A importância da escrita, da literatura, como fonte de resgate de histórias que foram esquecidas ou sufocadas inspirou a penúltima mesa da 21 ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, na manhã deste domingo, 25. Foi a única mesa do evento cujos ingressos se esgotaram antecipadamente.
“A literatura abraça histórias que querem ser contadas porque nos foram negadas”, afirmou Itamar Vieira Junior, que dividiu o encontro com Glicéria Tupinambá e Miriam Esposito. “O sucesso de Torto Arado (primeiro romance de Itamar, que já vendeu mais de um milhão de exemplares) aconteceu porque os leitores abraçaram essa história e isso comprova à missão da literatura de compartilhar experiências humanas.”
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Professora de escola pública em Paraty, Miriam se orgulha de praticar uma educação que foge do padrão tradicional. “Meu ensinamento se reconhece na trajetória de meus antepassados e não apenas no que se convencionou como história oficial”, disse ela, que destacou a importância dos caiçaras como representativa da região compreendida entre Paraty e as cidades do Litoral Norte de São Paulo.
Já Glicéria, que vive na aldeia indígena Serra do Padeiro, no sul da Bahia, embaralhou o tradicional conceito da noção do tempo. “Para nós, o tempo é algo coletivo: o meu depende do velho, da criança, da abelha, da necessidade de se ouvir o gavião”, disse ela, que reforçou a história dos tupinambás, indígenas cuja tradição era a de devorar os inimigos prisioneiros. “O rito antropofágico era uma forma de adquirirmos o gene dos inimigos. Não interessava promover o casamento entre os iguais, pois isso evitava a transformação no outro.”
Glicéria entoou cânticos antes do início e depois de encerrada a mesa, como agradecimento aos seres ancestrais.