice Arvani diz que as obras de Judith estão agora à venda por preços que variam entre R$ 20 mil e R$ 160 mil. As telas mais valiosas são as da década de 1950, do período concretista de Judith. "De 1954 a 1962, fui rigidamente concreta, me tornei mais geométrica", define.     Em texto de 1996, o crítico Paulo Herkenhoff afirmou que Judith "produziu uma arte de pequenas delicadezas concretistas". Mas o fato de ser a única presença feminina no Grupo Ruptura (entre 1953 e 1959), formado por artistas como Waldemar Cordeiro, Sacilotto, Charoux, Fiaminghi e Maurício Nogueira Lima, não é assim algo determinante para caracterizar que a geometria em suas composições fosse mais sensível. "Isso vai da sensibilidade de cada artista, cada um resolve os problemas da obra à sua maneira. Acho que todos do grupo faziam um concretismo sensível, não havia diferença entre nós. O Fiaminghi tinha uma pesquisa de formas e, principalmente, de cor, das mais sensíveis", diz Judith. A artista pensa de forma quase matemática sobre suas composições - mas isso não quer sinalizar o reducionismo da razão em detrimento do caráter sensível. "Cada forma tem e pede sua cor. Gosto das cores que ficam no mesmo plano, que combinem, mas meu quadro não tem nada de perspectiva."     Em Araraquara, quando estudou na Escola de Belas Artes, suas obras de raiz expressionista e figurativa eram resolvidas de maneira rápida, segundo a artista. "Com a abstração não", já diz logo ela. Para chegar à abstração, conta ter sido influenciada por livros e revistas que lia naquela época. "Li o de um argentino, Jorge Romero Brest (crítico), que então falava da atualidade da pintura. Aí percebi que eu estava atrasada, que a obra poderia ser muito mais moderna", conta a artista, que ainda guarda esse mesmo espírito intacto.   Judith Lauand - 50 Anos de Pintura. Galeria Berenice Arvani. Rua Oscar Freire, 540, 11-3082- 1927. 2.ª a 6.ª, 10 horas às 19h30. Até 9/9. Abertura quinta-feira, 19h30

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