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Os segredos empresariais de Mauricio de Sousa, de quadrinhos a maçãs: ‘Sou diabolicamente otimista’

Livro ‘Crie de Manhã, Administre à Tarde’ explica a trajetória de sucesso do quadrinista criador da Turma da Mônica, da concepção criativa dos personagens à administração dos licenciamento de produtos

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Foto do author Daniel Silveira

Com certeza, você conhece Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali, Chico Bento... Todos saíram da mente genial de Mauricio de Sousa, um dos maiores quadrinistas do País. E a sua jornada empresarial? As pessoas podem até não se dar conta, mas para que seus 400 personagens ficassem conhecidos no Brasil e outros países, ele também precisou trilhar uma jornada como empresário, na qual ainda segue ativo aos 88 anos.

O criador Mauricio de Sousa, que construiu um universo inteiro nos quadrinhos, conta a história de sua empresa no livro 'Crie de Manhã, Administre à Tarde'. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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Em 2023, sua principal personagem, Mônica, inspirada em uma de suas filhas, completou 60 anos. Mas a história de trabalho de Mauricio começou alguns anos antes. “Fui indo, indo, ganhando espaço, vivendo os resultados.” Mauricio faz esse resumo incrivelmente modesto em entrevista ao Estadão. Claro que não foi fácil como ele faz parecer.

A trajetória profissional de Mauricio de Sousa é contada no livro recém-lançado Crie de Manhã, Administre à Tarde: Os segredos empresariais por trás do gênio (Maquinaria Editorial), assinado pelo próprio, em parceria com Renata Sturm e Guther Faggion. A frase que dá título à obra foi dita pelo pai de Mauricio, como um incentivo para que o filho, além de criar artisticamente, conseguisse pensar administrativamente.

É uma espécie de biografia focada no Mauricio empresário. De acordo com Renata e Guther, é uma maneira de mostrar um lado do quadrinista que costuma ser ignorado. “Quando fomos apresentar o livro finalizado, ele leu e falou para a gente: finalmente vocês conseguiram responder à pergunta que todo mundo me faz, sobre os segredos da minha história”, diz Renata. Como ele levou uma empresa familiar a ser tão longeva e alcançar tanto sucesso?

“Pode parecer engraçado, mas a gente tinha um interesse muito particular em fazer esse livro porque nós temos uma empresa de criatividade, que também é familiar. Viemos de famílias que têm gerações de empreendedores”, comenta Renata sobre uma das motivações iniciais. Ela e Guther são sócios na Maquinaria, editora responsável pela publicação.

Veteranos e garotada

“Quando fui conhecer o estúdio e toda a equipe, a primeira coisa que me marcou foi a questão geracional, de ter pessoas trabalhando lá há 50 anos, e uma garotada também”, continua. “Mas tem uma outra razão: nós acreditamos que, infelizmente, existem poucos empreendedores no Brasil que têm suas histórias registradas”, diz.

De fato, é comum lermos e vermos as trajetórias de empresários internacionais, principalmente dos Estados Unidos. No entanto, argumenta o casal, muitas delas não podem ser adaptadas para a dinâmica brasileira, com uma cultura empresarial diferente. A Mauricio de Sousa Produções (MSP) passou por alguns planos econômicos, uma ditadura, crises econômicas, hiperinflação, informatização... E ainda segue como um dos principais criadores do País.

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Renata Sturm, Mauricio de Sousa e Guther Faggion, autores do livro que conta a trajetória do quadrinista. Foto: Maquinaria Editorial/Divulgação

Os valores e as maçãs

O livro é dividido em capítulos que representam, cada um, um valor que os autores e o quadrinista consideraram importantes. “Falar desta forma me conectou com a geração do Maurício, que tem muito essa ideia de que os valores são essenciais para a vida”, explica Guther

O primeiro deles, como não poderia deixar de ser, é a criatividade, maior combustível da MSP. Os autores não se referem apenas à criação dos personagens, mas também das várias maneiras criativas que Mauricio encontrou para administrar a empresa.

Quer um exemplo deste valor em prática? Além de vender revistas, livros, a sua empresa tem parceria com outras 200 companhias que são licenciadas para venderem mais de quatro mil produtos da marca. O caso que se tornou mais popular é o das maçãs da Turma da Mônica.

Seu Mauricio conta que quando duas filhas eram pequenas, elas não conseguiam levar maçãs em tamanho normal dentro da lancheira, por não caberem. “Um dia eu fui para Santa Catarina e vi umas maçãzinhas bonitinhas, perguntei para quem ele vendia, e ele disse que não vendiam, que eram servidas como alimentação para os bichos”, lembra.

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Então, ele pediu para o produtor para vender as maçãs com a marca da Turma da Mônica. “Minhas filhas vão amar, cabem na lancheira”, conta rindo. Atualmente, a produção das frutas chega a 1,7 mil toneladas, vendendo cerca de 850 mil pacotes por mês.

A Kombi das tirinhas

Quando Mauricio começou a desenhar, depois de passar cerca de cinco anos trabalhando como copidesque no jornal Folha da Manhã, uma das suas decisões para conseguir viver do seu sonho foi começar a vender suas tirinhas para jornais do interior do estado de São Paulo. O artista, que já desenhava para o jornal em que trabalhava, resolveu comprar uma Kombi para tentar distribuir suas histórias para outros lugares.

“Eu sei que em três ou quatro meses já tinha uma dezena de jornais publicando nosso material a partir dos clichês (peças em metal que funcionavam como um carimbo para realizar a impressão das folhas de jornal)”, lembra Mauricio. “E eu gostei tanto que comecei a fazer tabloides também em clichê e também a distribuir em jornais mais distantes. Com isso, em um ano e meio, mais ou menos, eu já estava com 400 jornais no Brasil com meus personagens”, conta o autor.

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Capa do livro 'Crie de manhã administre à tarde', que revela os segredos do sucesso de Mauricio de Sousa, criador da Turma da Mônica. Foto: Maquinaria Editorial/Divulgação

Dos jornais para as páginas de quadrinhos, outro valor foi necessário para Mauricio: sonho. Por mais que esses aspectos não sejam colocados hierarquicamente no livro, sonhar em viver de suas criações foi uma das coisas que impulsionou o desenhista a investir tempo e dinheiro em sua arte e, consequentemente, em sua empresa. O que traz outros dois valores que os autores encontraram na trajetória de Mauricio: otimismo e persistência.

“Eu sou diabolicamente otimista”, conta Mauricio no livro. Esse otimismo, que pode ajudar muito na hora de apostar em novidades, também pode atrapalhar. No entanto, a persistência em realizar seu sonho e deixar um legado fez com que Mauricio se arriscasse em ‘planos infalíveis’. Ao contrário de Cebolinha, viu alguns deles darem certo.

Mauricio assumiu riscos e se arriscou em diversas frentes. Desde a ideia de viajar por cidades do interior vendendo suas tirinhas em clichês, oferecê-las para jornais de outros estados, para a Editora Abril, a primeira a publicar um gibi inteiro sobre a Turma da Mônica, ele ousou.

Hoje ele tem um dos maiores estúdios de produção de quadrinhos do planeta, chegando a vender mais de 2,5 milhões de livros por ano. A pesquisa realizada por Renata e Guthe aponta que a MSP vendeu, apenas em 2022, 12 milhões de revistas. Se os quadrinhos ensinaram tantos brasileiros a ler, o novo livro pode inspirar outros tantos a empreender..

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