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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Novos rumos para a Mulher-Maravilha

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
 

RODRIGO FONSECA Tem Mulher-Maravilha na fila de lançamentos da DC Comics nos EUA, na capa da esperada "DC RWBY", que chega este mês às gibiterias americanas. Por aqui, acaba de sair um álbum encadernado dela, "Hiketeia", de Greg Rucka e J.G. Jones. Mas... e no cinema? O que será feito da personagem tão bem encarnada por Gal Gadot? Preparando sua volta às telas como a Rainha Má do novo "A Branca de Neve", a atriz israelense pode não retomar sua trajetória como Mulher-Maravilha a julgar pela reestruturação que o cineasta James Gunn está idealizando, no posto de diretor artístico da DC. Esta semana, o vídeo hilário em que Jack Black imita o Homem de Aço ironiza o fato de a Warner Bros. ainda estar à cata de novos rumos para o filho de Krypton. Nas HQs, a mais famosa heroína das HQs, celebrizada nas telonas por Gadot, está bem amparada. No Brasil, a Panini segue publicando suas peripécias em uma revista mensal e em especiais. Um deles, já à venda no https://panini.com.br/ é o encadernado "Grandes Tesouros da DC: Superman vs. Mulher-Maravilha", resgatando um roteiro de Gerry Conway, desenhado por Jose Luis Garcia-Lopez. No streaming, a HBO Max dá espaço nobre ao injustiçado "Mulher-Maravilha 1984" (2020). Sua bilheteria, estimada em US$ 169 milhões, ficou aquém do esperado.

 

Lançado no primeiro ano da pandemia, o segundo longa da personagem com Gadot no papel principal é uma finíssima alegoria política em sua reflexão sobre a gênese de figuras como Donald Trump. O filme fala de magnatas que encontram no exercício do Poder uma satisfação de sua libido de comando. Esse é o lugar simbólico ocupado por Maxwell Lord, empresário que sempre se apresenta como uma estrela da TV e vai, minuto a minuto, depurando sua sordidez em prol de um projeto de controle, sem perder um quinhão de humanidade em sua relação com o filho. Na trama, ambientada na década de 1980, ele se apossa de um minério mágico, capaz de realizar as vontades alheias, roubando as forças e certas virtudes de quem atende, abrindo um desequilíbrio global que só a Princesa das Amazonas (Gadot, uma piscina olímpica de carisma) pode deter. Todo o tempo, Diana arrasta um fardo em relação ao conceito de "verdade", em função de um erro que cometeu na infância, e Lord se põe diante dele como sendo alguém que traduz o oposto da veracidade, ao vender ilusões, ao apostar na mentira. A monumental atuação do chileno Pedro Pascal já garantiria à figura uma potência humanista tridimensional. Mas há na direção de Patty Jenkins - que também dirigiu o "Wonder Woman" original, de 2017, e volta mais requintada agora, em sua depuração formal - um esforço de se abrir diferentes dimensões de caráter e afeto em todos os personagens. É um modo de fugir do maniqueísmo. numa marca (autoralíssima) da cineasta, ativa desde seu primeiro filme de sucesso: "Monster - Desejo Assassino" (2003), no qual sulca camadas que relativizam as ações mais nefastas de seus personagens. Mais do que construir uma instância alegórica a partir da realidade governamental dos EUA do trumpismo, Patty é feliz ainda numa revisão dos códigos da cartilha dos filmes de super-herói, numa explícita homenagem ao cult "Superman, O Filme" (1978), de Richard Donner, não apenas na trilha sonora de Hans Zimmer como nas sequências de Diana (alter ego da Mulher-Maravilha) aprendendo a voar.

Gal Gadot foi dublada por Flávia Saddy no Brasil, no papel da Princesa das Amazonas, dona do Laço da Verdade  

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Há um terceiro ponto de excelência narrativa nessa superprodução. É o afinado diálogo do roteiro escritor por Patty, Dave Callaham e Geoff Johns com as HQs dos anos 1980, quando a DC Comics (a maior rival da Marvel no mercado editorial de gibis) revitalizou suas heroínas e heróis, realçando fraquezas de modo a atenuar seres antes celebrizados por seus poderes. Como espetáculo audiovisual, esta "parte dois" das aventuras de Diana tem uma altíssima voltagem de ação, numa montagem eletrizante, mas atenta a situações irônicas, como o divertido processo de reeducação de Steve Trevor (Chris Pine, em impecável atuação) desaparecido na I Guerra e resgatado em 1984, tendo que aprender como se vestir numa época em que pochete era moda. Que Patty tenha a chance de dirigir a amazona uma vez mais.

p.s.: Esta noite, o Estação NET Botafogo, no Rio de Janeiro, exibe "O Som ao Redor", em cópia restaurada, na presença de seu realizador, Kleber Mendonça Filho, pra debater os dez anos de estreia comercial desse cult.

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