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A jornalista Luciana Garbin traz foco para as questões femininas na sociedade atual

Opinião|Procurando emprego? Torça por um recrutador menos preconceituoso

É sempre mais fácil identificar os preconceitos alheios do que percebê-los em nós mesmos

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Foto do author Luciana Garbin
Atualização:

Você é uma pessoa preconceituosa? Não? Então saiba que é mais fácil identificar preconceitos alheios do que percebê-los em nós mesmos. Uma das explicações é que boa parte deles não é racional. Assim como estereótipos e crenças. Em outras palavras, vieses inconscientes impactam como pensamos e nos comportamos.  Quer um exemplo? Um profissional incisivo no trabalho. Se for mulher, muitas vezes é vista como chata e mandona; se for homem, como assertivo. Isso tem a ver com estereótipos enraizados: a mulher gentil e cuidadora, o homem líder. 

É sempre um desafio implementar novos processos de relacionamento nas empresas, a começar pelos recrutamentos Foto: Pixabay

E quando sua vida profissional fica à mercê de modelos que fogem do racional? O livro Viés Inconsciente: Como Identificar Nossos Vieses Inconscientese Abrir Caminho para a Diversidade e a Inclusão nas Empresas (Literare Books) trata disso. Nele, a autora, Cris Kerr, lembra que ao longo da vida gravamos no inconsciente opiniões sobre diferentes grupos – homens, mulheres, negros, brancos, gays, héteros. Elas começam a ser criadas entre 5 e 7 anos, com base no que vemos e ouvimos. Menina brinca disso, menino daquilo, menino não chora, fulano fala “como mulherzinha”. Frases aparentemente bobas, mas que mais tarde podem representar entraves à carreira das mulheres, mesmo em época de valorização da diversidade. “Se duas pessoas estiverem num processo seletivo, qual será contratada? A forte ou a fraca? A emocional ou a racional?”, pergunta Cris. 

Há vieses de afinidade, comportamento, desempenho, percepção, maternidade. Que podem se potencializar se a pessoa se enquadrar em mais de uma categoria estereotipada. Lésbicas negras pobres, por exemplo, podem sofrer discriminação de raça, gênero, classe social, orientação sexual.  “Temos resistência em escolher pessoas diferentes de nós”, explica Cris. E quem contrata tende a preferir alguém parecido, em aparência, gênero, origem. Era da mesma faculdade? Ponto. Tem o mesmo hobby? Mais um. Mesmos valores, crenças, religião? Melhor!  E quando a disputa é pelos cargos mais altos e quem decide são conselheiros brancos de idade parecida? Fica mais fácil entender por que o Brasil tem tão poucas CEOs. “Mulheres estão tão preparadas para a liderança quanto homens”, diz Cris. “Mas é preciso desconstruir crenças e estereótipos.” Como? Reconhecer vieses inconscientes, treinar empresas e promover diversidade de entrevistadores são bons caminhos. Assim como pôr mais mulher em cargo de gestão. A explicação aqui é racional: quanto mais novas referências o cérebro tiver, mais poderá desconstruir preconceitos.

Opinião por Luciana Garbin

Editora no ‘Estadão’, professora na FAAP e mãe de gêmeos.

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